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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming
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De Bolsonaro a Lula: Silvio Santos agradava presidentes como ninguém

Da gratidão vitalícia aos militares até acenos cordiais a Lula e Dilma Rousseff, o criador do SBT sempre usou a diplomacia a seu favor

Por Thiago Gelli Atualizado em 17 ago 2024, 11h25 - Publicado em 17 ago 2024, 10h09
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  • Silvio Santos foi parte da televisão brasileira por mais de quatro décadas, tendo presenciado e repercutido as mais diversas mudanças no cenário político e social do país. Para se manter no topo, logo, o criador do SBT teve que desenvolver jogo de cintura, e assim se tornou um dos mais ágeis malabaristas do status quo brasileiro, recorrendo a diferentes alianças e conciliações de acordo com o momento. Do apoio aos militares em plena ditadura até a relação cordial com Lula, relembre alguns dos laços do comunicador:

    João Batista Figueiredo

    “Sou muito grato, se não fosse ele, eu estaria vendendo canetas na praça da Sé”, disse Silvio em 2017 sobre o último militar que ocupou a presidência durante a ditadura. Na realidade, o apresentador já era um empresário de relativo sucesso em 1981, mas foi Figueiredo quem viabilizou a concessão de parte dos canais da TV Tupi para sua posse e, assim, oficializou a existência do SBT. Daí em diante, o canal passou a veicular o quadro A Semana do Presidente, que era custeado pelo Estado e resumia os feitos dos líderes nacionais, sempre com ar positivo e patriota. 

    O programa continuou no ar até 1996 e é lembrado por episódios como o de 1992 que anunciava a festa de aniversário do então presidente Fernando Collor, com a locução: “Desejamos ao nosso presidente muitas felicidades e que Deus continue dando-lhe sensibilidade e sabedoria para continuar governando o nosso país”. No livro Topa Tudo por Dinheiro: As Muitas Faces do Empresário Silvio Santos, Mauricio Stycer recupera falas do icônico apresentador como “me sinto um office boy de luxo do governo”.  

    Lula e Dilma Rousseff 

    Apesar do notório alinhamento à direita nacional, Silvio Santos não escanteou figuras proeminentes da esquerda de imediato — e foi até mesmo homenageado por algumas delas. Em 2021, foi ao ar no SBT um documentário em comemoração aos 40 anos da emissora, filmado cinco anos antes como parte das celebrações dos 85 anos do apresentador, mas engavetado e recuperado mais tarde. Nele, tanto Lula quanto Dilma Rousseff, ainda presidente na época das filmagens, demonstram respeito e admiração por ele ao comentar sua tentativa de candidatura à presidência do Brasil em 1989 — ano em que Collor foi eleito e Lula concorreu pela primeira vez.

    “Ele tem uma capacidade de envolvimento e de emocionar as pessoas e tem um comportamento que é referência. Então, seria um adversário significativo”, apontou Dilma sobre a ameaça que ele impunha sobre seus concorrentes na época. Lula, por sua vez, disse ter ficado preocupado por Silvio devido ao escrutínio provocado por campanhas eleitorais: “Quando você entra na política, os caras vão desvendar o que você era quando estava no útero da sua mãe. Os caras vão fazer DNA do seu bisavô para saber qual é o defeito que você tem. E achava que um cara como o Silvio Santos não deveria se meter nisso”, declarou.

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    Em novembro de 1989, o Partido Municipalista Brasileiro, ao qual pertencia Silvio, foi considerado ilegal pelo Tribunal Superior Eleitoral com unanimidade. Já o comunicador foi considerado inelegível por ser dirigente de uma rede televisiva de alcance nacional.

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    Jair Bolsonaro

    Após o impeachment de Dilma Rousseff, Silvio se aproximou de Michel Temer e chegou a recebê-lo em seu programa dominical, mas ninguém o encantou feito o ex-presidente Jair Bolsonaro. O apreço foi tanto que, logo após a eleição de 2018, em novembro, o canal passou a veicular breves vinhetas nacionalistas alinhadas à campanha que o político então filiado ao PSL havia encabeçado. Em uma delas, a bandeira do país vinha acompanhada de um slogan do governo de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974): “Brasil, ame-o ou deixe-o”, enquanto outra era sonorizada pela canção Eu te amo, meu Brasil, jingle do regime. 

    No mesmo ano, Silvio chegou a receber uma ligação de Bolsonaro ao vivo durante o Teleton e esbanjou elogios ao então presidente. Em 2020, o político recriou o Ministério das Comunicações e convocou o genro de Silvio para sua liderança, o empresário Fábio Faria, casado com Patrícia Abravanel. Ao longo de seu mandato, ele também chegou a reduzir a verba de publicidade destinada à Rede Globo, elevando a Record e o SBT à primeira e segunda posição no ranking de beneficiários entre 2019 e 2020. Como agradecimento, Silvio chegou a esboçar um retorno do quadro Semana do Presidente, mas o projeto foi congelado. 

    Desde a derrota de Bolsonaro na eleição de 2022, contudo, o apresentador flexibilizou seu apoio e, em julho de 2023, chegou a conversar com Lula por telefone durante uma reunião entre o presidente e o restante do clã Abravanel.

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