Parceria Lula e Alckmin: boa para um, perigosa para o outro
Enquanto o petista posa de moderado, o futuro ex-tucano se arrisca a perder votos
A despeito do incômodo dos petistas, segue animado o bailado entre os velhos inimigos Lula e Alckmin para a composição de uma chapa presidencial.
Ao atrair Alckmin para seu palanque, Lula constrói a narrativa de que é moderado e pacificador, está disposto a perdoar velhos inimigos em prol do bem do Brasil etc. etc.
É conversa fiada. A “moderação” de Lula é a de sempre: defende ditaduras, afirma que o mensalão e o petrolão nunca existiram e a Lava-Jato foi uma conspiração estadunidense, faz propostas economicamente irresponsáveis e suicidas, só se aconselha com petistas (a única pessoa de centro com quem conversa é o próprio Alckmin).
Já Alckmin diz que cogita apoiar Lula por causa da necessidade de formar uma aliança para barrar Bolsonaro e defender a democracia. É conversa fiada. Fazer chapa com Lula sem acordo programático, sem trazer mais ninguém junto, e de forma incondicional, não é aliança democrática. É adesão interesseira.
O que Alckmin quer é sair do limbo em que o jogou João Doria e voltar a ter algum protagonismo. Mas corre o risco de trocar seis por meia dúzia, e ir do limbo onde está direto para o limbo do Palácio do Jaburu. Ou alguém em sã consciência acredita que Alckmin terá voz ativa em um governo petista? Lula dará menos trela ao paulista do que Dilma deu a Temer. (Isso se o PT ganhar a eleição, o que é só certo na cabeça dos petistas.)
À medida que as conversas avançam, Lula ganha votos por conta da fachada da moderação e da magnanimidade, mas Alckmin se arrisca a perder votos entre seus eleitores mais conservadores — que são muitos.
É uma parceria torta: um só tem a ganhar, o outro tem muito a perder.