Democratas… pero no mucho
A ausência de agora combina com a conduta pregressa de Lira, Tarcísio, Zema, Castro e tantos outros
No dia 9 de janeiro de 2023, imediatamente após a intentona bolsonarista do ano passado, todos os governadores, assim como os presidentes do Senado e da Câmara, se juntaram ao presidente da República e aos ministros do STF, e caminharam juntos, em apoio à democracia, do Palácio do Planalto até a sede do Supremo.
Um ano depois, no ato em prol da democracia desta semana, o presidente da Câmara, Arthur Lira, e quase metade dos governadores, entre eles Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Claudio Castro (Rio de Janeiro), preferiram se ausentar do ato em celebração da democracia. Acharam que, comparecendo, teriam mais a perder do que a ganhar.
Não que chegue a surpreender: a ausência de agora combina melhor com a conduta prévia dos faltosos do que o comparecimento do ano passado: nos anos Bolsonaro, todos foram extraordinariamente tolerantes, quando não servis, ao então presidente. E agora, em vez de contribuir para unir o país na defesa da democracia, preferiram partidarizar o ato desta semana, como se a democracia fosse um valor da esquerda e não um ideal suprapartidário.
A democracia não viveu com a espada sobre a cabeça por quatro anos nem chegou à beira do precipício no dia 8 de janeiro por acaso. Foi porque os principais interessados na existência da democracia acharam que, em vez de defendê-la, ganhariam mais se aplacassem o apetite autoritário de Bolsonaro.
Talvez os ausentes não se lembrem que, na ditadura que Bolsonaro sempre elogiou e desejava restaurar, não havia eleição para governador. Nem mesmo para presidente. O Congresso não legislava sobre matéria financeira. Volta e meia algum político era preso.
Tarcísio certa vez equiparou Bolsonaro a Churchill. Vale lembrar o que o velho buldogue achava de aplacadores: “o aplacador é alguém que alimenta o crocodilo na esperança de que ele o devore por último.”
Em tempo: segundo a Folha de S. Paulo, os comandantes militares, considerando que o ato teria um “caráter político”, de modo que sua presença seria dispensável. Ainda bem que compareceram. É forte a impressão na sociedade de que as Forças Armadas não têm compromisso com a democracia. E a ausência dos comandantes só confirmaria essa impressão.