A última coisa de que se pode acusar Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, é de ser burro. Mas não é mesmo! Ao contrário: está entre os petistas que têm trânsito em todas as legendas porque consegue, como posso dizer?, ser “mais institucional” do que seus “companheiros”. Não gostei, obviamente, do conteúdo de sua fala, mas, convenham, esperavam o quê?

Ele é papa-fina do PT. Tem compromisso com o seu partido. A posição oficial da legenda, como sabemos, é que o impeachment de Dilma foi um golpe. Se é assim, por que ele haveria de, na presidência do Senado, se comprometer com o que os companheiros chamam de “agenda do governo Temer”?

Se Viana assumir, o PT vai fazer o possível e o impossível para que ele não coloque a PEC do Teto em votação neste ano. E ele tem como, nos limites regimentais, impedir que isso aconteça, ora bolas!

Estará sendo um grande traidor? Não! Estará sendo um petista. Afinal, assim como a base do governo tem compromisso com o… governo, a oposição tem compromisso com a própria agenda. Sim, parte da agenda petista é impedir Temer de governar. Mas também há a questão ideológica, caramba!

Ou alguém esperava que Jorge Viana tivesse outro compromisso?

É claro que os que marcharam contra Renan, pautados pelo Ministério Público e pelo Judiciário, não pensaram em quem seria o seu sucessor. Talvez achassem que a coisa não teria um desfecho tão rápido. Pois é…

Comportou-se direito Viana, justiça se lhe faça, não atuou como incendiário. Ao contrário: uma das oito assinaturas da Mesa do Senado (das 10 possíveis) anunciando que a Casa esperaria o pronunciamento do plenário do Supremo é sua.

Nesse ponto, louvo o comportamento que reforça a institucionalidade.

No mais, é preciso ser realista, não? Só faltava um petista assumir a Presidência do Senado para ser mero despachante do antecessor, com uma agenda que o partido repudia.

Tenho críticas imensas a Viana e a seu partido, como sabem. Mas não se pode dizer que esteja tentando enganar alguém. Já deixou claro que, com ele na Presidência, a agenda é outra.

Achei detestável toda a sua atuação ao longo do processo de impeachment porque, afinal, repetiu aqueles mantras petistas que desrespeitavam pressupostos básicos, acho eu, do ordenamento legal. Ele pensa, afinal, o que não penso, certo?

O fato é que, caso assuma e consiga inviabilizar a votação ainda neste ano da PEC do Teto, ninguém poderá acusá-lo de estar traindo a palavra empenhada.

Ele só a trairá se criar facilidades para a votação da dita-cuja.

Vamos ser claros? Quem não quer um petista na Presidência do Senado não pode pedir um petista na Presidência do Senado.

Ou erro em alguma coisa?