Há pouco, o JN exibiu uma reportagem sobre a campanha do desarmamento, com direito a depoimento de José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado. Todos se dispensaram de dizer o que uma coisa — a posse legal de armas — tem a ver com outra: a tragédia havida no Rio. Assim, a violação da lógica fica apenas como algo subentendido. Pessoas que eventualmente se oponham à proposta não foram ouvidas. Ainda que se tivesse tentado ouvi-las — pelo encadeamento da reportagem, acho que não —, o provável é que não se tivesse encontrado ninguém. Afinal, convenham: se os que querem a campanha são a favor da paz e estão horrorizados com a morte das escolas, que papel restaria a quem é contra? Trata-se de um exemplo da “ditadura benigna de opinião”. Notável!
Um senhor da Viva Rio — entidade que opina sempre sobre tudo, até sobre espinhela caída e unha encravada — afirmou que 60% das armas apreendidas no Rio foram compradas legalmente e roubadas pela bandidagem. Desconfio desses números, deixo claro, mas, ainda que verdadeiros, eles não dizem nada.
Em primeiro lugar, armas apreendidas não são representativas das armas não-apreendidas. Como eu sei? Além da lógica furada, o número ridículo das armas capturadas pela Polícia na Vila Cruzeiro e no Morro do Alemão o demonstra. Em segundo lugar, o Rio não é o Brasil. Em terceiro lugar, um estado que proíbe, como princípio, que o indivíduo tenha uma arma para se proteger está moralmente obrigado a garantir a sua segurança. O nosso garante?
O governo faça a campanha que quiser. Isso é o de menos. Cresce um movimento para que se criem leis para restringir a posse de armas de pessoas de bem. Os “humanistas” mais exacerbados não querem nem referendo sobre o assunto. Os moderados, como Sarney, querem fazer uma nova consulta popular. É o modelo Chávez: referendo bom é aquele que dá o resultado esperado pelos bacanas. Se não for como eles querem, faz-se uma nova consulta, até que o povo “diga” o que eles querem ouvir.