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Nova Temporada

Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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Hal Kanter (1918-2011)

Roteirista, produtor e diretor, criador da sitcom “Júlia”, Hal Kanter faleceu no dia 6 de novembro, aos 92 anos de idade, vítima de complicações decorrentes de pneumonia. Nascido no dia 18 de dezembro de 1918, Kanter era filho de um imigrante russo, que o apresentou à literatura clássica. Aos 11 anos de idade, ele começou a […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 31 jul 2020, 10h14 - Publicado em 8 nov 2011, 11h25

Hal Kanter em 2006

Roteirista, produtor e diretor, criador da sitcom “Júlia”, Hal Kanter faleceu no dia 6 de novembro, aos 92 anos de idade, vítima de complicações decorrentes de pneumonia.

Nascido no dia 18 de dezembro de 1918, Kanter era filho de um imigrante russo, que o apresentou à literatura clássica. Aos 11 anos de idade, ele começou a escrever matérias informativas sobre as atividades dos escoteiros, do qual fazia parte, publicadas pelo jornal Miami Herald.

Aos 14 anos era escritor freelancer, que escrevia charges e quadrinhos publicados em diversos jornais. Aos 18 anos, começou a trabalhar como escritor fantasma de cartunistas, função que o levou a Hollywood onde, mais tarde, arranjou emprego em uma rádio. Neste veículo, escreveu diversos textos para programas de variedades, entre eles o de Bing Crosby.

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Prestando serviço militar, Kanter fez parte do grupo de soldados que ergueu uma estação de rádio militar em Guan, para a qual criou diversos programas de entretenimento. Dispensado do exército, Kanter voltou para Hollywood onde, na década de 1950, começou a escrever esquetes em programas de variedades da TV. Em 1964 ele criou a série “Valentine’s Day”, estrelada por Tony Franciosa, que teve apenas uma temporada produzida.

Mas ele ficaria conhecido pela série “Júlia“, que estreou na TV americana em 1968. Esta foi a primeira sitcom estrelada por uma mulher de cor exercendo uma profissão que fugia do estereótipo de empregada.

Em meados da década de 1960, a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), organização de apoio à comunidade negra, começou a se aproximar de Sindicatos, entre eles, o dos roteiristas. Fazendo lobby, eles conseguiram influenciar diversos meios a abraçar a causa dos afro-americanos, que neste período saíam às ruas pedindo igualdade social.

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Lloyd Nolan e Diahann Carroll em “Júlia”

Desta forma, diversos atores negros ganharam mais espaço nas séries de TV, geralmente interpretando coadjuvantes ou fazendo participações especiais.

Em 1965, “Os Destemidos/I Spy” se tornou a primeira produção estrelada por um negro e um branco em pé de igualdade.

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Kanter decidiu aproveitar este momento para criar “Júlia”. Sendo um homem liberal, ele já tinha produzido a série radiofônica “Beulah”, que tinha como personagem principal uma empregada negra de uma família branca. A série migrou para a televisão em 1950, ficando no ar até 1953.

“Júlia” era estrelada pela cantora e atriz Diahann Carroll, que interpretava uma viúva de um soldado morto no Vietnã. Tendo um filho de seis anos para criar, ela resolve voltar a exercer sua profissão: enfermeira. Arranjando um emprego na clínica média da Astrospace Industries, ela mantém uma vida de classe média.

Kanter ofereceu o projeto para a NBC que aprovou a produção da série, segundo dizem, apenas para cumprir com seu dever cívico. A rede programou a série para concorrer com o humorístico “The Red Skelton Show”, programa muito popular na época, acreditando que “Júlia” fracassaria junto à audiência. Para surpresa de todos, a sitcom figurou entre as dez maiores audiências da temporada. Durante sua produção, a série gerou diversos produtos agregados, entre eles bonecas de plástico, de papel e lancheiras.

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Com a popularidade vieram as críticas. A série foi atacada por ‘clarear a mulher negra’, transformando-a em uma pessoa branca da classe média, passando ilesa pelas questões sócio-culturais que envolviam a comunidade negra. Morando, trabalhando e estudando em uma comunidade predominantemente branca, Júlia e seu filho não eram vítimas de racismos. Kanter defendia sua obra alegando se tratar de uma sitcom que tinha como objetivo mostrar a forma como todos poderiam aproveitar o sonho americano.

A abordagem irônica e sarcástica somente surgiria nas sitcoms na década de 1970, com produções como “Tudo em Família”, série que abriria as portas para “Um Amor de Família” e “Os Simpsons”. Nesta época, o humor era mais ingênuo e idealista. Como por exemplo no episódio piloto, quando Júlia se candidata a um emprego. Apresentando seu currículo e descrevendo suas qualidades, ela menciona ser negra. O Dr. Chagley então lhe pergunta: “você sempre foi negra ou apenas quer ficar na moda?”

Diahann Carroll e Hal Kanter em 2006

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Apesar das críticas, a série se transformou em uma produção importante para a história da televisão. “Júlia” mostrou à audiência que uma mulher negra era igual a qualquer mãe e profissional branca que trabalha fora, sujeita a sofrer os mesmos dilemas e dificuldades pelos quais a maioria das mulheres passam até os dias de hoje.

A série explorou a rotina de vida de Júlia, que tentava equilibrar sua vida profissional com a pessoal, mantendo suas relações de amizade e namoros ocasionais. Desta forma, “Júlia” mostrou ao público como poderia ser a vida de uma pessoa de cor caso existisse igualdade social.

“Júlia” foi produzida por três temporadas, mantendo uma boa audiência ao longo de sua exibição. No entanto, nos bastidores, Diahann sofria com as controvérsias. O estresse levou a atriz ao hospital em, pelo menos, duas ocasiões. Desta forma, ao final da terceira temporada, Diahann decidiu deixar a produção, que foi cancelada pela NBC em 1971.

Nos anos seguintes, Kanter trabalhou como produtor e/ou roteirista de séries como “Chico and the Man”, que apresentava a relação entre um homem idoso e um jovem latino, e “Tudo em Família”, marco da TV americana, que implodiu com o ‘american way of life’. Kanter também fez cinema e, por pelo menos 33 anos, foi um dos roteiristas das cerimônias de entrega do Oscar. Em 1999, ele publicou seu livro de memórias, com o título de “So Far, So Funny: My Life in Show Business”. Kanter era casado com Doris Prouder desde 1941, com quem teve três filhas: Donna, Lisa e Abigail.

No vídeo abaixo, trecho de um episódio de natal de “Júlia” no qual Corey, filho da personagem central, discute com seu melhor amigo, Earl J. Waggedorn, qual a cor de pele do Papai Noel.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=IoX2sby0oSU&w=620&h=330%5D

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