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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Eu te peço (ou lhe peço?), mas você não dá

“Pode ser ignorância de minha parte, mas sempre tive dificuldade de diferenciar ‘Eu te dou’ de ‘Eu lhe dou’. Um abração e obrigado pela resposta.” (Carlos Antonio de Figueiredo) A consulta de Figueiredo tem uma resposta curta e uma longa. Embora a ideia não seja fazer um trocadilho, a curta leva em conta a culta, […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 08h14 - Publicado em 2 ago 2012, 16h41

“Pode ser ignorância de minha parte, mas sempre tive dificuldade de diferenciar ‘Eu te dou’ de ‘Eu lhe dou’. Um abração e obrigado pela resposta.” (Carlos Antonio de Figueiredo)

A consulta de Figueiredo tem uma resposta curta e uma longa.

Embora a ideia não seja fazer um trocadilho, a curta leva em conta a culta, ou melhor, a norma culta. Usa-se o pronome pessoal oblíquo da terceira pessoa, “lhe” ou “o/a”, quando o interlocutor for tratado por “você”, e o pronome pessoal oblíquo da segunda pessoa, “te”, se ele for tratado por tu. Simples assim.

Exemplos: “Eu te amo, és linda”. Ou: “Eu a amo, você é linda”. Outro: “Eu te peço, não me abandones”. Ou: “Eu lhe peço, não me abandone”. Para decidir entre “o/a” e “lhe”, o que se leva em conta é se o verbo é transitivo direto, caso em que se adota a primeira opção, ou indireto.

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E fim de papo. Só precisa ler até aqui quem estiver preocupado apenas em escrever com correção, caprichar no relatório da firma ou não perder pontos em provas.

Naturalmente, a questão vai além dessa dimensão, o que nos leva à resposta longa. Esta inclui tudo o que foi dito acima e acrescenta a evidência de que, na linguagem familiar brasileira, mesmo os mais cultos entre nós desrespeitam desde sempre tudo o que foi dito acima.

No português brasileiro coloquial, o que vemos é um tenaz embaralhamento dos pronomes pessoais da segunda e da terceira pessoa, numa confusão que tem raízes históricas no fato de que o pronome de tratamento “você” (uma contração de “vossa mercê”, ou seja, terceira pessoa) nasceu como substituto ligeiramente mais cerimonioso de “tu” (segunda pessoa). Mais tarde, quando “você” se tornou o oposto disso na maior parte das regiões do país – um substituto menos cerimonioso de “tu”, que tem uso cada vez mais restrito ao campo literário – consolidou-se a mistura: “Eu te amo, você é linda”, diz-se no registro íntimo, aquele em que a concordância tradicional soaria uma nota falsa.

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O “tu”, como se sabe, também deu um jeito de sobreviver na linguagem coloquial em determinados falares regionais brasileiros, mas desacompanhado da devida concordância verbal. “Eu te amo, tu é linda”. O que vem a ser a outra face da mesma moeda.

Nada disso é um drama ou prova de nossa inviabilidade cultural, como muitas vezes, de modo ingênuo e até cômico, comenta-se por aí. Simplesmente não há idioma em que a linguagem familiar e a linguagem formal – para não mencionar a literária – coincidam à perfeição.

Basta levar em conta o ambiente, o contexto, o tom, a intenção das palavras. E, de resto, tocar a vida.

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