Por favor, seu Sérgio… ou ‘seo’ Sérgio?
“Seu Sérgio…ou seria Seo Sérgio? Em minha cidade de Jacareí, o viveiro municipal, que está instalado em área estadual, receberá o nome de um grande ambientalista regional: Francisco de Moura. O deputado estadual Marco Aurélio de Souza fez um projeto de lei nomeando o viveiro com o nome de ‘Seo Moura’. O projeto foi aprovado […]
“Seu Sérgio…ou seria Seo Sérgio? Em minha cidade de Jacareí, o viveiro municipal, que está instalado em área estadual, receberá o nome de um grande ambientalista regional: Francisco de Moura.
O deputado estadual Marco Aurélio de Souza fez um projeto de lei nomeando o viveiro com o nome de ‘Seo Moura’. O projeto foi aprovado e em breve será sancionado em lei. A partir daí, placas poderão ser colocadas no local.
Sempre achei muito estranha a escrita ‘seo’ (até o corretor sublinha a palavra), tampouco a encontrei nos dicionários online. Entretanto, nas pesquisas que fiz pude constatar que diversos escritores usaram o termo em seus trabalhos, como o grande Guimarães Rosa, que em ‘Primeiras histórias’, no conto ‘O cavalo que bebia cerveja’, refere-se a um personagem como ‘Seo Giovânio’. Seria um licença poética?
Como sei que o lugar vai ser visitado por muitas escolas, crianças certamente vão ficar em dúvida quanto à escrita, podendo prejudicar o aprendizado ou despertar a curiosidade pelas palavras. O que irá acontecer?
Antes de me dar por vencido, me tire esta dúvida. Se for o caso, teremos que acionar o ‘Seo’ Alckmin.
Continua após a publicidadeAbraços de seu amigo, admirador de seu trabalho.” (Fernando Romero Prado)
É interessante a preocupação de Fernando. Justificada também: se adotar oficialmente o nome ‘Seo Moura’, a cidade de Jacareí estará retrocedendo mais de meio século, até uma época em que ainda era possível encontrar no português brasileiro escrito um número significativo de casos de flutuação de grafia entre “seu” e “seo”.
Quando Rosa lançou “Primeiras estórias”, em 1962, já estava bem claro que a queda de braço tinha sido vencida por “seu”. Nada que detivesse o escritor mineiro em sua busca pela expressão idiossincrática, muitas vezes de sabor arcaico. A própria opção por “estórias” no título do livro é um tanto excêntrica (mais sobre isso aqui).
“Seu”, nesse caso, é uma forma popular de abreviar a palavra “senhor”. Além da variação “seo”, também é possível encontrar o termo, sobretudo em autores da primeira metade do século XX, grafado em itálico ou mesmo entre aspas, como forma de frisar sua essência “errada”.
Faz tempo que o brasileirismo “seu” está além da consagração. Aparece em todos os principais dicionários da língua com essa grafia e com inicial minúscula: “seu garçom”, “seu doutor”, “seu Fulano”.
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