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Por Sérgio Rodrigues
Este blog tira dúvidas dos leitores sobre o português falado no Brasil. Atualizado de segunda a sexta, foge do ranço professoral e persegue o equilíbrio entre o tradicional e o novo.
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Bizarro quer ou não quer dizer ‘estranho’?

“Acho divertida a palavra ‘bizarro’, que uso muito. Outro dia um professor me disse que eu uso errado, que ela na verdade não quer dizer estranho, esquisito. Achei bizarro, rs! Ele tem razão? Qual é o problema com bizarro, afinal?” (Mariana Fisher) Cara Mariana, a única restrição que o adjetivo bizarro talvez mereça sofrer, a […]

Por Sérgio Rodrigues
Atualizado em 31 jul 2020, 04h54 - Publicado em 28 nov 2013, 16h00

ecce homo

“Acho divertida a palavra ‘bizarro’, que uso muito. Outro dia um professor me disse que eu uso errado, que ela na verdade não quer dizer estranho, esquisito. Achei bizarro, rs! Ele tem razão? Qual é o problema com bizarro, afinal?” (Mariana Fisher)

Cara Mariana, a única restrição que o adjetivo bizarro talvez mereça sofrer, a esta altura do século XXI, está ligada ao modismo. A palavra vem sendo empregada em demasia, adquirindo no vocabulário de muita gente – sobretudo gente jovem – papel semelhante ao de uma gíria faz-tudo, o que pode ser empobrecedor ou, no mínimo, cansativo.

Feita essa ressalva, o sentido que você atribui à palavra – “estranho, esquisito, extravagante, esdrúxulo, estapafúrdio” – é tão dominante no português brasileiro contemporâneo que empregá-la na acepção original de “garboso, elegante, valente” é que seria um tanto… bem, bizarro.

Tentar conter o fluxo do desenvolvimento semântico das palavras, congelando-o, é tão tolo quanto inútil. E bizarro é uma palavrinha mutante como poucas.

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Recuando na história, vamos descobrir que ela penetrou na língua portuguesa em fins do século XVI, vinda do espanhol bizarro, com sentidos como “garboso, valente, generoso, nobre”. Ocorre que sua fonte provável, segundo a maioria dos etimologistas, era o italiano bizzarro, “colérico, fogoso” – derivado de bizza, “cólera”.

E o que tem a ver o colérico com o nobre? Boa pergunta. Como se vê, a primeira variação de sentido vinha embutida na palavra desde o berço.

Logo surgiu outra. Em meados daquele século XVI, o francês tinha ido buscar seu bizarre na mesma fonte italiana, segundo o Trésor de la Langue Française, mas alterando-lhe também o significado para “extravagante, singular”. Foi esse sentido francófilo que terminou exportado nos séculos seguintes – não só para o português, mas também para o inglês.

Sim, há os que torcem o nariz para esse tipo – inevitável, aliás – de contágio semântico. Chamam-se puristas e não primam pela coerência: por que condenar a influência do francês numa palavra importada do espanhol, que a importara do italiano? Porque esta é mais antiga do que aquela, só por isso. Na dinâmica das línguas vivas, o tempo é o maior inimigo dessa gente.

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E convenhamos que bizarro com o sentido de estranho está caindo de maduro. No verbete “bizarro” de seu “Dicionário de dificuldades da língua portuguesa”, publicado no distante ano de 1938, o purista lusitano Vasco Botelho de Amaral já pontificava:

Em português tem o significado de nobre, distinto, garboso, generoso, valente, varonil, viril. É galicismo corrente no sentido de esquisito, excêntrico, extravagante, especial, caprichoso, desusado.

Como se vê, a mesma tecla em que até hoje insiste o professor anônimo de Mariana – e muita gente. Bizarro, pois é.

*

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