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Nova Temporada

Por Fernanda Furquim
Este é um espaço dedicado às séries e minisséries produzidas para a televisão. Traz informações, comentários e curiosidades sobre produções de todas as épocas.
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20 anos de ‘Arquivo X’

Considerada um fenômeno, a série Arquivo X completou no dia 10 de setembro vinte anos de produção. Criada por Chris Carter, a série mesclou diversos gêneros e elementos comumente vistos em uma produção televisiva, criando um novo formato (por assim dizer) que ainda é reutilizado. Por isso, para muitos, ela representa o início da produção […]

Por Fernanda Furquim Atualizado em 1 dez 2016, 15h39 - Publicado em 14 set 2013, 14h07

(E-D) Gillian Anderson, Chris Carter e David Duchovny em ‘Arquivo X’ (Fotos: Fox/Arquivo)

Considerada um fenômeno, a série Arquivo X completou no dia 10 de setembro vinte anos de produção. Criada por Chris Carter, a série mesclou diversos gêneros e elementos comumente vistos em uma produção televisiva, criando um novo formato (por assim dizer) que ainda é reutilizado. Por isso, para muitos, ela representa o início da produção seriada de ficção e fantasia tal como a conhecemos hoje. Para outros, ela representa mais um marco de transição da constante evolução televisiva.

Arquivo X estreou em 1993, período em que os EUA vivia as consequências da invasão do Kuwait, por parte de Saddam Hussein, bem como da queda do muro de Berlim, que levou à unificação da Alemanha e ao fim da ameaça comunista.

Exibida na última década do Século XX, a série explorou o interesse do público pelas teorias da conspiração que foram se acumulando ao longo dos anos com o fim da 2ª Guerra Mundial, na década de 1940. O macartismo, a guerra fria, o caso Roswell, o assassinato de John F. Kennedy, a Guerra do Vietnã, Watergate, o caso Irã-Contras e tantas outras situações que geraram paranóia e construíram a cultura da conspiração passaram a fazer parte do universo de Arquivo X, mesmo quando não eram mencionados. Para entender o significado da série, bastava compreender e aceitar esse cenário.

Além de mergulhar neste ambiente, Arquivo X também se beneficiou de três mudanças importantes no cenário televisivo: o surgimento do canal Fox, o afrouxamento das regras do FCC, e o sucesso de Twin Peaks, série de David Lynch que definiu a produção seriada que vemos hoje. A série apresentava situações bizarras dentro de um ambiente aparentemente normal, explorando símbolos, simbolismos e segredos escondidos.

Na virada da década de 1980 para 1990, o FCC, órgão que regulamenta a televisão americana, passou a permitir que a abordagem de temas mais pesados pudessem utilizar cenas com maior detalhe visual, o que beneficiou as séries policiais com os crimes que investigavam, os dramas médicos com suas cirurgias e doenças, e os dramas que faziam uso de cenas de sexo e violência em geral. A exploração desses elementos por parte dos canais da rede aberta americana chegou ao ponto do Congresso se vir forçado a criar em 1997 um sistema de classificação da programação televisiva, que varia entre recomendado para crianças de diferentes idades, e para adultos.

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A Fox iniciou suas operações em 1986 com a proposta de ser um canal mais ousado, oferecendo produções que ultrapassariam os limites daquilo que vinha sendo explorado até então pelas séries de TV. Com esse objetivo em mente, a Fox aprovou a produção de séries como Os Simpsons, Um Amor de Família, Anjos da Lei e o reality show Cops (que exerceria forte influência na estética e narrativa dos seriados).

Mas, até o início da década de 1990, a Fox ainda não era considerada uma forte concorrente para as grandes redes de TV, ABC, CBS e NBC. O canal conseguia conquistar o respeito da crítica e causar burburinho na mídia, mas não cobria o território americano. Mal comparando, a Fox era como o CW hoje em dia, mas sem a ajuda da Internet.

Em 1993, a Fox deu o primeiro passo para se tornar uma rede de TV de grande porte. Ela conseguiu ‘roubar’ da CBS o contrato que lhe garantia a exibição dos jogos da National Football League – NFL. Com isso, a Fox ampliou o número de retransmissoras por todo o país, permitindo que ela chegasse em um número maior de domicílios.

Para manter a audiência que estava crescendo, a Fox correu atrás de um número maior de séries que retratassem o interesse do grande público, em especial os jovens. No início da década surgiu Barrados no Baile (Beverly Hills, 90210), drama teen que estreou em 1990, gerando a spinoff Melrose Place em 1992; o drama familiar O Quinteto/Party of Five de 1994 e Arquivo X, um drama policial com elementos de terror e situações sobrenaturais.

Na década de 1980, a produção de séries de ficção científica estava quase que restrita às histórias de super-heróis e viagens espaciais. Produções como A Supermáquina, Águia de Fogo, Moto Laser ou Trovão Azul, por exemplo, traziam histórias policiais e de espionagem com elementos de ficção, que no caso eram representados por equipamentos sofisticados (carros, helicópteros ou motos) capazes de realizar proezas quase que milagrosas. Também foi neste período que a TV viu surgir produções como Contratempos/Quantum LeapV – os Alienígenas no Planeta Terra, Histórias Maravilhosas, Missão Alien e o remake de Além da Imaginação. 

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Pensando em oferecer algo que pudesse ir além dos dramas sociais explorados por essas últimas, Carter criou uma série situada no tempo presente e na vida real, com elementos que fogem à normalidade, em um ambiente sombrio, no qual o herói nem sempre vence. São monstros, alienígenas e criaturas diversas convivendo no mesmo ambiente que o tráfico de drogas, assaltos a bancos e sequestros.

Para tanto, Carter mesclou diversos gêneros. Entre eles, ficção científica, terror, fantasia, policial, espionagem e paródias. Dentre esses gêneros, ele explorou temas como conspirações governamentais, invasão alienígena, anomalias genéticas, experiências científicas, paranóia, paranormalidade, vida após a morte, entre outros.

Inspirada em produções como Além da Imaginação, Quinta Dimensão, O Prisioneiro, Os Vingadores, Os Invasores, Dark Shadows, Kolchack – Demônios da Noite, Prime Suspect e Twin Peaks, entre outras, a série Arquivo X também se apoiou em filmes como O Silêncio dos Inocentes para criar seu universo e sua estética.

Segundo elenco de ‘Arquivo X’

Para narrar essa trama, Carter uniu dois formatos: aquele que apresenta um monstro por semana em histórias fechadas, e o que apresenta um arco dramático ao longo de toda série. Arquivo X também fez uso da fórmula do ‘casal que forma uma dupla de policiais’ (algo muito popular na época).

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A história tinha dois focos básicos. O primeiro apresentava a dupla Mulder e Scully agindo como a salvação daqueles que são vítimas de alguma anomalia ou situação bizarra. O segundo foco apresenta a dupla como vítima do FBI e da conspiração governamental, que tenta manter em segredo a existência de alienígenas.

Na história, Fox Mulder (David Duchovny) e Dana Scully (Gillian Anderson) trabalham para um departamento do FBI que investiga casos considerados estranhos. Tratado como esquisito, Mulder não é levado a sério por seus colegas. Seu interesse por este tipo de caso começou quando, adolescente, testemunhou o sequestro de sua irmã Samantha, que teria sido levada por alienígenas. Mulder e Scully representam a fé que temos em algo que vai além da razão, e a dificuldade que temos em acreditar no impossível, mesmo quando nos deparamos com ele.

Na concepção original, a série retrataria as investigações de Mulder sobre fenômenos paranormais e bizarros, nos mesmos moldes de Kolchak – Demônios da Noite, que acompanha os trabalhos de um jornalista nesta área. Sabendo que a trama se desgastaria muito rápido, tal como ocorreu com a série da década de 1970, Carter incluiu em seu projeto a história de Samantha, que surgiu quando ele soube por um amigo que cerca de 3% da população americana acreditava ter sido abduzida por alienígenas. Também incluindo Scully na trama, para fazer contraponto com Mulder, Carter apresentou o projeto para a Fox.

Temendo que a série pudesse se transformar em um programa piegas ou limitado, a Fox recusou o projeto. Carter insistiu e acabou conseguindo a encomenda de um episódio piloto para avaliação.

A produção da série foi aprovada com o objetivo de substituir o reality show Sightings, que apresentava casos relacionados a UFOs. Apesar da boa audiência, o programa não seduzia os anunciantes, o que levou ao seu cancelamento.

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Acreditando que a série não duraria muito tempo, Duchovny aceitou interpretar Mulder. Já a contratação de Anderson foi uma luta travada por Carter com a Fox. Para atrair o interesse da audiência masculina, o canal queria alguém que se parecesse mais com Pamela Anderson, atriz de Baywatch, que fazia muito sucesso na época. Por outro lado, Gillian também não estava muito entusiasmada com a ideia de trabalhar na TV. Ela preferia fazer cinema mas, sem ofertas nesta área e precisando de dinheiro, ela aceitou fazer Arquivo X.

‘The Lone Gunman’

A série estreou no dia 10 de setembro de 1993 registrando a média de 12 milhões de telespectadores ao vivo, e 7.9/15 de rating/share, ficando em 57º lugar na audiência geral.

Neste primeiro momento, Arquivo X não recebeu apoio da Fox, que ainda não compreendia a série em sua totalidade. O canal estava mais entusiasmado com Brisco Jr., um faroeste que misturava elementos de ficção científica e fantasia (tal qual James West).

A série só conseguiu se estabelecer na audiência durante a terceira temporada, que se tornou uma das maiores audiências entre o público alvo (18-49 anos). Isto porque, neste período, a Fox já tinha conseguido ampliar seu sinal com a aquisição de novas retransmissoras, chegando a um número maior de residências. Com isso, durante a quarta temporada, Arquivo X saiu das noites de sexta-feira, migrando para a grade de domingo.

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Duchovny deixou o elenco regular da série ao final da sétima temporada, sendo substituído por John Doggett (Robert Patrick). Na história, Mulder é abduzido por alienígenas. Nas duas últimas temporadas, a série ainda contou com a presença de Monica Reyes (Annabeth Gish), agente do FBI que forma dupla com Doggett depois que Dana deixa o departamento.

Durante sua produção, a série gerou duas spinoffs, The Lone Gunman (2001) e Millennium (1996-1999). A primeira acompanhava as aventuras de um trio de hackers que costumava ajudar Mulder em suas investigações. A produção teve apenas uma temporada e treze episódios exibidos. A segunda apresentava a vida de Frank Black, um ex-agente do FBI capaz de penetrar na mente dos criminosos. A produção teve três temporadas e 67 episódios exibidos.

Mulder & Scully

Durante a construção de personagens, Carter sofreu forte pressão do canal Fox para transformar Mulder e Scully em um casal aos moldes de Maddie Hayes e David Addison, de A Gata e o Rato/Moonlighting. Esta foi uma produção que se transformou em um marco da TV americana na década de 1980, tornando-se referência para as séries estreladas por um casal de detetives. Sendo uma fórmula testada e aprovada pelo público, a dupla Maddie e David passou a ser reproduzida ao longo dos anos.

Carter foi terminantemente contra. Ele acreditava que o envolvimento emocional de Mulder e Scully poderia comprometer a seriedade do trabalho que realizavam. Seguindo o caminho oposto ao que a Fox queria, Carter também ofereceu um casal oposto às personalidades de Maddie e David. Mulder e Scully não discutiam, nem competiam entre eles para descobrir quem estava certo. Ao contrário, eles se completavam, respeitando e levando em consideração a opinião do outro.

Mesmo assim, ao divulgar a série, a Fox informava aos jornalistas que existia sim uma tensão sexual entre os dois personagens, a qual seria trabalhada ao longo dos episódios. Carter chegou a levar essa ideia na brincadeira, seja nas fotos promocionais da série com os protagonistas, seja em situações ao longo dos episódios. O produtor cederia no final da série, dando ao público a certeza de que Mulder e Scully formavam, de fato, um casal.

‘Millennium’

Embora Carter tenha dito várias vezes que sua principal referência para a série tenha sido Kolchack – Demônios da Noite, é visível que a construção do personagem Fox Mulder veio de outra produção.

No final da década de 1960, a TV americana estreou uma de suas primeiras séries sobre conspiração alienígena. Os Invasores trazia o arquiteto David Vincent (Roy Thinnes, que fez participações em Arquivo X) testemunhando por acidente a chegada de uma nave alienígena na Terra. Tentando convencer as autoridades, Vincent descobre, aos poucos, que os alienígenas estão há muitos anos na Terra e assumiram posições estratégicas na economia e na política com o objetivo de dominar o planeta.

A série foi cancelada com apenas duas temporadas produzidas. Se tivesse sido renovada, a terceira temporada retrataria os alienígenas colocando em prática seu plano.

No início da série, Vincent era um homem ingênuo. Ao longo dos episódios, ele vai aprendendo a se defender, a identificar as conspirações alienígenas e a lidar com elas. Vincent também aprende a identificar em quem ele pode ou não confiar. Mulder seria Vincent nos dias de hoje. Um homem que ainda acredita, mas não luta mais contra o sistema. Ao contrário, Mulder se uniu a ele e o utiliza na sua busca da verdade. Para o governo, Mulder é um homem perigoso mas que, se mantido por perto, pode ser controlado e manipulado.

Inicialmente limitada a explorar ideias, Arquivo X começou a tomar forma em seu segundo ano, quando Scully é abduzida por alienígenas. Esta situação levou a série a trabalhar sua própria mitologia permitindo, inclusive, que Mulder definisse sua personalidade. Até então, ele era o retrato do caçador de alienígenas que tenta provar uma conspiração do governo para manter a verdade escondida. Quando Scully sai de cena (em função da gravidez da atriz), reproduzindo a mesma situação de Samantha, Mulder se vê obrigado a olhar para seu passado mergulhando em seus conflitos emocionais, o que fez surgir um personagem por inteiro.

O mesmo ocorre com Scully. Introduzida na série e no departamento como contraponto de Mulder, Scully tinha a função de observar e analisar o comportamento do colega, fazendo relatórios sobre seus casos, os quais poderiam colocar em dúvida as crenças do colega. A partir de sua abdução, a personagem começa a traçar um caminho de desconstrução, o qual a leva a questionar suas crenças na ciência, na religião e no governo.

Duchovny e Anderson em 2013

O ponto alto dos personagens está entre a segunda e a quarta temporada. Foi neste período que suas personalidades se formaram e a relação dos dois se tornou a base da série.

O sucesso de Arquivo X fez surgir a produção de outras séries que tentavam reproduzir sua fórmula, o que levou ao seu desgaste. A série não conseguiu ultrapassar a barreira dos cinco anos. Ela começa a perder fôlego a partir da sexta temporada. Ainda assim, ela resistiu até a nona, totalizando 202 episódios e duas versões para o cinema. Este ano, durante a Comic Con de San Diego, Carter, Duchovny e Anderson disseram ter interesse em voltar para um terceiro filme. Mas não há previsão de que algum dia ele seja produzido.

A influência de Arquivo X na TV é sentida até hoje. Além de ter sido a porta de entrada de roteiristas e produtores como Vince Gilligan (Breaking Bad), Frank Spotnitz (Strike Back, Hunted), Darin Morgan (Fringe) e John Shiban (Supernatural), ela também ajudou os executivos dos canais de televisão a entenderem um pouco mais sobre esse tipo de programa e o interesse que ele consegue gerar junto ao público alvo.

Sempre que isto ocorre, produtores e roteiristas que acompanharam a um determinado programa têm mais chances de colocar no ar algo que dará continuidade à proposta de uma determinada série.

Cliquem nas fotos para ampliar. Confiram aqui galeria de fotos da série.

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