‘Guardanapo? Por que se guarda o napo?’
“A minha dúvida é sobre a palavra guardanapo. O que é napo? Por que se guarda o napo?” (Marcos Faria Cordeiro) A consulta de Marcos é boa por mais de uma razão. Em primeiro lugar, sobretudo quando expressa em termos tão singelos, é divertida, mas não fica nisso. Existem aspectos realmente enigmáticos em torno da […]
“A minha dúvida é sobre a palavra guardanapo. O que é napo? Por que se guarda o napo?” (Marcos Faria Cordeiro)
A consulta de Marcos é boa por mais de uma razão. Em primeiro lugar, sobretudo quando expressa em termos tão singelos, é divertida, mas não fica nisso. Existem aspectos realmente enigmáticos em torno da palavra guardanapo, registrada pela primeira vez em português (com a grafia “gardanapo”) no distante ano de 1536.
Tudo indica – até por falta de alternativas razoáveis – que fomos buscar a palavra no termo francês garde-nappe. Este nunca quis dizer guardanapo: a palavra francesa para essa pequeno pedaço de pano ou papel é, desde o século 14, serviette. No entanto, tal assimetria semântica não seria em si um problema. Garde-nappe é, literalmente, um protetor de toalha de mesa (nappe), uma placa, especialmente de vime, que se põe sob o prato para poupar o tecido do calor ou da sujeira. Algo parecido em forma e função com o que, em conjunto, chamamos de jogo americano, embora este costume ser usado no lugar da toalha e não sobre ela.
De toda forma, garde-nappe e guardanapo compartilham pelo menos o campo semântico da mesa de jantar, e basta imaginar o uso de pedaços de pano sob os pratos para que soe plausível a alteração de sentido da palavra em sua migração de uma língua a outra. O verdadeiro problema com a tese que situa garde-nappe na origem de guardanapo é que a palavra composta francesa só teria sido registrada, segundo o Houaiss, no século 18, cerca de duzentos anos depois da nossa. E agora?
E agora, mistério. A tese de uma formação ocorrida no próprio português esbarra no fato de que não temos, em nossa língua, nada que se pareça com “napo”. O francês foi buscar seu nappe (toalha) no latim mappa (guardanapo, justamente) – que entre nós, depois de uma tabelinha com o italiano, já chegou com o sentido adquirido na Idade Média de representação gráfica de um terreno (rabiscado no guardanapo!) e veio a dar no vocábulo… mapa, pois é.