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O ano em que vivemos perigosamente acabou. O que esperar de 2024?

Está na hora de reverter o perigo e retomar o caminho do bom senso

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 jan 2024, 14h43 - Publicado em 2 jan 2024, 14h41

2023 acabou. Foi um ano em que vivemos perigosamente.

Houve a intentona bolsonarista, a ocorrência de incêndios no Pantanal triplicou, e, em Maceió, houve um desastre ambiental que desabrigou dezenas de milhares de brasileiros.

Lula alimentou o ódio e a polarização política e namorou a irresponsabilidade fiscal. O STF perdeu ainda mais o metron, o senso de medida que deveria ser sua principal característica. O Senado colidiu com o Supremo e a Câmara expandiu um poder que não lhe cabe.

O perigo não é o Zeitgeist apenas no Brasil. O ditador Putin prossegue na agressão à democrata Ucrânia. O Hamas cometeu o maior pogrom em 70 anos, e o antidemocrata Netanyahu promove um bombardeio que já matou dezenas de milhares. O antissemitismo cresce, a islamofobia também, e a hipótese de convivência pacífica entre judeus e árabes parece cada vez mais remota.

A relação entre EUA e China se deteriora. No primeiro, o democrata Joe Biden é um governante fraco e o autoritário Trump é o favorito para a eleição de novembro. Na segunda, o ditador Xi Jiping ameaça anexar a democrata Taiwan. Como se tudo isso fosse pouco, batemos o recorde mundial de calor e não há sinal de que os países estejam efetivamente comprometidos com o combate ao aquecimento global.

Em O Segundo Advento (abaixo, em tradução livre), o irlandês William Butler Yeats fala de uma realidade em que “as coisas desmoronam; o centro não se sustenta” e “os melhores carecem de toda convicção, enquanto os piores / estão cheios de intensidade apaixonada”.

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O poema foi escrito em 1919, imediatamente após o banho de sangue da Primeira Guerra, do desaparecimento de quatro impérios europeus, da Revolução Russa. Em plena gripe espanhola e no início da guerra de independência da Irlanda. É um tempo de perplexidade, dúvida, confusão, populismo, intolerância, extremismo. De perigo.

No final, Yeats aponta para um apocalipse que anuncia o Segundo Advento não do Messias, mas do caos e da destruição. O poema é profético: logo a Europa veria as tiranias nazifascistas e soviética, a guerra civil na Irlanda, a Segunda Guerra Mundial, a bomba atômica.

Passados 100 anos, o tempo que vivemos é de novo de perplexidade, dúvida, confusão, populismo, intolerância, extremismo. De perigo.

Que 2024 traga não um apocalipse, não um segundo advento, mas um ponto de inflexão, de restauração do bom senso, de reversão do perigo.

O Segundo Advento
(W. B. Yeats)

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Girando e girando em espiral crescente,
O falcão não consegue ouvir o falcoeiro;
As coisas desmoronam; o centro não se sustenta;
A anarquia bruta avança sobre o mundo.

A maré de sangue avança, e por toda parte
A cerimônia da inocência se afoga;
Os melhores carecem de toda convicção, enquanto os piores
Estão cheios de intensidade apaixonada.

Algum apocalipse deve estar próximo;
O Segundo Advento deve estar próximo.
O Segundo Advento! Assim que essas palavras são pronunciadas,
Uma enorme imagem do Espírito do Mundo
Turva minha visão: um deserto de areia;
Uma forma com corpo de leão e cabeça de homem,
Um olhar vazio e impiedoso como o sol
Move suas coxas lentas, enquanto a seu redor
Se enrolam sombras das aves indignadas do deserto.
Novamente caem as trevas, mas agora sei
Que vinte séculos de sono de pedra
Foram transformadas em pesadelo por um berço balançante,
E que fera brutal, cuja hora enfim chega,
Arrasta-se em direção a Belém para nascer?

(Por Ricardo Rangel em 02/01/2024)

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