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Séries Clássicas: a Cidade Nua e suas Histórias

A série “Cidade Nua” é uma das produções que revolucionaram a história da TV americana ao combinar a narrativa processual com o desenvolvimento psicológico de personagens vivendo situações que discutiam questões sociais. Até então, as séries policiais seguiam a cartilha estabelecida por “Dragnet”, outra produção que definiu o gênero introduzindo uma narrativa semidocumental, que eliminava […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 5 jun 2024, 13h04 - Publicado em 28 nov 2010, 12h33

A série “Cidade Nua” é uma das produções que revolucionaram a história da TV americana ao combinar a narrativa processual com o desenvolvimento psicológico de personagens vivendo situações que discutiam questões sociais. Até então, as séries policiais seguiam a cartilha estabelecida por “Dragnet”, outra produção que definiu o gênero introduzindo uma narrativa semidocumental, que eliminava o envolvimento pessoal ou emocional dos personagens em relação aos casos que investigavam. Quando “Cidade Nua” surgiu, adotou a linguagem semidocumental, mas a utilizou como apoio para narrar histórias com desenvolvimento psicológico.

Ao introduzir esse tipo de narrativa, “Cidade Nua” unificou o formato seriado e aquele explorado pelos teleteatros da época. Na década de 1950, as séries eram consideradas produções de ‘fácil digestão’. Eram programas populares, com roteiros simplificados e didáticos, que exploravam a relação herói x bandido como uma forma de entretenimento. Para conquistar a crítica e o segmento intelectual, a televisão começou a produzir teleteatros, que adaptavam obras da literatura ou do teatro, além de oferecer roteiros originais, que tinham como principal objetivo explorar personagens mais complexos.

Chamado pela crítica da época como drama legítimo, o teleteatro imperou ao longo da década de 1950. Mas seu alto custo, a audiência limitada a um segmento, e os perigos de abordar um conteúdo polêmico fizeram com que as séries dedicadas ao entretenimento se multiplicassem. Ao ser produzida, “Cidade Nua” uniu o drama processual policial, no qual detetives investigam crimes e prendem bandidos, com o ‘drama legítimo’, ao incluir personagens mais complexos. Apenas a série “Alfred Hitchcock Apresenta” tinha explorado essa abordagem, com uma narrativa antológica (sem personagens ou situações fixas).

Tal qual “Alfred Hitchcock Apresenta”, na série “Cidade Nua”, o ‘bandido’ era o personagem principal. A cada semana, a história apresentava a vida de uma pessoa que, por opção ou por acidente, comete um crime. A diferença ficava por conta do fato de que esta produção não era antológica. Para garantir um porto seguro, as histórias mantinham personagens fixos, que representavam a lei e a ordem diante do caos no qual viviam os personagens convidados.

James Franciscus (E) e John McIntire (Foto Reprodução)

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A série influenciou o gênero policial, fazendo surgir uma segunda linha narrativa, a qual é utilizada até os dias de hoje. A abordagem proposta por “Cidade Nua” abriu as portas para produções como “Além da Imaginação”, “Os Intocáveis” e “Os Defensores”, para citar apenas as primeiras produções da década de 1960, período no qual as séries dramáticas da televisão passaram a explorar uma narrativa de cunho mais social, questionando os direitos e deveres do cidadão e do estado, com personagens mais complexos. Entre elas,  “Os Defensores/The Defenders”, que fez pelo gênero de tribunal o que “Cidade Nua” tinha feito pelo drama policial.

A produção tem origem no trabalho do fotógrafo Usher Felling, mais conhecido pelo nome artístico de Wegee. De origem austríaca, a família de Felling se mudou para Nova Iorque na década de 1920. Apaixonado por fotografia, ele se dedicou a essa área, enfatizando o lado cruel e humano da vida da cidade. Em 1945, publicou o livro “Cidade Nua/Naked City”. A obra apresentava fotos de Nova Iorque em meio a seu glamour e sua pobreza, representados por close-ups ou cenas do cotidiano, vistas através de distorções óticas, que se tornariam sua marca.

O sucesso do livro inspirou a produção do filme noir “Cidade Nua”, de 1948, com o qual o fotógrafo não chegou a se envolver. A crítica aponta o filme como a primeira produção americana a retratar o neorrealismo europeu explorado por diretores como Roberto Rossellini e Vittorio de Sica.

Apresentando uma trama policial com narrativa semidocumental, o filme não chegou a agradar o público da época, mas chamou a atenção do produtor Herbert B. Leonard, que comprou os direitos da obra para adaptá-la para uma série de TV. O roteiro ficou a cargo de Stirling Silliphant, que seguiu a mesma estrutura da versão cinematográfica, incluindo o fato de ter sido filmada em externas.

Paul Burke, Ruth Roman (C) e Zina Bethune (Foto Reprodução)

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Tendo a cidade de Nova Iorque como personagem da trama e o departamento policial como apoio, a série introduziu a cada episódio um elenco de atores convidados, que ficaram responsáveis por comandar as histórias. A compaixão, o egoísmo, a loucura, o amor, o ódio, a vingança e o perdão serviram como base para cada roteiro. O crime cometido era apenas uma consequência. Os motivos que levavam a pessoa a cometer um crime é que eram importantes.

Inspirada em casos reais, a série estreou no dia 30 de setembro de 1958, com episódios de meia-hora de duração. James Franciscus interpretava o detetive Jim Halloran, casado com Janet (Suzanne Storrs). Seu superior era o Tenente Dan (John McIntire) e seu colega, o oficial Frank Arcaro (Harry Bellaver).

Com 39 episódios produzidos para a primeira temporada a série não chegou a conquistar uma grande audiência nem tampouco a crítica. Muitos acusavam a produção de não respeitar o formato das séries, nas quais as histórias giravam em torno do elenco fixo. Ao introduzir histórias em que o convidado especial era o personagem principal, parte da crítica atacou a série por tentar se fazer passar por teleteatro e, o que era pior, exaltando os ‘desajustados’.

Nos bastidores, a produção passava por problemas. Por ser totalmente filmada em externas, equipe e atores estavam sujeitos ao clima, ao aval da prefeitura de Nova Iorque, ao trânsito (que muitas vezes não poderia ser fechado) e à população em geral. Muitas cenas eram gravadas de madrugada ou ao amanhecer, para evitar maiores problemas.

Financeiramente independente e acostumado às comodidades das filmagens dentro de um estúdio, John McIntire não aguentou, decidindo deixar o elenco antes do fim de seu contrato. O ator avisou a produção, oferecendo-se para gravar um episódio no qual seu personagem seria retirado da trama.

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Após negociações, o ator gravou a cena em que o Tenente Dan leva um tiro e é morto em uma explosão quando seu carro bate em um caminhão de gasolina. Com isso, “Cidade Nua” entraria para a história como a primeira série na qual uma explosão é produzida e na qual um personagem fixo é assassinado. Para substituí-lo, entrou o ator Horance McMahon, que interpretou o Tenente Mike Parker.

Nesse meio tempo, os produtores tentavam transformar a série em um drama de 50 minutos. Procurando convencer os executivos da Columbia a entenderem que “Cidade Nua” era uma produção que desenvolvia personagens e não uma série de ação e aventura, os produtores conseguiram apenas que o canal ABC a cancelasse . A baixa audiência, as dificuldades e custos de filmagens externas, a saída de McIntire (na época um nome de peso), e os ataques de críticos de importantes veículos fizeram com que a produção se tornasse um produto indesejável para o canal.

Mas o patrocinador era fã de “Cidade Nua”. Na época, a venda de espaços publicitários era feita por blocos de horários. O principal patrocinador do horário era a empresa de tabaco Brown & Williamson, subsidiária da British American Tobacco, uma das maiores companhias de cigarro, responsável pela marca Luke Strike. Unindo-se aos produtores, a empresa convenceu a ABC a voltar a produzi-la, dando-lhe os 50 minutos por episódio que os roteiristas pediam.

“Cidade Nua” voltou a ser produzida em 1959, mas a segunda temporada somente estreou em 1960. Por isso, perdeu mais um dos atores principais: James Franciscus. Com o cancelamento da série, James foi contratado para estrelar o piloto de uma nova sitcom chamada “Band of Gold”, produzida por Norman Lear. Infelizmente, para o ator, a CBS envagetou o projeto após a produção do piloto, que foi exibido em 1961 dentro do teleteatro “G.E. Theatre”.

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No lugar de James Franciscus entrou Paul Burke, interpretando um novo personagem: o detetive Adam Flint, que namorava uma aspirante a atriz, Libby (Nancy Malone). Para agradar os críticos, a produção decidiu dar mais ênfase aos personagens fixos, incluindo situações cômicas, dramáticas e românticas, além de fazê-los interagir mais com os atores convidados. Mesmo assim, eles continuavam a ocupar uma posição de coadjuvantes das histórias.

Por curiosidade, quando a série estreou no Brasil, o formato de meia hora de duração recebeu o título de “Passos da Lei”. Mais tarde, quando os episódios de uma hora de duração chegaram, o título em português passou a ser o mesmo do original, “Cidade Nua”.

Quando o novo formato estreou na TV americana, conseguiu conquistar o público e a crítica. Em 1963, a série registrava cerca de 34% da audiência de seu horário. Mesmo assim, “Cidade Nua” foi cancelada após quatro temporadas e 138 episódios produzidos no total. A notícia foi dada aos atores dois dias após a divulgação dos indicados ao prêmio Emmy, no qual a série conquistara nove nomeações.

Até hoje ninguém sabe os motivos que levaram a série a ser cancelada. Em entrevista ao fanzine The TV Collector, publicada em 1986, Paul Burke disse que o cancelamento teria ocorrido como resultado da disputa entre dois executivos da Columbia, que lutavam pelo comando.

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“Cidade Nua” é uma das mais influentes séries policiais da história da TV americana. Além de sua contribuição para o formato seriado e para o gênero policial, a série também promoveu o surgimento de dezenas de atores novatos que, na época, lutavam ‘por um lugar ao sol’.

Tal como “Lei & Ordem” faria na década de 1990, “Cidade Nua” recebeu a contribuição da classe artística teatral de Nova Iorque. Passaram por ela nomes como Robert Redford, Martin Sheen, Dustin Hoffman, John Voight, Carroll O’Connor, Robert Duvall, Peter Falk, Suzanne Pleshette, George Segal, William Shatner, Christopher Walken, Diane Ladd, Dennis Hopper, Peter Fonda, Alan Alda, Jack Warden, George C. Scott, James Coburn, Gene Hackman, Shirley Knigh e outros, todos em início de carreira.

Paul Burke, Nancy Malone e Horance McMahon (Foto Reprodução)

Entre os nomes já conhecidos na época, que também marcaram presença, estão Walter Matthau, Roddy McDowall, Geraldine Fitzgerald, Claude Rains, Eli Wallach, Burgess Meredith, Mickey Rooney, Viveca Lindfords, Sylvia Sidney, entre outros.

Apesar de seu valor para a história da televisão, a série ainda não recebeu da Columbia Pictures/Sony o tratamento adequado. Raramente é reprisada na TV, seja nos EUA ou internacionalmente, e nunca foi lançada devidamente em DVD. Entre 2005 e 2006, a Imagine Entertainment chegou a disponibilizar no mercado americano alguns episódios selecionados, distribuídos em três volumes com um total de nove discos. Mas não passou disso.

Tal qual o filme que a precedeu, a série utilizou a narração em seus episódios, a qual se transformou em um personagem à parte. No início de cada história, cabia ao narrador apresentar ao público o personagem que estrelaria o episódio da semana. Relatando seu histórico e sua personalidade, o narrador estabelecia a atmosfera de cada história. Ao final do episódio, a voz do narrador anunciava: “existem oito milhões de histórias na cidade nua…esta foi apenas uma delas”.

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