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Sobre Palavras Por Sérgio Rodrigues Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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O público, o privado e a privada

A crônica abaixo foi publicada neste espaço em setembro do ano passado. Decidi republicá-la hoje porque, mergulhado aqui numa pesquisa chatíssima sobre patrimonialismo, Max Weber, Raymundo Faoro etc., disposto a aprofundar a conversa de ontem sobre o patrimônio de Palocci, esbarrei nela e levei um susto. Primeiro porque, embora não se trate de um texto […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 11h45 - Publicado em 5 jun 2011, 11h26
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  • A crônica abaixo foi publicada neste espaço em setembro do ano passado. Decidi republicá-la hoje porque, mergulhado aqui numa pesquisa chatíssima sobre patrimonialismo, Max Weber, Raymundo Faoro etc., disposto a aprofundar a conversa de ontem sobre o patrimônio de Palocci, esbarrei nela e levei um susto. Primeiro porque, embora não se trate de um texto antigo, mal me lembro de tê-lo escrito. Segundo porque ele diz melhor do que eu seria capaz de dizer hoje exatamente o que eu queria dizer hoje. Acrescentar o quê? Enquanto não dermos um jeito de furar essa bolha, nada. Boa leitura e bom domingo a todos.

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    Acordo com uma ideia aparentemente insensata: o Brasil é um país que, como aqueles adolescentes eternos que são comuns na juventude de hoje, nunca saiu da casa da família.

    Sair para quê, se ali já encontra o Toddy preparado na dose certa ao acordar, de preferência tarde, e pode se sentar de cueca mesmo à mesa da cozinha? Por que encarar um mundo hostil lá fora, em que as pessoas se tratam por senhor e senhora e baseiam suas relações em pautas profissionais, impessoais, obedecendo com incompreensível rigidez a códigos escritos ou tácitos de respeito e cobrança que valem para todo mundo?

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    Todo mundo, já imaginou? Não, isso nunca. Muito melhor chamar de meu amor a Teresinha, a veterana empregada doméstica, beliscar-lhe marotamente a bunda e ordenar mais um misto quente com um exagero de queijo derretido para acompanhar o resto daquele Toddy.

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    Sim, é verdade que a família que acolhe o jovem em sua modorra tem andado mais liberal do que nunca. Já foi aristocrática e esnobe e hoje, coisa impensável há poucas décadas, admite casamentos de sobrinhas queridas com alpinistas sociais sem berço nenhum. Mudam assim os modos, o linguajar, os cortes de roupa nas festas de fim de ano. Mas a lógica de seu estar no mundo não muda um milímetro. Todos passam a viver na mesma bolha, irmanados nela. A ninguém ocorre sacar um alfinete e furá-la.

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    Furar a bolha? Ficou maluco?

    Nesse ambiente infantilizador e infantilizado, que um sociólogo weberiano poderia chamar de patrimonialismo (mas quem liga para isso, não é, pai?), o público é estuprado todo dia pelo privado. Mas tão carinhosamente e com tanto charme que, francamente, só um sujeito muito mal-humorado invocaria numa hora dessas o Código Penal.

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    Terminado o misto, o adolescente eterno de dimensões continentais vai se sentar na privada e pensa que, nesse ritmo, acabará deixado para trás por colegas mais diligentes. Mas logo afugenta o mau agouro – ora, e daí? Pois aquele tio desembargador não lhe tinha prometido uma bocada no Tribunal para o dia em que resolvesse crescer?

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