Assine VEJA por R$2,00/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Por Blog
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
Continua após publicidade

Uma esfinge sem segredos chamada Marina Silva. Ou: A Marina “sonhática” é “pesadêlica”

Marina Silva é uma esfinge. Sem segredos. O que ela pensa? Dizer que ninguém sabe é bobagem. Dá, sim, para saber. Não vou cair aqui na conversa mole de perguntar se Marina vai ou não realinhar as tarifas se, candidata do PSB, for eleita. É claro que vai. Qualquer que seja o eleito, o reajuste […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 03h17 - Publicado em 15 ago 2014, 08h43

Marina Silva é uma esfinge. Sem segredos. O que ela pensa? Dizer que ninguém sabe é bobagem. Dá, sim, para saber. Não vou cair aqui na conversa mole de perguntar se Marina vai ou não realinhar as tarifas se, candidata do PSB, for eleita. É claro que vai. Qualquer que seja o eleito, o reajuste vai se impor. Contra quem? Contra ninguém. O realinhamento será uma imposição da realidade. Afinal, o Brasil não é a Venezuela. Se for presidente, Marina também vai ter de cortar gastos públicos — é o que Dilma ou Aécio terão de fazer. “Mas tirar dinheiro de onde?” De algum lugar. Ou o país vai para o vinagre. Nenhuma dessas vulgaridades me interessa. Essa gritaria só serve para gerar calor. E nenhuma luz.

A Marina que importa é outra. Sim, concordo: é quase impossível entender o que ela fala, com suas metáforas, alegorias e derivações impróprias — refiro-me à gramática mesmo! — porque, sei lá, os 340 mil verbetes contidos no “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” não lhe bastam… Faz sentido: pensamentos intraduzíveis pedem palavras… indizíveis. Pode não dar para entender o que ela diz, o que sempre desperta a suspeita do sublime, mas dá, sim, para saber o que ela pensa. E ela não pensa coisas boas.

Começo pela questão mais recente. Marina Silva se desgarrou do PT, como é sabido, mas não se livrou dos piores vícios da nave-mãe. Querem um exemplo? Ela foi uma das mais entusiasmadas defensoras do Decreto 8.243, o tal que atrela a administração federal a conselhos populares e institui, na prática, uma Justiça paralela. Seu “movimento”, que não é “partido”, combina com aquele estado de permanente mobilização, em que a militância atropela as instâncias da democracia representativa.

Recuemos um pouco. Como esquecer a atuação de Marina Silva durante a votação do Código Florestal? Se a sua proposta tivesse vingado, o país teria sido obrigado, atenção!, a reduzir a área destinada à agricultura e à agropecuária. O que escrevo aqui não é especulação. É apenas um fato. É demonstrável. Em 2013, a balança industrial produziu um déficit de US$ 105 bilhões, e o setor agropecuário, um superávit de US$ 82,91 bilhões. Isso para um país que teve um superávit de apenas US$ 2,5 bilhões. E olhem que foi uma trapaça contábil. De verdade, o saldo foi negativo. Ou por outra: o agronegócio salva o Brasil da bancarrota, mas Marina Silva queria diminuir a área plantada.

É o tipo de militância que seduz os descolados e os ignorantes, mas de ampla repercussão no exterior, especialmente nos países ricos que acham que devemos deixar a agricultura com eles, enquanto a gente disputa o cipó com os macacos e foge das onças-pintadas. Todos queremos preservar a natureza, é claro! Marina queria, de modo irresponsável, dar um tombo na agricultura e na pecuária. Ela quer economia sustentável? Quem não quer? A questão é saber o que entende por isso.

Pegue-se agora a questão energética. O Brasil só não passa por um apagão de fazer 2001 parecer brincadeira de criança porque cresceu 2,7% em 2011; 0,9% em 2012; 2,1% em 2013 e deve ficar em torno de 0,8% neste ano. Em 2015, projeções responsáveis apontam que não passa de 1,2%. Estivesse crescendo, como precisa, a pelo menos 4%, já estaríamos no escuro.

Continua após a publicidade

Mesmo assim, ainda que tente aqui e ali dizer o contrário, Marina se opôs, sim, à construção da usina de Belo Monte. Tanto é que apoiou um vídeo imbecil chamado “Gota d’Água”, que dizia uma impressionante coleção de bobagens a respeito da usina. Mais: esse empreendimento será subutilizado, sim, porque Belo Monte não terá reservatório. Será do modelo fio d’água. Pesquisem a respeito. Só se fez essa escolha errada por causa da militância ambientalista que Marina representa, já que se inunda uma área muito menor, mas se produz, em contrapartida, bem menos energia.

Em 2010, a Marina candidata foi ao programa “Roda viva” e tratou do assunto. Como fala pelos cotovelos, impede que o pensamento de seus interlocutores respire. Vejam. Volto em seguida.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=nVdZaWH9PSA%5D

Em primeiro lugar, houve, sim, os devidos cuidados ambientais. Em segundo lugar, a tese da inviabilidade econômica é de uma impressionante falácia. De fato, Belo Monte tem mais dinheiro público do que deveria, mas isso se deve ao viés esquerdizante do governo petista — que Marina não combate. O capital privado só refugou porque o preço que o governo queria pagar pela energia era incompatível com a realidade. Ou por outra: quando os petistas decidiram tabelar o lucro — prática hoje em dia vigente apenas em Cuba e na Coreia do Norte —, Marina se calou. O negócio dela era com os bagres. Sim, preservemos os bagres. Mas e a energia elétrica? Mais: se o governo tivesse dado de ombros para o ambientalismo doidivanas e construído a usina com reservatório, mais energia seria produzida. Ou por outra: Belo Monte só não vai render o que poderia por causa do espírito marineiro.

Trato aí de duas questões que hoje são essenciais ao país: balança comercial e produção energética. Nos dois casos, a possível candidata do PSB à Presidência estava do lado absolutamente errado do debate. Errado por quê? Porque as suas escolhas contribuiriam para afundar o país — e, como é sabido, em casos assim, os pobres pagam o preço primeiro.

Continua após a publicidade

Questão política
Não é só isso. Marina fala em nome de uma tal “nova política” que ninguém, até agora ao menos, entendeu direito o que é. É impossível governar o país sem o Congresso, a menos que se queira gerar uma crise institucional dos diabos. Em sua pregação, ela dá a entender que políticos são sempre os outros, nunca ela própria. Por quê? Porque acredita na tal da “mobilização em rede”, que vem a ser a prima rica — e com nível universitário — de movimentos como o MST ou MTST. Nem por isso menos autoritários.

Na verdade, nesse particular, ela vai até um pouco além. Por mais que queira negar, parte do mau espírito das ruas — e não do bom — de junho do ano passado a esta data contou com o seu apoio silencioso. Ela pode se tornar a única beneficiária do ódio à política que tomou as ruas. E é evidente que esse tal espírito não me agrada. A propósito: alguém leu ou ouviu alguma censura de Marina aos black blocs?

O fato de a possível candidata do PSB ter hoje “conselheiros” com uma visão, digamos, mais à direita em economia do que o petismo não me seduz absolutamente. Na verdade, do meu ponto de vista, só torna a equação ainda mais confusa porque não vejo como ela poderia incentivar com a mão esquerda o espírito militante e procurar conter com a direita o rombo nos cofres públicos. Ou por outra: o discurso ideológico de Marina atenta contra o caixa, mas ela se cerca de gurus econômicos que fazem profissão de fé na responsabilidade fiscal.

Na minha coluna de hoje na Folha, critico as patrulhas petistas — ou a seu serviço — que tentam impedir que se formule um pensamento alternativo no Brasil. Busca-se deslegitimar desde a origem qualquer crítica organizada ao governo e ao partido oficial. Aécio Neves, do PSDB, é vítima desse procedimento. Eduardo Campos também era. Será que estou a fazer o mesmo com Marina? Uma ova! Estou é criticando aqui o que conheço de sua militância e dizendo por que ela não me serve. Em muitos aspectos, Marina pode representar um perigo ainda maior do que o petismo.

Se ela se eleger presidente e puser em prática o que pensa sobre militância organizada, a relação com os Poderes instituídos, o agronegócio e o setor energético, quebra o país e o conduz a uma crise política sem precedentes. Claro! Uma Marina que conseguisse governar teria de jogar fora a Marina “sonhática”, que está muito mais para “pesadêlica”.

Texto publicado originalmente às 5h37
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.