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TV pública, Complexo Pucusp e Complexo do Alemão

Excelente, como sempre, o artigo de Nelson Motta na Folha de hoje. Leia. Volto depois: Quando Chávez não renovou a concessão da RCTV, a emissora tinha 30% da audiência nacional. Seus estúdios e transmissores foram transferidos para a Televisora Venezolana Social, a TV pública bolivariana, com uma programação feita para elevar a cultura da população […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h17 - Publicado em 19 out 2007, 14h58

Excelente, como sempre, o artigo de Nelson Motta na Folha de hoje. Leia. Volto depois:

Quando Chávez não renovou a concessão da RCTV, a emissora tinha 30% da audiência nacional. Seus estúdios e transmissores foram transferidos para a Televisora Venezolana Social, a TV pública bolivariana, com uma programação feita para elevar a cultura da população e ser um bom exemplo para os outros canais, onde o povo pudesse se ver, respeitando a pluralidade e o gosto popular: a população decidiria o que quer ver. Em setembro, a TVS tinha caído para 4,6%, e, em outubro, para 3,6%. A audiência da RCTV migrou para outros canais privados, e a TV chavista tem muito dinheiro e apoio político, só não tem público.

Programas sobre artesanato, danças folclóricas, escolas comunitárias, saúde da mulher, música nativista, celebração de heróis nacionais, entremeados por propaganda governamental, não estão conseguindo agradar o público, que continua preferindo as novelas, os telejornais e as séries americanas das TVs privadas.O que ganharam os venezuelanos com isso? Mais opções de diversão? Mais qualidade de informação?

A TVS é ótimo exemplo de tudo o que uma boa TV pública não deve ser. Uma emissora movida a dinheiro de impostos tem que ter metas de desempenho que justifiquem os seus investimentos e os salários de seus funcionários e gestores, chegando ao público que menos tem e mais precisa de informação e diversão. Não basta que alguém ou algum conselho diga que os programas são “bons”. É o público que vai julgar, vendo ou mudando de canal. E aí, mudem-se os programas, não o público.

Num país de 190 milhões de habitantes, quando um programa de televisão, por “melhor” que seja, é visto só por 5 mil pessoas (a média diária das TVs estatais), o dinheiro de todos está pagando o privilégio de poucos. Em vão.

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Eis aí. As TVs públicas fingem pensar e querem nos fazer acreditar que estão bem perto do traço porque elas são muito inteligentes. É mentira! Elas são é muito chatas. Às vezes, inutilmente pedantes. E, sem dúvida, caras.

Pego o exemplo de um programa da TV Cultura chamado A Invenção do Contemporâneo. A coisa já começa “pseudo” no título. Anotem de novo: sempre que um “inteliquitual” do Complexo Pucusp — a versão paulista do Complexo do Alemão — transforma adjetivos e verbos em substantivos, um truque está em ação: “o contemporâneo”; “o moderno”; “o aprender”; “o fazer”… A língua, com sua infinidade de recursos, quase sempre é suficiente para dizer o que pensamos. Desde que a gente saiba o que pensa. Mas volto à “invenção do contemporâneo” (vou dar de barato que a TV Cultura sabe onde ele, “o” contemporâneo, se esconde…).

Nem sei se a produção custa alguma coisa. Parece ter o apoio cultural da CPFL. Manter no ar um troço que ninguém vê implica custos, é evidente. Senhoras e senhores com frontispício craniano inquiridor fazem digressões de sotaque acadêmico sobre temas sem dúvida muito profundos. A câmera flagra a platéia na posição clássica “mão-no-queixo”. A mensagem: “Aqui há gente que pensa”. Lá pelas tantas, o expositor diz coisas como (o texto é meu, inventado): “Assim, a marca da contemporaneidade é a tensão permanente entre o arcaísmo, consolidado num padrão ético que ilumina o que já vivemos, e a sociedade viva, palpitante, que nos demanda novas respostas, uma ética ainda a ser construída”. Num esforço brutal de didatismo, a Cultura destaca o que seriam chaves da exposição do “inteliquitual” e, então, aparecem na tela palavras como: “tensão”, “arcaísmo”, “novas respostas”…

É evidente que as pessoas fogem. É irrelevante debater esses assuntos? Não é. No lugar certo. Televisão não é sala de aula de universidade. No próximo dia 22, informa o site da Cultura, o tema será “A Ignorância da Ética”. Está lá escrito: “É palestrado pelo professor Fernando Reinach, que coloca em discussão os novos limites éticos que surgiram em função das descobertas científicas e das transformações cada vez mais aceleradas pelas quais o mundo passa. O professor alerta para a necessidade de estarmos abertos para compreender que a ética, em relação às ciências, não pode ser fechada e rígida, pois novas descobertas e conceitos podem colocar até mesmo verdades em perspectiva. Com sua experiência como um dos coordenadores do primeiro projeto genoma brasileiro, ele demonstra como isso se aplica ao conceito de ‘não matarás’.”

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Isso tudo na segunda, à 0h10. Dêem-me uma boa razão para a TV Cultura não substituir o programa por um telecurso de alemão… Dizem que facilita o exercício da filosofia.

É claro que Nelson Motta está certo: “Num país de 190 milhões de habitantes, quando um programa de televisão, por ‘melhor’ que seja, é visto só por 5 mil pessoas (a média diária das TVs estatais), o dinheiro de todos está pagando o privilégio de poucos. Em vão.”

É educação das massas que querem os nossos comunistas midiátios? Matar Olavo Novaes no fim da novela e pôr Bebel para depor num CPI que investiga um senador ladrão é muito mais contundente para a formação moral do povo… Ainda que seja mentira que os vagabundos, no Brasil, paguem por seus crimes. Mas sempre resta uma esperança. E, é claro, é divertido. As questões mais complexas podem ficar para o Complexo Pucusp. Desde que ele deixe de ser a versão paulista do Complexo do Alemão.

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