O Brasil que celebra a tortura parece não estar satisfeito em atrasar o calendário para o ano de 1964. Como ficou provado no vídeo viral que mostra seguranças de um supermercado chicoteando um jovem negro despido e amordaçado — por ter roubado um chocolate —, o brasileiro quer voltar a antes de 13 de maio de 1888.
Empresários já veem oportunidades de negócio no retrocesso a uma tortura mais tradicional, mais rústica. “A ideia é juntar o retrô ao high-tech”, disse um empresário paulista que vê potencial no novo mercado. “Colocaremos no mercado um tronco com wi-fi e Bluetooth que já transmite os gritos do escravo para grupos de WhatsApp de gente de bem.”
O governo vê a tendência com bons olhos e já pensa em incluir o curso de capitão do mato nas novas escolas militares. “Imagina que lindo aqueles cavalos imponentes entrando nas vielas da favela para buscar os fujões”, disse uma senhora da Zona Sul do Rio que vai à missa todos os domingos.
Publicado em VEJA de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651