Segundo a jornalista Malu Gaspar, governo decidiu pagar os dividendos extraordinários da Petrobras, retidos desde março.
Ninguém sabe por que Lula e os ministros Rui Costa (Gabinete Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) acharam boa a ideia de reter os dividendos, mas todo mundo sabe qual foi a consequência: o valor da empresa caiu 10% em único dia.
A decisão parece indicar que o trio entendeu a besteira e está tentando recuperar a confiança do mercado. A cotação da Petrobras, naturalmente, subiu.
Mas isso não significa que o mercado acredite que o governo permitirá que a Petrobras tenha uma gestão profissional. Nem de longe.
Primeiro, porque o governo já mostrou que está disposto a interferir pesado na empresa. E se mostrou, mostrado está: o vaso quebrou e os cacos não podem ser colados.
Segundo, porque a decisão, mesmo que na direção certa, é, em si, uma interferência. A decisão foi tomada por Lula, por recomendação de três ministros (Costa, Silveira e Fernando Haddad). O presidente da empresa, Jean-Paul Prates, não estava sequer presente. O governo continua tomando decisões que não são suas, mas da Petrobras.
Terceiro, porque a empresa continua em tumulto. Prates está sendo fritado. Furioso, pediu a Lula uma reunião “definitiva”. Aliados dizem que Lula está disposto a trocar Prates. E que o principal candidato seria Aloísio Mercadante, que hoje preside o BNDES.
A ser isso mesmo, o que se vê é o seguinte:
- A Petrobras continua sendo administrada do Planalto.
- Prates, que queria fazer a coisa certa, cai.
- Costa e Silveira, que fizeram a coisa errada, ficam. E com prestígio — apesar de Costa estar no centro de um escândalo de corrupção (ligado ao combate à Covid-19).
- O favorito para assumir a empresa é Mercadante, que já deixou claro várias vezes que quer fazer (muitas) coisas erradas.
Se o governo acha que, desse jeito, vai conseguir botar a bola no chão e seguir em frente sem outras turbulências, pode tirar o cavalinho da chuva.
(Por Ricardo Rangel em 04/04/2024)