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Caso Marielle: potencial para uma nova Lava-Jato?

Quer entender por que esse caso é tão difícil? Leia aqui

Por Ricardo Rangel Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 mar 2024, 19h48 - Publicado em 28 mar 2024, 19h45

“Puxa-se uma pena e vem uma galinha”, disse certa vez o ministro Teori Zavascki, do STF, a respeito da Lava-Jato.

Se deixarem, a investigação sobre o assassinato de Marielle Franco tem tudo para ir pelo mesmo caminho. Pelo que se sabe até agora…

Ronnie Lessa tinha dois contratos simultâneos — um para matar Marielle, encomendado pelos irmãos Brazão, e outro para matar Regina Celi Duran, presidente da escola de samba Salgueiro, encomendado pelo bicheiro Bernardo Bello — ambos intermediados por Edmilson Macalé (devidamente assassinado). 

Bello é ex-marido de Tamara, neta de Miro Garcia, filha de Maninho e irmã de Shanna. Os Garcia formam um dos principais clãs do bicho e há uma guerra fratricida entre Bello e Shanna. O Salgueiro é um dos campos de batalha, e Regina Celi é ligada a Shanna.

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Shanna é mulher de Rafael Alves, irmão do presidente da Riotur, empresa municipal de turismo, na gestão do prefeito Marcello Crivella. Rafael era tido como eminência parda no governo Crivella e foi apontado pelo MPRJ como chefe de um “QG da Propina” na prefeitura.

Bello também está em guerra com Rogério Andrade, um dos maiores banqueiros do bicho do Rio. Muita gente diz que quem mandou matar Maninho Garcia foi Rogério — e que, apesar disso, Rogério e Shanna são aliados contra Bello. Ronnie já foi segurança e sócio de Rogério Andrade.

Os irmãos Brazão são ligados à milícia de Jacarepaguá, que inclui a favela de Rio das Pedras, onde dava as cartas o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da principal quadrilha de matadores de aluguel do Rio. Ronnie tinha uma academia em Rio das Pedras, mas foi expulso por Adriano.

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Adriano matou Zé Personal, antes marido de Shanna Garcia, consta que matou o ex-patrão por encomenda de Bernardo Bello. Lessa diz que Personal era seu amigo, e seu desentendimento com Adriano começou aí.

Adriano era muito próximo de Fabrício Queiroz, amigo do peito de Jair Bolsonaro há quase 40 anos. Apresentado por Queiroz, ficou próximo da família Bolsonaro. O MPRJ afirma que Adriano estava na “rachadinha” de Flávio Bolsonaro. E Jair Bolsonaro interferiu fortemente na investigação do caso Marielle (veja aqui).

O depoimento do miliciano Orlando Curicica transformou Adriano em principal suspeito; o matador sumiu, mas acabou morto pela PM na Bahia em uma operação controversa. A viúva afirma que o contrato de Marielle teria sido oferecido a Adriano, mas recusado. A irmã de Adriano já afirmou que a “queima de arquivo” (palavras dela) teria sido decidida “no Planalto”.

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A base do negócio da milícia é o território: de posse dele, a milícia constrói e vende imóveis, explora transporte (vans) e comércio de água, gás, “gatonet” etc. Daí o interesse dos Brazão em regularizar os loteamentos e o interesse de Lessa em matar Marielle para receber seus lotes. É crucial obter licenças no estado e no município e contar com a vista grossa da polícia. A milícia não pode existir sem ter ligações profundas com o Poder público.

No governo do estado desde 2019, Claudio Castro já teve cinco chefes de polícia, sendo que dois foram presos e um teve como padrinho um deputado com ligações com a milícia (a mesma que apoiou a deputada Daniela Carneiro, ex-ministra do Turismo, mulher de “Vaguinho”, prefeito de Belford Roxo).

E teve cinco encarregados da Delegacia de Homicídios da Capital, entre eles Giniton Lajes (anda com tornozeleira) e Daniel Rosa (segundo Lauro Jardim, o “Suel”, implicado no caso Marielle, esperava que tivesse sido preso). Mesmo que fossem os policiais mais honestos do mundo, com tanta troca seria mesmo impossível investigar.

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Na Assembleia estadual, Domingos Brazão foi deputado estadual cinco vezes. Nomeado conselheiro do TCE pelo ex-governador Pezão, foi aprovado por 61 dos 66 deputados que votaram (só o PSOL votou contra). Preso na Lava-Jato e suspenso do TCE, Domingos foi reintegrado ao tribunal em 2021 por decisão de Kassio Marques, do STF (nomeado por Bolsonaro no ano anterior).

Chiquinho Brazão foi eleito vereador quatro vezes e deputado federal, duas. Na prefeitura, foi secretário de Ação Comunitária do prefeito Eduardo Paes. Exonerado na esteira do escândalo, Paes nomeou Ricardo Abrão, sobrinho de Anísio Abrão David (um dos principais bicheiros do Rio) para a mesma pasta. O relatório da Polícia Federal indica que os Brazão e Ricardo Abrão são sócios em pelo menos um empreendimento. Recentemente, Paes lançou o filho de Chiquinho, Kaio, candidato a vereador.

O mecanismo é simples: o crime organizado elege seus representantes, e eles garantem que o crime organizando obtenha as vantagens necessárias para continuar operando, ganhando dinheiro e tendo as condições para eleger seus representantes.

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O caso Marielle, com sua curiosa co-incidência com o contrato para matar Regina Celi, traz para o rolo tanta gente poderosa (e perigosa) que nem dá para contar. Não admira que a investigação tenha sido obstruída por tanto tempo e com tanto sucesso.

Falta saber se a “solução” do caso Marielle vai ser tratada como uma exceção, um sucesso isolado usado para marquetagem política, ou se vai ser o início de uma investigação mais ampla.

Porque se vier uma investigação para valer, puxando uma pena, não virá só uma galinha.

Virá o galinheiro inteiro.

(Por Ricardo Rangel em 28/03/2024)

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