Em um território tanto brasileiro quanto uruguaio, o Parque Internacional, na divisa entre as cidades Santana do Livramento e Rivera, os ex-presidentes dos dois países, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Pepe Mujica, sentaram-se lado a lado na tarde desta segunda-feira. Enquanto Lula elogiou a trajetória de Mujica, o uruguaio aproveitou a ocasião para cobrar que a esquerda “cuide enormemente” da conduta de seus líderes, que devem adotar um estilo de vida do “povo” e não da “burguesia”, e criticou a centralização em uma figura única.
O encontro dos líderes é parte da agenda da caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul. Diferentemente da caravana em Bagé, que foi recebida nesta manhã com protestos de ruralistas e empresários, em Santana do Livramento Lula foi recebido efusivamente por seus apoiadores. Rafael Côrrea, ex-presidente do Equador, também esteve presente no ato.
“Nós, da esquerda, também cometemos erros. Também nos equivocamos. Não queremos aprender que as derrotas da esquerda são filhas de suas divisões. Desde a Revolução Francesa, da Espanha franquista, da Alemanha nazista, isso foi possível porque a esquerda se dedicou a lutar entre si, muito mais do que lutar com a direita. Temos de aprender, em toda a América Latina, que, sem unidade, não há poder. E que ninguém tem a verdade total. Nós que brigamos pela igualdade temos o dever de viver como vive a maioria do nosso povo, e não como vive a minoria privilegiada. Os partidos de esquerda têm de cuidar enormemente da conduta e da vida da gente que os representa. Porque a grande burguesia estende a mesa, nos convida e, por humanismo, temos de ir. Mas a mesa é deles”, disse Mujica.
Atualmente senador, Mujica também criticou a centralização de lideranças em uma “figura única”. “As mudanças [sociais] não podem se respaldar em uma figura única e o futuro não é uma figura única. Há que se construir o partido”, disse o uruguaio. Ele também afirmou que “as verdades são relativas” e que não se “deve dividir a esquerda por qualquer coisa”.
Por sua vez, Lula mencionou a probabilidade de ser preso em decorrência da condenação em segunda instância pelo caso do tríplex do Guarujá. O ex-presidente brasileiro chegou a sugerir que poderia ter aproveitado a caravana para se exilar no Uruguai ou no Paraguai, mas que quem vai sair do país são seus opositores. “Estou sendo processado, você sabe, estou sendo ameaçado de prisão, você sabe. Passei ali na fronteira, poderia ter dado um pulo para o Paraguai, para o Uruguai, não dou. Sabe por quê? Porque mais dia ou menos dia, quem vai sair do país são os meus acusadores de hoje. Eles inventaram uma mentira a meu respeito”, disse Lula.
Lula também acusou os Estados Unidos de interferirem na política brasileira. “Tem o dedo do governo americano em todo esse processo mentiroso que está acontecendo no Brasil. O dedo da Secretaria de Justiça dos Estados Unidos. Está ficando cada dia mais claro quem é que está fazendo o que nesse país”, disse o petista.
“Eu aprendi a levantar a cabeça, não sou de baixar a cabeça, Pepe. Quero que você saiba que nós vamos enfrentar, que vamos vencer. E, se for possível e meu partido quiser, eu vou ser candidato a presidente da República. Se for candidato, é muito provável que a gente ganhe as eleições”, disse Lula.
A próxima parada da caravana “Lula pelo Brasil” será na região central do estado, na cidade de Santa Maria, na terça-feira. Na quarta, Lula passará por São Borja; na quinta ele estará em Palmeira das Missões; e, na sexta, em Ronda Alta, Passo Fundo e São Leopoldo.