Ô, semana maluca
Seja na política municipal, estadual ou federal, ou mesmo na alta cultura ou nas finanças das grandes corporações, foi uma semana cheia de coisas esquisitas
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, demitiu de seu secretariado Chiquinho Brazão. Desempregado, o irmão de Domingos — que, especula-se, pertenceria à milícia e constaria da delação do assassino de Marielle Franco — reassumiu seu posto como deputado federal.
Com a volta do titular, o suplente, deputado em exercício Ricardo Abrão, ficou sem ter o que fazer. O prefeito, que já estava com a caneta na mão, aproveitou para nomear Ricardo para a mesma secretaria. Ricardo é sobrinho de Anísio Abrão David, um dos maiores bicheiros do Rio.
Foi também no Rio que a polícia encontrou um computador identificado como “computador guardião” e que trazia um alerta para não ser conectado à internet, informa Bela Megale. Estava no gabinete de Carlos Bolsonaro, principal propagandista e filho do homem que até há pouco mais de um ano ocupava o cargo de supremo mandatário do país.
Por falar em Jair Bolsonaro, seu discípulo mais proeminente, que certa vez equiparou o ex-presidente a Churchill e Roosevelt, Tarcísio de Freitas, confraternizou com o maior desafeto do antigo chefe.
Disse o governador de São Paulo: “Me sinto privilegiado de estar celebrando essa parceria federal (…), presidente Lula, e nós vamos fazer isso juntos (…) vamos deixar um legado trabalhando juntos, muito obrigada pela parceria, presidente”. A militância bolsonarista foi sutil: “volta pro PT, Tarcísio!”
Enquanto a extrema-direita cancelava o expoente bolsonarista, a esquerda feminista cancelava um dos maiores expoentes da literatura de todos os tempos. Para o movimento que há cinquenta anos fazia a revolução sexual e pregava o sexo livre, Franz Kafka ter gostado de pornografia e frequentado bordéis há cem anos é imperdoável.
Saindo dos cancelamentos retóricos e indo para os financeiros, descobriu-se a identidade do homem que conseguiu cancelar na Justiça o bônus de Elon Musk na Tesla. O — até ontem — homem mais rico do mundo tomou um tombo de 277 bilhões de reais por causa de uma ação movida por um baterista de heavy metal que detinha apenas 9 (nove!) ações da empresa.
Que semaninha doida.
(Por Ricardo Rangel em 02/02/2024)