O documentário da Globo, que se infiltrou entre bolsonaristas radicais
'Extremistas.br' investiga razões por trás do fanatismo e da máquina de produção de fake news dos golpistas que apoiam ex-presidente
No meio de um acampamento de apoiadores de Jair Bolsonaro, uma equipe da Globo grava, camuflada, a movimentação daqueles que não aceitam a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022 e que clamam por um golpe militar. “Se você não tiver acompanhado comigo você vai apanhar, porque o pessoal hoje está para a guerra, viu?”, aconselha uma bolsonarista a um produtor da Globo no documentário Extremistas.br, que busca entender as razões que levam pessoas ao radicalismo político. Com três dos oito episódios disponíveis no Globoplay, a produção se infiltrou entre pessoas que confiam cegamente nas correntes de fake news recebidas pelas redes sociais, tanto faz se forem áudios, vídeos ou fotos, e que defendem Bolsonaro a todo custo.
O doc também conversa com um homem que vive de destruir reputações de pessoas ou instituições ao produzir notícias falsas. Como exemplo, mas deixando claro que essa em particular não foi de sua autoria, conta que as mentiras criadas por ele se assemelham àquela, amplamente disseminada nas redes, que dizia que Fernando Haddad distribuiria mamadeiras em formato de pênis nas eleições de 2018. Outra entrevistada é uma militante infiltrada em grupos de golpistas no Telegram com o objetivo de denunciá-los. Nesses dois últimos casos, ambos não se identificam. A VEJA, o diretor Caio Cavechini explica que conseguiu depoimentos de pessoas tão extremistas e que possivelmente odeiam a Globo — como a imensa maioria dos bolsonaristas — usando a verdade.
“Frequentamos manifestações ao longo de quase dois anos, gravamos mais de mil horas e abordamos dezenas de pessoas. Um trabalho de observação paciente que incluiu jornalistas da Globo e jornalistas independentes. Em contato pessoal, explicávamos o objetivo: ouvir suas motivações, acompanhar um pouco de sua rotina. A maioria dos militantes retratados combina uma necessidade de falar, de expor sua visão de mundo, com um interesse próprio em ganhar projeção para divulgar suas ideias”, conta.
Com o ritmo de uma grande reportagem do Fantástico, Extremistas.br tenta equilibrar o viés político ao colocar em cena a figura de André Janones, de ideologia esquerdista, que foi um grande trunfo da campanha pró-Lula com seu método parecido com o dos bolsonaristas: fazer barulho nas redes. “Escolhemos os casos e as pessoas que pudessem melhor representar os vários aspectos da radicalização política: a manipulação da moral e da religião, a disseminação de fake news, as estratégias de ataque a reputações, o armamentismo. Esses assuntos se cruzam muitas vezes, mas a nossa prioridade foi sempre mergulhar na história das pessoas radicalizadas. A série tem bastante investigação, sim, mas talvez seja um trabalho mais de imersão nesse universo”, completa Cavechini.
Após apoiadores de Jair Bolsonaro atacarem a Praça dos Três Poderes no último domingo, 8, de forma terrorista, destruindo prédios, quebrando vidraças, ateando fogo e vandalizando o patrimônio público, o documentário precisou ser reeditado para incluir as informações e imagens da tentativa golpista. Os três próximos episódios de Extremistas.br estrearão na plataforma em 18 de janeiro, e os dois últimos, no dia 25. Até agora, a série da Globo se mostrou afiada ao buscar respostas para a histeria coletiva da seita bolsonarista.