O ‘jingle’ da ditadura militar exaltado por Regina Duarte ao votar
Atriz e ex-secretária de Bolsonaro compartilhou vídeo com música usada pelos militares como peça de propaganda durante os anos mais duros do regime
Regina Duarte foi às urnas no domingo, 3, para eleger seus representantes — no caso, Jair Bolsonaro e seus aliados, apoio declarado da atriz. Pouco depois de votar, ela publicou nas redes sociais um vídeo em que aparece trajada de verde e amarelo na fila para a eleição. Na trilha sonora, ouve-se um trecho da música Eu Te Amo, Meu Brasil, popularizada como um jingle da ditadura militar brasileira. “Obrigada, sangue latino, por traduzir para multidões o grande amor que sinto pelo meu país’, escreveu.
Com os versos “Meu coração é verde, amarelo, branco, azul-anil / Eu te amo, meu Brasil, eu te amo / Ninguém segura a juventude do Brasil”, a canção foi gravada pelo grupo Os Incríveis em 1970, mas é uma composição de Dom, da dupla cearense Dom e Ravel. Os dois ficaram marcados como adesistas, como eram chamados os artistas que apoiavam o regime.
Com o ufanismo em alta, o grupo paulista aceitou gravar a música por causa da Copa do Mundo do México, vencida pela seleção brasileira naquele ano. Mas, assim como a música oficial da competição, Pra Frente, Brasil, de Miguel Gustavo, Eu Te Amo, Meu Brasil entrou para a história como uma peça de propaganda para louvar o “Brasil do milagre” alardeado pelos militares. Enquanto isso, os “anos de chumbo”, como ficou conhecido o período mais duro da ditadura, imperavam no país, com supressão de direitos, torturas e perseguições políticas.
O uso da música por Regina, no entanto, não é surpresa. Ex-secretária da Cultura de Bolsonaro e apoiadora declarada do presidente, ele próprio um admirador da ditadura militar brasileira, Regina chegou a dançar e cantar Pra Frente, Brasil em 2020, durante uma entrevista à CNN, no mesmo dia que o país atingiu 600 mortos por Covid-19 (hoje já são quase 700.000). Vale lembrar que o vídeo “patriota” de Regina aguardando na fila para escolher seu presidente não existiria no regime militar — já que não havia votação direta para presidente.