A nomeação dos últimos novos ministros do futuro governo reforça o desenho do governo Lula 3. É um ministério que soma quem foi leal a Lula nos piores momentos da Lava Jato e quem pode ser útil no futuro próximo governo, especialmente no Congresso. Esse é o grau da amplitude do novo governo. Assim como a Argentina era Messi e mais dez, o novo governo é Lula e mais 37 ministros.
Lula acredita que o sucesso ou fracasso do novo governo depende dele, não de nenhum ministro. Não haverá superministro. O poder de todos – inclusive os quatro ex-candidatos a presidente e agora ministros Geraldo Alckmin, Fernando Haddad, Simone Tebet e Marina Silva – é apenas uma concessão do novo presidente.
O vice Geraldo Alckmin, que entrou na chapa imaginando que seria um copresidente, será um ministro da Indústria sem ter o direito de indicar o dirigente da sua principal estatal, o BNDES que será comandado por Aloizio Mercadante.
O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi fundamental na vitória de Lula com seus 45% de votos o Estado de São Paulo, mas assistiu sem poder reagir a Lula gerar um conflito inútil com o mercado financeiro. Haddad perdeu a indicação do presidente da Petrobras e assistiu Mercadante montar no BNDES uma diretoria com claro viés de ‘plano B’ à sua gestão.
Importante apoio do segundo turno, Simone Tebet achou que seria ministra da principal marca social da nova gestão, o Bolsa Família, e terminou como ministra do Planejamento, cargo que nunca quis aceitar e onde estará na prática subordinada a Fernando Haddad.
Símbolo mundial de preservação da Amazônia, Marina Silva foi submetida a um constrangimento público ao ser a última opção de Lula para voltar ao Ministério do Meio Ambiente.
É assim que funciona o lulacentrismo.
Os cargos que importam estão com lulistas convictos: Haddad na Fazenda, Rui Costa na Casa Civil, Alexandre Padilha na Secretaria de Relações Institucionais, Flávio Dino no Ministério da Justiça, Wellington Dias no Desenvolvimento Social e Jaques Wagner na liderança do governo no Senado. Este é o núcleo do poder.
Os ministérios restantes, incluindo os do MDB, PSD, União Brasil, PDT e PSOL, vão garantir ao novo governo uma base de 250 a 270 deputados e 40 a 45 senadores, o suficiente para aprovar leis ordinárias, deixando acordos pontuais com Arthur Lira para emendas constitucionais.
Deve-se ressaltar que Lula foi o primeiro presidente eleito obrigado a ter de negociar um orçamento ao mesmo tempo que montava seu ministério. Essa circunstância obrigou o presidente oferecer 10 pastas para o União Brasil, MDB, PSD e PDT. Alguns nomes são fracos.
Mas tudo é perspectiva. Se comparado ao ministério de Bolsonaro, Lula poderia ter indicado uma matilha de chihuahuas e ainda assim eles causariam menos estrago que Damares Alves, Eduardo Pazuello, Ricardo Salles, Abraham Weintraub, Augusto Heleno e Onyx Lorenzoni. Quando Lula indica a presidente da Fiocruz Nísia Andrade para a Saúde, o advogado Silvio Almeida para os Direitos Humanos ou Marina Silva para o Meio Ambiente a diferença de qualidade é evidente.
Será fácil para Lula mostrar em poucos meses um avanço sobre gestão atual, como mostra o relatório da equipe de transição em áreas como saúde, educação e meio ambiente. Ao longo da gestão Bolsonaro, o acompanhamento da vacinação infantil caiu de 68% para 45%, 40% dos dados no Cadastro Único para Programas Sociais estão desatualizados, o tempo médio para concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) subiu de 78 para 311 dias, e há 580 mil na fila de espera, o Brasil voltou ao Mapa da Fome das Nações Unidas, e mais 5,8 milhões passaram a viver em condição de extrema pobreza, levando o total a quase 18 milhões (8,4% da população) e o desmatamento da Amazônia aumentou 60%.
Lula montou uma equipe não a sua imagem, mas às suas necessidades, sejam elas de confiança, sejam as de governabilidade.