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Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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Primeiras Impressões: ‘The River’

The River, nova aposta do canal ABC, estreou conquistando a média de 7.5 milhões de telespectadores, 2.4/6 de rating/share entre o público alvo do anunciante (18-49 anos). Veja como fazer a leitura dos números da audiência aqui. Em geral, é necessário a exibição de três a quatro episódios para que o canal tenha uma ideia da […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 09h32 - Publicado em 12 fev 2012, 14h43

(E-D) Joe Anderson, Paulina Gaitan, Paul Blackthorne, Bruce Greenwood, Daniel Zacapa, Shaun Parkes, Thomas Kretschmann, Leslie Hope e Eloise Mumford. (Fotos: ABC/Bob D’Amico)

The River, nova aposta do canal ABC, estreou conquistando a média de 7.5 milhões de telespectadores, 2.4/6 de rating/share entre o público alvo do anunciante (18-49 anos). Veja como fazer a leitura dos números da audiência aqui. Em geral, é necessário a exibição de três a quatro episódios para que o canal tenha uma ideia da audiência média que se estabelece em torno de uma nova produção ou temporada. Os números de estreias costumam revelar o interesse do público americano por aquela produção, naquele  determinado momento. Pelo resultado obtido (audiência ao vivo), The River parece não despertar um grande interesse do público.

The River é uma nova produção de suspense e terror que tenta conquistar um segmento o qual vem sendo explorado com sucesso pelos canais AMC, com The Walking Dead, e FX, com American Horror Story. Ambas da TV a cabo, que costuma produzir um número menor de episódios por temporada, estreando as duas produções no período do Dia das Bruxas. Mas tal como foi visto na primeira temporada de American Horror Story, a série The River é uma produção que está presa às diversas referências do gênero, o que levanta dúvidas quanto a sua capacidade de desenvolvimento próprio.

O texto abaixo pode conter Spoilers.

As referências mais diretas são as de estéticas, com os filmes A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal. Em termos de enredo, é possível distinguir influências de Apocalipse Now, filme de 1979, que por sua vez era uma adaptação da obra de Joseph Conrad, Heart of Darkness. Deixemos de lado o fato de que a produção é uma das obras de artes do cinema americano e nos foquemos no enredo. No filme, um oficial no Vietnã recebe a missão de localizar e eliminar um Coronel renegado que agora posa como um Semideus da região, fazendo ameaças aos governos. Ao longo de sua jornada de barco, o oficial e seu grupo encontra pelo caminho personagens que sucumbiram à loucura da guerra e aos horrores do ambiente.

Na série, um grupo de resgate, liderado por mãe (Leslie Hope) e filho (Joe Anderson), tenta localizar Emmet (Bruce Greenwood), o apresentador de um reality show, e seu cinegrafista, que há meses desapareceram na Amazônia brasileira. Durante a viagem de barco eles entram em contato com as superstições e o folclore da região, além de encontrarem sinais que indicariam que os dois ainda estão vivos. Sem que todos saibam, um dos membros do grupo tem uma missão secreta: eliminar Emmet caso ele tenha descoberto ‘a fonte’ (mistério a ser resolvido ao longo da série).

Um dos pontos centrais da trama é a obsessão de Emmet pelo conhecimento em torno da magia que se esconde na selva. Se as referências ao filme continuarem, o grupo terá de encontrar Emmet posando como Semideus de alguma tribo indígena. Afinal, se ele descobriu uma forma de dominar a magia, com certeza sua mente já não é mais a mesma.

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Além de mãe e filho, o grupo de resgate é formado por um produtor (Paul Blackthorne) e um cinegrafista (Shaun Parkes) do reality show que era apresentado por Emmet, que agora buscam material para a nova temporada do programa; Lena (Eloise Mumford), a filha do cinegrafista que desapareceu junto com Emmet; Kurt (Thomas Kretschmann), um oficial do exército que atua como segurança do grupo; Emilio (Daniel Zacapa), o mecânico de barco que costumava trabalhar para Emmet, mas que foi dispensado em sua última viagem, e a filha deste, Jahel (Paulina Gaitan).

Segundo informações da produção, Emílio esteve preso antes de se unir à tripulação de Emmet, e a filha passou a maior parte de sua vida no barco com o pai. Supõe-se que sejam mexicanos e daí falarem espanhol em território brasileiro (informações incluídas como adendo ao texto após publicação).

Nenhum dos personagens é bem construído ou consegue atrair o interesse por muito tempo. Mas entre eles, a relação entre Emmet e seu filho Lincoln é o que chama a atenção e estabelece uma identificação com público.

Tendo crescido à sombra do pai, Lincoln demonstra não ter apreciado o estilo de vida que Emmet lhe proporcionou. Boa parte de sua infância foi passada em lugares exóticos, em meio a animais selvagens; a outra parte foi passada em cidades americanas, com a mãe, quando esta não acompanhava o marido.

Ele é o primeiro a aceitar a morte de Emmet e a querer seguir em frente com sua própria vida. Mas a mãe o impede, forçando-o a abandonar tudo para voltar a um estilo de vida que não deseja seguir para localizar uma pessoa com quem não tem um bom relacionamento. Para piorar, ele precisa expor-se constantemente às câmeras do reality show de seu pai, responsável por escrutinar sua infância e destruir a vida em família que ele desejava ter.

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Emmet era o apresentador de um programa sobre vida selvagem e lugares exóticos chamado The Undiscovered Country, expressão popularizada por Hamlet ao fazer referência à morte. Coincidentemente ou não, a pronúncia do nome de Emmet é parecida com a do personagem de Shakespeare. Mas é o filho do apresentador que parece carregar as mesmas características do personagem clássico, deixando Emmet na função do fantasma do pai. Lincoln é um jovem atormentado que acusa a mãe de trair o pai, o que teria forçado Emmet a buscar refúgio no trabalho, afastando-o de sua família. Agora o ‘fantasma de Emmet’ o força a descobrir a verdade sobre ele, e na esteira, sobre sua mãe.

Lena, a filha do cinegrafista desaparecido, cresceu com Lincoln, mas mantém alguns segredos. Era com ela que o apresentador mantinha contato antes de desaparecer. Aos poucos, conforme as exigências dos roteiros, ela vai revelando os temas abordados nas conversas que teve com Emmet.

A história é narrada em dois tempos: presente e passado, ambos através de imagens captadas por câmeras. No tempo presente, a história é vista pelo telespectador através das câmeras que acompanham os personagens, seja pelas mãos dos cinegrafistas que fazem parte do grupo, seja pelas câmeras espalhadas em pontos estratégicos no barco em que viajam.

O tempo passado é apresentado ao público através de imagens que fizeram parte do programa apresentado por Emmet, desde a época em que Lincoln e Lena eram apenas crianças. As cenas são exibidas como se fizessem parte de um documentário, o que levanta a dúvida no telespectador se o que ele está vendo está de fato ocorrendo, ou se já é o programa final editado e em exibição, sobre o resgate de Emmet. Outras cenas que fazem parte da série são aquelas deixadas para trás por Emmet, as quais revelam seus últimos momentos antes do desaparecimento. Mas como as fitas não trazem identificação ou uma ordem, elas são vistas aleatoriamente.

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The River é uma alternativa para quem está cansado de assistir apenas séries dramáticas familiares-médicas-policiais-jurídicas. O ambiente proposto pela série é bom. A trama exige movimento contínuo, que permite desvendar segredos a cada episódio, enquanto leva o telespectador a descobrir a existência de novos mistérios, os quais resgatam, ou tornam conhecidos, o folclore e as superstições da região. É fato que a situação de Emmet não pode permanecer um mistério por muito tempo, caso contrário, a história se desgasta.

Mas o problema da série é a rapidez com a qual ela foi construída. Com exceção da família de Emmet, os demais personagens apresentados são vazios e sem personalidade, sustentando apenas características. Os atores também não ajudam. Sem conseguir se estabelecer de imediato, os membros do grupo terão que se esforçar muito para que, nos próximos episódios, possam se estabelecer como pessoas reais. A pior de todas é Jahel, filha do mecânico do barco, que só fala em espanhol. Incluída na trama para ser ‘o oráculo’ da expedição, ela compromete a credibilidade do grupo e da própria história.

Além da construção de personagens, os diálogos da série também são sofríveis. Acentuando o óbvio,  eles descrevem o que está sendo visto ou o que pode ser perfeitamente entendido pela sequência da ação e desdobramento da situação.

As soluções propostas para as situações nas quais o grupo se envolvem também são fracas. Percebe-se que o roteirista ‘forçou a mão’ para que a história pudesse seguir em frente. Desta forma, o grupo assimila rapidamente o que está acontecendo, fazendo surgir qualquer solução para ultrapassar um obstáculo, que funciona na primeira tentativa. Para piorar, não há qualquer esforço de oferecer um desenvolvimento psicológico dos personagens diante da situação em que se encontram.

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Este tipo de roteiro leva a uma fórmula que poderá se repetir ao longo dos próximos episódios. Já nos dois primeiros é possível distinguir uma situação que poderá se tornar recorrente, visto que cada episódio se propõe a apresentar um novo obstáculo para o grupo, com base e um folclore. No piloto, o grupo depara-se com a lenda do Corpo Seco, um espírito maligno que vaga pela Terra. Emmet, antes do grupo, encontrou uma forma de aprisionar esse espírito, livrando-se dele. Mas, quando o grupo chega, inadvertidamente liberta este espírito. A solução: Lincoln repete a ação do pai.

No segundo episódio eles encontram a Árvore dos Espíritos, que consiste em uma árvore com bonecas e animais de pelúcia pendurados para afastar maus espíritos (no filme Apocalipse Now víamos cabeças presas a estacas). Depois de desprender um dos bonecos da árvore, Lincoln abre caminho para o perigo. A solução: repetir a ação do pai, pendurando o brinquedo na árvore. A própria ideia de oferecer um obstáculo e folclore por episódio já é uma fórmula, que prende o desenvolvimento da história proposta. Portanto, não há necessidade de se repetir ações e soluções.

A julgar pelos dois primeiros episódios, The River terá problemas para conseguir estabelecer uma boa audiência. Além de seu desenvolvimento precário, a exploração de folclore que não diz respeito à cultura americana também é um obstáculo. Magia negra, superstições e folclore latino nunca sustentaram um seriado americano, apenas episódios. Arquivo X chegou perto, oferecendo epsiódios soltos que exploravam o folclore de outras culturas, mas seu tema principal era a conspiração do governo para esconder a existência de vida alienígena. The River não tem um ponto fixo e palpável que possa seduzir o público americano, o que permitiria que os roteiristas viajassem por outros temas ou culturas.

The River é como um filme classe B de terror. Seu episódio piloto foi filmado em Porto Rico, os demais no Havaí. A primeira temporada tem um total de oito episódios.

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Por Fernanda Furquim: @Fer_Furquim

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=Ih_LRU2pbXo&w=620&h=330%5D

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