‘O Legado de Júpiter’: Netflix aposta em heróis canastrões de visual brega
Nova série da plataforma cativa apesar da superficialidade: um perfeito 'guilty pleasure' para maratonar sem medo de ser feliz
Sabe aquele ditado que afirma que nem todo herói usa capa? Esqueça. Na nova série de super-heróis da Netflix, O Legado de Júpiter, que estreou nesta sexta-feira, 7, os figurinos kitsch dos protagonistas não deixam dúvidas: para ser herói aqui, a capa é parte indissociável da indumentária — breguíssima, diga-se de passagem. Com uma pegada já bastante explorada em The Boys, da Amazon Prime Video, O Legado de Júpiter apresenta heróis com problemas bastante humanos: vício em drogas, depressão, conflitos geracionais entre pais e filhos e políticos corruptos. Há até uma sessão de terapia onde um deles surge em crise de meia-idade. Tudo na atração parece bastante exagerado e, eventualmente, fora de contexto. Resultado: é impossível abandoná-la. Se você está em busca de um viciante guilty pleasure, do tipo que provoca vergonha alheia, mas não te deixa largar a maratona, O Legado de Júpiter é a escolha certa.
A série é uma adaptação dos quadrinhos de mesmo nome criados por Mark Millar e Frank Wuitely, em 2013. No enredo, um grupo de pessoas embarca em uma expedição para uma ilha abandonada e lá recebe os poderes que os tornam heróis. Em plena crise de 1929, essas pessoas entendem o peso da responsabilidade que receberam e criam um rigoroso código de ética. O tempo passa, os heróis se casam e chegam os filhos, que herdam esses poderes também, porém sem sentirem a mesma responsabilidade dos pais.
Em uma interpretação canastrona e saborosa, Josh Duhamel dá vida ao líder dos heróis, Sheldon Sampson, o Utópico, o mais poderoso personagem da trama. Ele é casado com Grace Sampson, a Lady Liberdade (Leslie Bibb), também uma das mais poderosas. Eles são pais de Chloe (Elena Kampouris) e Brandon (Andrew Horton). A menina não quer saber de salvar o mundo, é viciada em drogas e vive da fama dos pais. Já o garoto anseia desesperadamente pela aprovação do pai, que nunca acha que o filho é bom o suficiente. O ator Ben Daniels interpreta Walter, o irmão mais velho de Utópico. Ele também se transformou em super-herói sob o nome de Onda-Cerebral. Embora não tenha a mesma força que o irmão, é capaz de controlar a mente das pessoas, inclusive dos vilões.
Os oito episódios, com pouco mais de 40 minutos cada, intercalam incessantemente cenas do presente com os flashbacks de como eles conseguiram seus poderes. Esse vai e volta no tempo traz a sensação de que a trama demora para se desenrolar. Já os diálogos são pueris e explicam o óbvio. Embora tenha algumas cenas de violência, no geral trata-se de uma atração família que coloca, de vez, a Netflix no filão dos super-heróis, com um DNA próximo do absurdo — e sem medo de ser feliz.