Ir para a reserva não é punição
Se Pazuello não sofrer uma punição dura, estará dada a senha para a baderna militar
Jair Bolsonaro tem um gosto especial por desmoralizar o Exército Brasileiro.
Vive chamando a corporação de “meu exército”.
Fez com que três generais de quatro estrelas afirmassem em juízo que a “segurança” a que se referiu na reunião de 22/4/20, que todo mundo sabe que era a Polícia Federal, era sua segurança pessoal.
Aterrorizou um general de quatro estrelas, o ministro Luiz Eduardo Ramos, a tal ponto que ele, como um menino medroso, se vacinou escondido (não foi o único: pelo menos mais um fez o mesmo).
Para comprar apoio no Congresso, Bolsonaro fez com que o mesmo general Ramos concedesse ao centrão um orçamento secreto de bilhões de reais.
Levou um general de quatro estrelas, o ministro Augusto Heleno, que certa vez disse que “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, a dizer — agora, que o centrão apoia Bolsonaro — que o bloco fisiológico não existe.
Promoveu manifestação golpista em frente ao quartel general do Exército Brasileiro. Levou diversos oficiais generais a manifestações golpistas. Obrigou o ministro da Defesa, um general de quatro estrelas, a sobrevoar uma manifestação golpista.
Demitiu sumariamente o ministro do Exército e o comandante do Exército.
Para blindar-se na CPI da Covid, fez com que um general da ativa, Eduardo Pazuello, cometesse crime de falso testemunho, mentindo em juízo várias vezes.
E, muito, muito mais.
A cada vez que Bolsonaro constrangeu e humilhou o Exército, notícias circularam de que os generais do Alto Comando teriam ficado amuados, incomodados, insatisfeitos, irritados.
E o que os garbosos generais do glorioso Exército Brasileiro fizeram a respeito?
Nada.
Agora o general Pazuello, rasgando o Estatuto e o Regulamento Disciplinar militares, quebrando a hierarquia e a disciplina, participou de ato político eleitoreiro em favor do presidente.
Se Pazuello não for punido, estará dada a senha para a baderna militar.
O Alto Comando precisa dar ao general delinquente o tratamento adequado. Mandá-lo para a reserva ou adverti-lo não serve: será um prêmio, e equivalerá a usar a farda do comandante Paulo Sérgio para lustrar os coturnos de Bolsonaro.
Pazuello merece no mínimo cadeia.
Mas, dada a recalcitrância e o cinismo do ex-ministro, deveria mesmo é ser expulso da corporação.