Um trio da fuzarca
Leiam o que vai na Folha. Comento depois:O senador Marcelo Crivella (PRB) tem tido encontros todas as noites com representantes da intelectualidade e da elite econômica cariocas -setores em que sofre forte rejeição- na sua tentativa de ser prefeito do Rio. Na sexta, na casa do ex-deputado federal Luiz Alfredo Salomão -que foi de PDT, […]
O senador Marcelo Crivella (PRB) tem tido encontros todas as noites com representantes da intelectualidade e da elite econômica cariocas -setores em que sofre forte rejeição- na sua tentativa de ser prefeito do Rio. Na sexta, na casa do ex-deputado federal Luiz Alfredo Salomão -que foi de PDT, PSB e PT-, ele foi exaltado pelo ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, filiado a seu partido, e pelo secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães.
“O Crivella é o melhor candidato para o governo da cidade do Rio de Janeiro”, discursou Guimarães, segundo homem do Ministério das Relações Exteriores.
Além de afirmar que “a proposta do Crivella para o Rio é um paradigma para o modelo de desenvolvimento nacional”, Mangabeira criticou os que rejeitam o candidato por ser ligado à maior igreja evangélica do país, a Universal do Reino de Deus, de seu tio Edir Macedo.
“Não é possível que a doutrina do republicanismo laico seja travestida no seu oposto, que é a tentativa de marginalizar as pessoas por filiação religiosa”, disse o ministro. Para ele, o movimento evangélico é uma da expressões mais importantes “da história social brasileira nos últimos 50 anos”.
Além de Mangabeira e Guimarães, cerca de 20 pessoas participaram da reunião na Lagoa, bairro de classe média alta.
Comento
“Meu Jesus Cristinho!”, como diria Manuel Bandeira.
Deixe-me ver se entendi bem: juntaram-se a ala jurássica do Itamarati — com sotaque bolivariano —, o bispo de Edir Macedo, com sotaque místico, e Mangabeira Unger, de cujo sotaque falo daqui a pouco. Olhem com quem Caetano Veloso, um entusiasta de Mangabeira, foi se meter! Qualquer um que leia os textos de política do ministro e tenha as referências necessárias sobre o assunto percebe que o homem, na essência, defende uma espécie de “by pass” nas instâncias da democracia representativa — daí aquele seu canto de glória aos evangélicos, que, evidentemente, não formam uma categoria política.
Mas entendo. A Igreja Universal do Reino de Deus, de que Crivella é pastor, é uma seita neopentecostal. Originalíssima, diga-se — chega a defender o aborto sustentando-se no Eclesiastes — um Eclesiastes relido, naturalmente, pela teologia macediana. O Espírito Santo, que apareceu uma única vez aos apóstolos, vive dando pinta nos seus templos, também muito freqüentado pelo demônio, que, volta e meia, baixa nos impenitentes. Espero que os dois não surjam ao mesmo tempo…
Um dos dons do Espírito Santo é justamente a glossolalia: falar línguas estranhas. Está tudo explicado: ao ouvir Mangabeira, Crivella tem a certeza de que é a Pomba Sagrada se manifestando.
Meu Jesus Cristinho!