Vocês assistiram ao primeiro dia da campanha eleitoral dos que querem se impor em São Paulo na base do berro, dos socos e dos chutes
Meia-dúzia de gatos pingados — dado que São Paulo tem 11,4 milhões de habitantes — resolveu organizar um protesto no Centro de São Paulo contra a desocupação do Pinheirinho, a retomada da Cracolândia pelo estado democrático e de direito e sei lá quantas outras medidas tomadas pela legalidade. A PM fala em 200 manifestantes. Os […]
Meia-dúzia de gatos pingados — dado que São Paulo tem 11,4 milhões de habitantes — resolveu organizar um protesto no Centro de São Paulo contra a desocupação do Pinheirinho, a retomada da Cracolândia pelo estado democrático e de direito e sei lá quantas outras medidas tomadas pela legalidade. A PM fala em 200 manifestantes. Os que promoveram a baderna dizem ter reunido mil pessoas. Um número ou outro, trata-se de uma manifestação da extrema minoria. Quando se considera o número de “entidades” que o promoveram, o número de siglas é quase tão grande como o de pessoas. Vimos os métodos e os argumentos: pancadaria, confronto com a polícia, socos, chutes, mastro de bandeiras na cabeça. É o que entendem por democracia: espancar os adversários. E, é evidente, acusam a Polícia Militar de ser violenta.
Em tese, o dito protesto foi organizado por um troço chamado “Luz Livre”, que reuniria aquela pletora de movimentos. De fato, quem enviou mensagens à imprensa foi um grupo que se denomina “Coletivo Desentorpecendo a Razão”, aquele mesmo que promoveu uma churrascada na cracolândia. Até outro dia, essa turma tinha como proposta principal a descriminação da maconha. Entenderam? Os valentes acreditam que a venda de maconha tem de deixar de ser crime — e, quero crer, de todas as drogas — para que a razão saia do entorpecimento. Huuummm… Com essa notável visão de mundo, promoveram aquele espetáculo grotesco com os pobres desgraçados da creacolândia, que já não podem mais ser socorridos pela razão — entorpecida ou não. Terminada a churrascada, voltaram para seus lares “burgueses”, deixando lá os mortos-vivos que servem a seu proselitismo.
Manifestações que evoluem para a pancadaria, o que pede a ação da polícia, sempre dão a impressão de que há muita gente na rua, tratando de questões sérias e graves. Sabemos que não. Aquela gente que estava lá foi amplamente derrotada pela opinião pública. Pesquisa Datafolha publicada hoje pela Folha demonstra que nada menos de 90% – !!! – dos brasileiros é favorável, por exemplo, à internação forçada de viciados. Tanto isso é verdade que até os petistas graúdos, que nunca ligaram para o assunto, passaram a defender a medida.
Pois bem… O tal Desentorpecendo a Razão era, até outro dia, só o ajuntamento de uma turminha defendendo a descriminação ou legalização da maconha, procurando emprestar à sua “luta” certo viés político, com algum apelo a teóricos do anarquismo. Robusteceu-se de repente. Foi do seu e-mail que partiu a convocação para a manifestação desta quarta em São Paulo. Reproduzo na íntegra, em vermelho:
De: Coletivo DAR – Desentorpecendo A Razão
Enviada em: terça-feira, 24 de janeiro de 2012 12:56
Para: undisclosed-recipients
Assunto: Pauta: 25/1, 8h na Sé, nova manifestação contra ações militares de Alckmin e Kassab Especulação extermina: basta de trevas na Luz e em São Paulo!Depois de churrascão e em apoio aos removidos do Pinheirinho, novo ato contra a militarização usará cobertores para ir até Alckmin e Kassab na manhã desta quarta-feira, 25, em São Paulo, na Praça da SéMoinho, Pinheirinho, “Cracolândia”.
Além de décadas de descaso por parte do poder público, estas regiões ganharam um novo elemento em comum: o terrorismo de Estado, que carrega consigo inúmeras denúncias de abuso de autoridade, racismo, violação de direitos humanos e tortura. Fica cada vez mais evidente que a política do governo paulista está calcada na militarização como instrumento de garantia dos lucros da iniciativa privada que a financia. Fica também cada vez mais claro que é hora de dizer BASTA.
A população paulista não pode mais tolerar que questões sociais complexas como consumo de drogas ou habitação sejam “resolvidas” por meio da violência policial pura e simples, desrespeitosa de todo e qualquer direito, de toda e qualquer lei que ainda possa vigorar em nosso “Estado de Direito”, cada vez mais de direita.As políticas de “dor e sofrimento” implementadas pelos governos de Kassab e Alckmin – e pouco ou nada combatidas pela esfera federal – dizem respeito a todos os cidadãos e cidadãs, sejam usuários de drogas ou não, tenham sido despejados violentamente de suas casas ou não.
Estão em jogo a capacidade de resolvermos nossos problemas através do diálogo, a implementação verdadeira da democracia, o direito à cidade e à políticas públicas efetivas, o respeito aos direitos humanos e à Constituição, o fim do aparelho repressivo implementado na ditadura militar que deveria ter acabado em 1985.Não é exagero dizer que, com estes governantes, são nossas vidas que estão em jogo. Soluções só se materializam se os problemas estruturais – da desigualdade, do controle da política por parte das corporações, da falta de democracia real – forem enfrentados.
Quarta-feira, dia 25, na Praça da Sé, mais de 60 grupos, entidades e movimentos sociais dirão um imenso NÃO à criminalização da população pobre e à militarização de São Paulo e um SIM à implementação de políticas de saúde, moradia, educação, cultura e emprego que respeitem os direitos humanos e a dignidade das pessoas. Nos juntamos também à exigência de suspensão imediata da desocupação do Pinheirinho, com retorno das famílias às suas casas na área anteriormente ocupada.Grande ato ESPECULAÇÃO EXTERMINA: BASTA DE TREVAS NA LUZ E EM SÃO PAULO!Concentração a partir das 8h, na Praça da Sé.
Caminhada rumo ao Pátio do Colégio, onde Alckmin e Kassab estarão, por volta das 10h.
Atividades culturais (10 grupos de teatro confirmados, música hip hop, dança) na Luz no período da tarde. Manifesto e entidades que formam o movimento https://luzlivre.wordpress.com/
Contatos com imprensa:
Paulo – 8203 XXXX
Isabel – 6583 XXXX
Pedro – 9562 XXXX
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Está formalmente bem escrito. Não é coisa de maconheiro amador. Não se trata mais apenas de um grupelho com uma causa marginal. O que vai acima é linguagem política organizada, com, vejam vocês!, até mesmo uma equipe para fazer assessoria de imprensa. A turma foi muito longe, inclusive na calúnia e na difamação. Dá curso à mentira estúpida de que há mortos na operação do Pinheirinho e publica uma fotomontagem em que o governador Geraldo Alckmin aparece caracterizado como Hitler. Sua página se transformou num libelo contra o PSDB e a administração tucana em São Paulo. A quem interessa?
Quem deu a senha para a difamação das autoridades públicas em São Paulo e se lançou contra a aplicação da lei? Ora… O núcleo da resistência, como é sabido, está em Brasília. O QG contra a retomada da Cracolândia estava na Secretaria Nacional de Direitos Humanos. A palavra de ordem para a difamação do governo do Estado, da polícia e da Justiça de São Paulo foi dada, na prática, por Gilberto Carvalho, os olhos de Lula no governo e um dos principais auxiliares da presidente Dilma Rousseff.
NUNCA SE ESQUEÇAM: O PRIMEIRO ÓRGÃO DE IMPRENSA A VEICULAR A MENTIRA DE QUE HAVIA MORTOS NO PINHEIRINHO, O QUE FOI PARAR NA IMPRENSA INTERNACIONAL, FOI A EBC, COMANDADA PELO PETISTA NELSON BREVE. Ainda voltarei a esse tema hoje.
Chegou a hora
Chegou a hora de o Estado democrático e de direito coibir os criminosos que recorrem à Internet para espalhar calúnias. A liberdade de expressão não confere a ninguém a liberdade de caluniar — continua a ser um crime, pouco importa o meio. Se há grupos espalhando a mentira de que a Polícia Militar esconde corpos do Pinheirinho, é a instituição que está sendo atingida. Os responsáveis têm de arcar com as conseqüências, não é?
Atenção, paulistas, e paulistanos em particular: o que se viu hoje, com aquela minoria de violentos na rua, foi o primeiro dia de uma campanha eleitoral que deve mergulhar fundo na baixaria. Vale tudo para tentar conquistar a Prefeitura de São Paulo e, depois, quem sabe?, o governo do Estado.
Na prática, os paulistanos terão de escolher entre os que defendem que áreas da cidade possam ser sitiadas por grupelhos e os que entendem que o patrimônio coletivo é público. Na prática, os paulistanos terão de escolher entre os que defendem que as leis democráticas têm de ser cumpridas e os que entendem que certas categorias têm o direito de se impor na base do berro e da pancadaria.
Se os que se opõem ao PT na cidade deixarem claro que essas são as duas alternativas, poderão enfrentar a máquina organizada em Brasília e operada em São Paulo por suas franjas fascistóides. Se ficarem com medo de fazer o correto debate político, então serão engolidos pela truculência daquela meia-dúzia de gatos pingados.