“Por que se fala em ‘terceirizar’ serviços? Minha dúvida não é sobre a prática tão comum na economia de hoje, mas sobre o número mesmo. O que o ‘terceiro’ tem a ver com isso?” (Alexandre Simões)
O substantivo “terceirização” é um neologismo brasileiro relativamente recente: o Houaiss fixa a data de 1991 para seu primeiro registro escrito, a mesma do verbo “terceirizar” e do adjetivo “terceirizado”. Surgiu como tradução engenhosa e sucinta do inglês outsourcing.
A própria definição que o Houaiss apresenta de “terceirização” ajuda a esclarecer a dúvida de Alexandre:
1. forma de organização estrutural que permite a uma empresa transferir a outra suas atividades-meio, proporcionando maior disponibilidade de recursos para sua atividade-fim, reduzindo a estrutura operacional, diminuindo os custos, economizando recursos e desburocratizando a administração;
2. contratação de terceiros, por parte de uma empresa, para a realização de atividades geralmente não essenciais, visando à racionalização de custos, à economia de recursos e à desburocratização administrativa.
“Contratação de terceiros”, pois é. Se o neologismo administrativo data da última década do século passado, é bem mais antiga a acepção, inclusive jurídica, de “terceiro” como “outro, pessoa que está do lado de fora de uma relação” – no caso, a relação de trabalho entre a dita empresa e seus funcionários.
O gramático Domingos Paschoal Cegalla levanta uma hipótese diferente ao dizer que o neologismo se baseou, “provavelmente, no chamado terceiro setor básico, ou setor terciário, da economia de um país, que engloba serviços em geral”. Diante do exposto no parágrafo anterior, porém, recorrer ao “setor terciário” parece no mínimo desnecessário para dar conta do sentido corrente de “terceirizar”.
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