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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Jabuti, ‘símbolo de gravidade, prudência e sabedoria’

Criado em 1959, o Jabuti, conferido pela Câmara Brasileira do Livro, é o mais tradicional prêmio literário brasileiro. Já há algum tempo não se pode dizer – como faz a página da Wikipedia a ele dedicada – que seja “o mais importante”. Além de ter ganhado concorrentes mais ricos e focados, como o Portugal Telecom […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 07h32 - Publicado em 27 out 2012, 09h00

Criado em 1959, o Jabuti, conferido pela Câmara Brasileira do Livro, é o mais tradicional prêmio literário brasileiro. Já há algum tempo não se pode dizer – como faz a página da Wikipedia a ele dedicada – que seja “o mais importante”. Além de ter ganhado concorrentes mais ricos e focados, como o Portugal Telecom e o prêmio São Paulo, o Jabuti vem dando tiros no próprio pé em confusões como a que foi provocada este ano pelo “jurado C” – leia aqui e aqui o que escrevi sobre o assunto no Todoprosa.

No entanto, o tema deste post não é o prêmio e sim a palavra, nome genérico dos “quelônios, terrestres e herbívoros, da família dos testudinídeos, de carapaça alta…” (Houaiss). Trata-se de uma palavra – e um bicho – com raízes profundas na história e na cultura do país, como se pode constatar percorrendo as citações compiladas pelo filólogo Antônio Geraldo da Cunha em seu saboroso “Dicionário Histórico das Palavras Portuguesas de Origem Tupi”. Sim, é esta a origem de jabuti: a palavra tupi iauo’ti (na grafia adotada por Cunha) ou yawo’ti (como prefere o Houaiss).

(Aviso que as grafias de época registradas por Cunha serão mantidas, por serem parte da graça: o jabuti já foi chamado de jubati, jabotim, joboti, javotim, jabutym e jaboty.)

O que primeiro chama a atenção, pelo contraste com o recente escândalo do prêmio, é o que disse do bicho o escritor José de Alencar, em 1874: “O jaboty para os índios do Amazonas é o symbolo da gravidade, prudencia e sabedoria”. Mais até do que isso, é como uma espécie de deus que ele aparece em 1928 no “Macunaíma” de Mario de Andrade: “No princípio era só o Jabotí Grande que existia na vida”.

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Mas nem tudo é espírito na história do jabuti: a carne tem enorme importância. Já em 1654, o padre Antônio Vieira, um dos grandes mestres do português clássico, anotava sobre o referido quelônio que “é sustento muito geral em todas estas partes, e foram os que nesta jornada nos mataram muitas vezes a fome”.

Comeu-se tanto jabuti neste país (ainda se come, mas bem menos) que havia até o truque de considerá-lo peixe para que pudesse ser ingerido nos dias em que a Igreja proibia comer carne, o que levou o Frei Cristovão de Lisboa a exprimir sua revolta numa carta de 1626: “Mandando eu que se abstivessem dos Jabotins nos dias de peixe por não haver rezão que mostrasse não serem Carne, (…) disseraõ no pulpito publicamente que elles erão peixe e por tal se comião diante do Papa, e na Bahia, e que os religiosos santos francezes por peixe o derão, sendo todas estas allegações mentira”. Um estraga-prazeres, o Frei Cristovão.

Hoje em dia, o fragmento de cultura popular mais identificado com o jabuti é sem dúvida aquele dito de autor anônimo atribuído de vez em quando a Ulysses Guimarães, que gostava de repeti-lo: “Jabuti não sobe em árvore: se ele está lá, foi enchente ou mão de gente”.

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