Review: ‘Toast of London’ – 1ª Temporada

(E-D) Robert Bathurst, Matt Berry e Harry Peacock (Foto: Channel 4)

Entre outubro e novembro, o Channel 4 da Inglaterra exibiu a série Toast Of London, produção criada e estrelada por Matt Berry (The IT Crowd) em parceria com Arthur Matthews. A primeira temporada, já disponível em DVD no mercado internacional, é composta de sete episódios, sendo que o episódio piloto foi exibido em agosto de 2012 para testar a audiência. Ele está disponível na íntegra no YouTube.

A comédia não oferece um ótimo texto ou um grande desenvolvimento de personagens, nem traz um humor escrachado, mas consegue prender a atenção do início ao fim graças ao uso de diferentes linguagens e das situações nas quais o personagem se envolve, que tornam a trama interessante de acompanhar.

A história apresenta a vida de Steven Toast (Berry), um ator de meia-idade que após quase 30 anos ainda não conseguiu se estabelecer na carreira. Formado pela Royal Academy of Dramatic Art (RADA), ele não percebeu que seu estilo de atuação já está ultrapassado. Toast iniciou sua carreira na década de 1970, época em que interpretou um monstro em um episódio de Doctor Who. Atualmente, estrela uma peça que gerou polêmica por ser considerada racista, não tem a menor ideia de quem seja Benedict Cumberbatch, faz narrações de qualquer coisa, bem como dublagens de filmes gays pornôs, além de atuar em comerciais de laxante e em filmes de gosto duvidoso.

Recém divorciado, ele é acolhido por seu amigo, o também ator Ed Howzer-Black (Robert Bathurst, de Downton Abbey e Drácula), que está financeiramente bem, o que o leva a ter uma vida mais tranquila. Sempre vestido de preto, Toast tem um arqui-inimigo. Seu nome é Ray Purchase (Harry Peacock), um sujeito que sempre se veste de branco e se parece com um daqueles vilões de filmes mudos. Ele despreza Toast porque este mantém relações sexuais com sua esposa sempre que surge uma oportunidade. Fascinado por mulheres em uniformes, Toast ainda não conseguiu encontrar ‘a maçã de seus olhos’ ou ‘a azeitona de sua empada’.

Para completar a renda, Toast decide escrever um romance, ao estilo 50 Tons de Cinza. Tentando finalizar a história, ele lê o final de vários livros, entre eles, Howards End. Mas sua grande chance surge no último episódio da temporada, quando ele é chamado para fazer um teste que escolherá o novo James Bond. O episódio faz uma homenagem à franquia dos filmes de 007, com uma abertura típica dos filmes do agente, na qual vemos Toast ‘atirando para tudo quanto é lado’, enquanto mulheres com pouca roupa dançam à sua volta.

A trama também faz referências aos filmes de Bond. Jogando pôquer com Andrew Lloyd Webber (que não aparece no episódio, ele é representado por mãos enluvadas e uma risada sinistra), Toast perde uma considerável fortuna. Devendo para o compositor, ele precisa fugir do cantor Michael Ball (que aparece e dá uma palhinha para os fãs). Todo mundo sabe que Ball é o cobrador de Webber. O problema é que Toast transou com a ex-namorada do cantor por isso, Ball considera sua tarefa de cobrar de Toast sua dívida com Webber uma vingança pessoal.

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Fazendo uso do humor tipicamente britânico, a série acompanha diversas situações embaraçosas, humilhantes e surreais nas quais Toast se envolve na sua luta para ganhar a vida, bem como as diversas tentativas frustradas de arranjar uma namorada. A agente de Toast é Jane Plough (Doon Mackichan), uma mulher que não lhe dá muito crédito pois sabe que ele não é nenhum ator classe A.

Graças a ela, Toast acaba se envolvendo com diferentes tipos que fazem parte do universo artístico. Entre eles, um diretor preso por negar o holocausto judeu, um outro diretor que já matou um ator (mas era coadjuvante, então….), e um outro que odeia o Príncipe Philip e toda a família Real. Ao longo do caminho ele é perseguido por uma stalker, ganha um prêmio de pior ator da Inglaterra, encontra uma agente que já passou por tanta plástica que não consegue mais abrir a boca e é entrevistado por uma jornalista que tem mais de 300 mil seguidores no Twitter (o que a torna uma pessoa importante).

Em paralelo à peça, Toast faz diversos trabalhos de narração e dublagens para um grupo de rapazes que nunca está satisfeito, entre eles, Clem Fandango (Shazad Latif, de My Mad Fat Diary) e Danny Bear (Tim Downie, de This Is Jinsy e Father Figure). Em um dos primeiros episódios, ele tem dificuldades de agradar este grupo na gravação de uma única fala, a qual é formada por uma única palavra: ‘sim’, que precisa ser gravada em diferentes entonações e formas.

Toast e muitas das situações apresentadas na série foram inspiradas em vários atores e nas histórias que Berry escutou de diferentes profissionais do meio ao longo de sua carreira. Somando sua própria experiência como compositor, cantor, comediante, narrador e dublador, Berry, em parceria com Matthew, construiu diversas cenas que trabalham os estilos de comédia física, verbal (com jogos de palavras) e sociocultural, com situações que satirizam o comportamento humano, em especial o do universo artístico.

A série faz uso de símbolos e gags típicas da comédia, utilizando a linguagem teatral (como quando vemos um cenário quase vazio formado por poucos objetos de cena em um dos episódios ou a presença de uma personagem feminina interpretada por um homem), e a linguagem de videoclipe, com a inserção de números musicais ao longo da trama, com canções originais que expressam os sentimentos do personagem sempre que ele chega ao seu limite.

Elas funcionam como uma forma de evitar que ele perca a paciência com as pessoas que estão à sua volta. Em um dos números musicais, a série chega a quebrar a quarta parede, revelando rapidamente os bastidores da cena. Os números musicais variam em estilos, fazendo referências a diferentes épocas. As músicas não são longas, geralmente restritas a um trecho ou refrão. Por vezes, quando Toast encontra Ray, a câmera brinca com os personagens, dando-lhes closes dramáticos que parecem antigas novelas mexicanas.

Toast of London já foi renovada para sua segunda temporada, que estreia no Reino Unido em 2014.

A série é uma produção da Objective Productions, com distribuição do Channel 4.