Os juros vão cair nos Estados Unidos e subir no Brasil nesta quarta-feira, 18, nas reuniões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) e do Fed, o banco central americano. As decisões em sentidos opostos mostram não apenas momentos diferentes — a economia dos EUA está em retração, enquanto a do Brasil roda em pleno emprego — como a força de duas transições no Brasil. A primeira, visível a todos, é o início de um novo ciclo de alta de juros depois de treze meses de cortes e estabilidade.
A segunda transição, mais complexa e subterrânea, é a troca de comando entre o presidente que encerra seu mandato em 31 de dezembro, Roberto Campos Neto, e aquele que dará início a um novo, em 1º de janeiro, Gabriel Galípolo.
Paradoxalmente, Campos Neto, indicado por Bolsonaro, prefere um ciclo de alta menos intenso, iniciando com 0,25 ponto percentual. Precisando mostrar sua autoridade junto ao mercado financeiro, Galípolo — nomeado por Lula — defende um caminho mais agressivo, para não ter que manter o ciclo de alta ao longo de 2025, quando assumir a direção da política monetária. Com Galípolo, o mal se faz de uma vez.
Prestes a deixar o cargo, Campos Neto prefere acompanhar o que vai acontecer com os juros dos EUA para tomar as próximas decisões no Brasil. Com quatro anos de mandato à frente, Galípolo enxerga a economia do Brasil crescendo no limite, com pleno emprego e inflação altista, possivelmente agravada pela seca histórica — a receita clássica de intervenção do BC.
Será curioso acompanhar a reação do PT ao voto pró-alta de juros de seu indicado a presidente do BC.
As falas contraditórias entre Campos Neto e Galípolo nas últimas semanas refletem as diferenças de timing, de estilo, de avaliação sobre o momento econômico e um tanto de vaidade. Todas as vezes que o futuro presidente deu palestras indicando sua preocupação com a inflação, o atual fez, logo em seguida, intervenções para mostrar sua discordância.
As divergências entre Campos Neto e Galípolo já provocaram o pior momento do BC no último ano, quando no Copom de maio os cinco diretores ligados ao primeiro votaram de um jeito e os quatro ligados ao segundo votaram de outro. O mercado enxergou uma politização no BC e todas as perspectivas econômicas para o Brasil pioraram. Os dois lados perderam.
A partir de então, houve um acordo não escrito de que as decisões do BC passariam a ser por unanimidade. A divergência interna segue liberada, mas há uma tendência para que todos apoiem o lado vencedor. Essa unanimidade na votação tende a se repetir no Copom desta quarta-feira.
A dúvida é a mensagem do comunicado, o texto explicativo divulgado junto com a decisão dos juros. Para iniciar um ciclo de alta, o BC precisa detalhar os motivos da mudança de rumo (afinal, houve cortes sucessivos de juros de agosto de 2023 até maio deste ano) e dar uma direção sobre o tamanho e a intensidade do ciclo. Campos Neto e Galípolo têm discordâncias nesses dois pontos.