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‘Quanto Vale?’, da Netflix, mostra lado pouco explorado do 11 de setembro

Filme com Michael Keaton critica o preço colocado sobre a vida humana ao mostrar advogados responsáveis por distribuir indenizações pós-atentado

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 3 set 2021, 17h29
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  • Em uma sala de aula, Ken Feinberg (Michael Keaton) escreve na lousa a pergunta: “quanto vale a vida humana?”. Pouco depois, ele avisa: “Vocês não estão em uma aula de filosofia. No que diz respeito à lei, esta pergunta tem uma resposta”. Assim, o advogado e professor discorre sobre sua especialidade: intermediar as negociações de indenizações entre empresas e familiares de vítimas. A cena integra o filme Quanto Vale?, que chegou nesta sexta-feira, 3, à Netflix. O longa, que ainda conta com a presença do ótimo Stanley Tucci no elenco, é baseado na história real do advogado Kenneth R. Feinberg, que se ofereceu para negociar a indenização que as famílias que perderam pessoas no atentado do dia 11 de setembro de 2001, em Nova York, receberiam.

    Perto de completar 20 anos, a queda das Torres Gêmeas ainda revela uma ferida exposta no país. Enquanto o noticiário reprisa imagens do atentado, desde que o Talibã, um antigo aliado dos terroristas do Al-Qaeda, fundado por Osama bin Laden, voltou ao poder no Afeganistão; o cinema e a literatura se propõem a olhar a tragédia de forma cada vez mais profunda.

    No longa da Netflix, a dor das vítimas se mistura aos bastidores burocráticos que têm como missão proteger a economia americana em um momento de crise. Para não deixar que companhias aéreas caíssem em longos e custosos processos judiciais com os familiares das vítimas – agravando assim a crise econômica que já se estendia desde o atentado –, o governo americano cria um Fundo de Compensação que prevê indenizações de acordo com cada caso. Mas como criar uma régua para uma tragédia sem precedentes, com milhares de vítimas, que incluem desde CEOs milionários até faxineiros? O que fazer quando os familiares são imigrantes ilegais? Ou se quem sobreviveu foi o marido de outro homem em uma época em que o casamento gay não era aprovado pelo estado de origem de ambos?

    As muitas variáveis dão o tom dramático do incontornável evento histórico, que, por muito tempo, foi visto pela ótica superficial que transforma pessoas em números. Na mesma linha, chegou recentemente ao Brasil o livro O Único Avião no Céu, do historiador Garrett Graf. Em uma longa pesquisa, Graf reuniu centenas de depoimentos de testemunhas do atentado. Desde bombeiros e funcionários sobreviventes das torres, passando por políticos e pessoas que estavam com o presidente George W. Bush naquele dia, até os funcionários do aeroporto que permitiram o embarque dos terroristas.

    A Netflix ainda lançou esta semana uma série documental, Ponto de Virada: 11/9 e a Guerra contra o Terror, que volta aos anos 80 para entender a criação do Al-Qaeda e vai até a resposta dos americanos ao atentado. A ferida do 11 de setembro está longe de ser cicatrizada.

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