Devagar, Lula vai puxando o tapete do PSB
Jogando parado, sem se comprometer com nada, o ex-presidente prejudica as candidaturas de Alckmin, Márcio França, Doria e muitas outras
Alckmin ainda nem se filiou ao PSB, mas o partido já está em pé de guerra, porque o PT não se compromete nem com o suposto vice nem com coisa nenhuma.
Mas por que a surpresa?
Estranho seria se fosse diferente. Em 40 anos de vida pública, Lula nunca abriu mão de ter uma posição hegemônica. Estranho é que políticos experientes, que conhecem Lula há muito tempo, ainda se surpreendam.
Ao acenar a Geraldo Alckmin com a vaga de vice em sua chapa, Lula não estabeleceu uma parceria. O que ele fez foi o seguinte:
- Estimulou o ex-governador a sair do PSDB, criando irritação em setores do partido e acirrando o ressentimento contra seu rival João Doria.
- Esvaziou a candidatura de Alckmin ao governo de São Paulo.
- Impôs ao PSB candidaturas petistas em vários estados, com destaque para a de Fernando Haddad em São Paulo, que esvazia a de Márcio França.
- Criou um problema do tamanho de um bonde para os socialistas mais refratários ao PT, como a deputada Tábata Amaral e o prefeito do Recife, João Campos.
- E, claro, sem nenhuma promessa concreta, estimulou a narrativa de que estava se aproximando do centro, ganhando a boa vontade de quem não estava prestando muita atenção.
Tudo isso em troca de olhares doces e sorrisos meigos.
E se, daqui a uns meses, Lula disser que, vejam só, que pena, infelizmente não foi possível chegar a um acordo, de modo que o PT vai lançar uma chapa puro-sangue… como é que fica?
Alckmin e o PSB ficam pendurados na broxa.
Sem espaço na chapa presidencial, sobrará para Alckmin a candidatura ao governo, lugar hoje ocupado por Marcio França. Mesmo que não haja briga, o partido terá perdido um tempo importante na articulação da candidatura. Se houver briga, a candidatura tende a se inviabilizar. Para Fernando Haddad, um cenário é excelente, o outro é maravilhoso.
E no plano nacional, preterido na vaga de vice, o que fará o PSB?
Apoiará Lula, claro. Vai fazer o quê?