Bolsonaro parte para o chutzpah
A ação serve para tumultuar e desviar a atenção. Mas deveria servir para arrancar Arhur Lira e Rodrigo Pacheco do sono da cumplicidade
“Chutzpah” é uma palavra iídiche para definir um descaramento chocante, como no caso do adolescente que mata os pais, mas pede compaixão porque, afinal, coitado, é órfão.
Bolsonaro entrou no Supremo com uma ação de abuso de autoridade contra o ministro da Corte Alexandre de Moraes. Acusa o ministro de ter realizado “sucessivos ataques à democracia, desrespeito à Constituição e desprezo aos direitos e garantias fundamentais”.
Considerando-se que Bolsonaro todo dia ataca a democracia, desrespeita a Constituição e despreza os direitos e garantias fundamentais, e Alexandre — em que pesem seus muitos erros e excessos — é justamente o maior defensor das instituições atacadas, a ação do presidente se qualifica para a categoria “chutzpah” do Guinness Book of World Records.
O efeito judicial da ação será, evidentemente, zero. O presidente do Supremo, Luiz Fux, a jogará na lata do lixo sem sequer abri-la. Mas o efeito político será o de sempre: alimentar o clima de guerra, mobilizar a militância, pavimentar o caminho para a tentativa de melar as eleições, manter o nome de Bolsonaro nas manchetes e criar uma cortina de fumaça para distrair do assunto que mais interessa à população: o desastre econômico.
O efeito que deveria ter, a ação lamentavelmente não terá. Ela deveria acordar Arthur Lira e Rodrigo Pacheco para o risco que se aproxima, mas os dois, cooptados pelos bilhões do orçamento secreto, continuarão a dormir o doce e letárgico sono em que estão embalados. Seguirão inertes e inermes. E cúmplices.
Como sempre, Bolsonaro terá vencido mais uma.