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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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Quem são as novas estrelas com DNA brasileiro em Hollywood

Elas brilham na indústria do cinema sem abdicar de suas raízes

Por Amanda Capuano Atualizado em 3 jun 2024, 17h01 - Publicado em 5 abr 2024, 06h00

Num dia frugal em Nova Jersey, nos Estados Unidos, o aspirante a músico Rudy vai até o mercado local comprar peixe para a mãe. Ao chegar, é atingido acidentalmente por um pedaço congelado do pescado e recebe ajuda de Isabella (Camila Mendes), uma funcionária de origem brasileira. Também filho de mãe com legítimo sangue nacional e recém-saído de um relacionamento, ele se encanta por Isabella, que parece entendê-lo mais que qualquer outra pessoa. Já disponível no Amazon Prime Video, a comédia romântica Música é inspirada na vida de Rudy Mancuso, ator e roteirista que nasceu e cresceu nos Estados Unidos, mas foi criado sob a tradição cultural da mãe, Maria, carioca que emigrou para o país. Protagonizada por Mancuso e Camila Mendes, a produção põe em cena uma nova safra de estrelas de Hollywood com DNA verde e amarelo: uma geração que nasceu no exterior, mas tem raízes fincadas no Brasil. “Nossa cultura é sub-representada no mainstream”, disse Mancuso, 32 anos, a VEJA. “Precisamos ajudar a educar as pessoas. Muitos nem sabem que brasileiros falam português”, completa Camila, de 29.

BELEZA BADALADA - Kaya Scodelario em Magnatas do Crime: atriz é filha de paulista de Itu e já atuou em Piratas do Caribe e Resident Evil
BELEZA BADALADA - Kaya Scodelario em ‘Magnatas do Crime’: atriz é filha de paulista de Itu e já atuou em ‘Piratas do Caribe’ e ‘Resident Evil’ (Christopher Rafael/Netflix; Jeff Spicer/WireImage/Getty Images)

Filhos de brasileiros que emigraram para países como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá entre o final dos anos 1980 e o início da década de 1990, atores como eles pertencem à primeira geração de suas famílias a nascer em solo anglófono. Falar o inglês desde criança é uma vantagem importante na indústria do cinema e do streaming, já que isso dispensa o processo árduo de aprender o idioma e adaptar o sotaque, como tiveram de fazer Sônia Braga e Rodrigo Santoro ao se aventurar em Hollywood. Na posição de estar lá e cá ao mesmo tempo, há também o bônus de ter contato com o meio ainda jovens, sem precisar abandonar tudo para tentar a sorte em outro país. Assim são os casos de Alfred Enoch, 35 anos, e Kaya Scodelario, 32, filhos de mães brasileiras nascidos na Inglaterra — e que brilharam cedo. Alfred surgiu na franquia Harry Potter aos 11. Hoje em alta na série Magnatas do Crime, da Netflix, Kaya estreou na TV aos 14, na série britânica Skins.

Almanaque da telenovela brasileira – Nilson Xavier

A maioria desses novos rostos é fluente em português e mantém laços estreitos com o Brasil, o que faz com que a identidade tropical transborde nas redes sociais e entrevistas. Canadense de nascença, Laysla de Oliveira — que acaba de atuar com Nicole Kidman e Morgan Freeman em Operação: Lioness, do Paramount+ — é filha de mineiros e morou na Bahia quando criança. No Instagram, a musa de 32 anos alterna entre inglês e português e se declarou apaixonada pela dramaturgia nacional: “Minha razão de ser atriz é novela. Quando era pequena, via muito com a minha mãe”.

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SANGUE TROPICAL - Mia Goth (à esq.) em 'Maxxine': neta de atriz brasileira virou queridinha de hits do terror em Hollywood
SANGUE TROPICAL - Mia Goth (à esq.) em ‘Maxxine’: neta de atriz brasileira virou queridinha de hits do terror em Hollywood (A24 FILMS/.)

Também com sangue 100% brasileiro, Camila Mendes nasceu em Charlottesville, na Virgínia, e passou boa parte da vida em Miami. Filha de um brasiliense e de uma gaúcha, ela morou em Brasília por um ano na infância, visita parentes com frequência e vive exibindo quitutes como pão de queijo, brigadeiro ou um bom prato de arroz e feijão nas redes. Brandir com orgulho a cultura dos pais traz desafios: com cabelos castanhos e pele bronzeada, Camila estourou como Veronica Lodge em Riverdale, garota de família latina que está sempre batendo de frente com os pais. Fora do fenótipo visto como branco pelos americanos, ela conta que também já ouviu que não era “latina o suficiente”. “É uma indústria com falta severa de representatividade para brasileiros. Não vejo nem estereótipos, porque não há papéis suficientes para avaliar”, lamenta ela.

Sonia em fotobiografia – Augusto Lins Soares

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Mais caucasianas, figuras como Kaya Scodelario e Mia Goth vivem situação oposta: muitos nem sabem que têm ascendência brasileira. Filha de uma paulista de Itu, Kaya, que já atuou em blockbusters como Piratas do Caribe e Resident Evil, chegou a declarar que nunca teve permissão para abraçar seu lado brasileiro na indústria. “Tentaram me colocar na caixinha da britânica de olhos azuis, mas essa não é a minha cultura”, disse numa entrevista recente. A ascendência de Mia, nova queridinha do terror que em breve estrelará o antecipado Maxxine, veio à tona pelo sobrenome Silva: ela não só é filha de brasileira como neta da atriz Maria Gladys, figura conhecida das novelas, e morou com a avó quando criança no Rio.

NOVELEIRA - Laysla de Oliveira: canadense é filha de mineiros e apaixonada por folhetins nacionais
NOVELEIRA - Laysla de Oliveira: canadense é filha de mineiros e apaixonada por folhetins nacionais (Jose Perez/Bauer-Griffin/GC Images/Getty Images)

Medida provisória: Diário do diretor – Lázaro Ramos

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Entre os nascidos e criados no Brasil, Sônia Braga, Rodrigo Santoro, Alice Braga e Wagner Moura conseguiram furar a bolha hollywoodiana com muito esforço, abrindo caminho para nomes como Bruna Marquezine e Gabriel Leone, que estrearam no cinema americano há pouco com Besouro Azul e Ferrari. Agora, curiosamente, surge um movimento contrário: Alfred Enoch já se arriscou na atuação em português em Medida Provisória, e Kaya Scodelario estará na série Senna, que estreia este ano na Netflix. Assim como seus antecessores, só o tempo e a qualidade dirão se as novas estrelas terão carreira duradoura no exterior. Se depender da torcida verde e amarela, o jogo será emocionante.

Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887

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