Daniel Silveira afirmou que foi usado como “boi de piranha” para melhorar a relação da Câmara com o Supremo Tribunal Federal (STF).
É uma piada pronta que um bolsonarista-raiz — grupo que costuma ser chamado de “gado do Bolsonaro” pelos antibolsonaristas — se refira a si mesmo como “boi”, mas não chega a surpreender. Afinal, Daniel não prima pelos dotes intelectuais: achou que seu crime ia ficar por isso mesmo, depois achou que a Câmara o libertaria imediatamente, depois achou que ia passar uma única noite na cadeia, e achou que ia tirar a cadeia de letra (diz que chora quase todo dia).
Daniel não entendeu nada antes, e continua não entendendo nada agora. O crime de Daniel não melhorou a relação da Câmara com o Supremo, muito ao contrário: quase provocou um impasse institucional. Não há nada pacificado entre os dois Poderes, e o Supremo continua indignado com a Câmara, boa parte da qual a favor da PEC da Impunidade que Arthur Lira tentou aprovar no susto.
Daniel foi boi de piranha, sim, mas do bolsonarismo. É o bolsonarismo que precisa testar limites para saber até onde pode ir, e, graças a Daniel, descobriu. É o bolsonarismo que o traiu: Bolsonaro fez cara de paisagem, e os deputados bolsonaristas recuaram na defesa que dele faziam. As chances de Bia Kicis (agora vista como moderada graças à comparação com o brucutu) de emplacar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça aumentaram.
Ainda que, por algum motivo, Daniel consiga sair da cadeia em breve, dificilmente escapará de ser condenado no Supremo, e cada um dos três crimes por que foi denunciado dá de 1 a 4 anos de cadeia. Na melhor das hipóteses, Daniel começará a cumprir sua sentença no início de 2023.
Como Sara Winter, Daniel começou a chorar. Em breve entenderá, como Sara entendeu, que o radicalismo bolsonarista só atrapalhou sua vida.