Toron, o advogado de João Paulo, Oswald de Andrade e as galimatias
Fala Alberto Zacharias Toron, outra estrela dos advogados, defensor do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), à época presidente da Câmara. Até agora, é quem faz a introdução, digamos, mais elevada. Exaltou o Supremo, já citou frases de Celso de Mello, Luiz Fux e Gilmar Mendes. Também exaltou, à diferença dos advogados de ontem, o procurador-geral […]
Fala Alberto Zacharias Toron, outra estrela dos advogados, defensor do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), à época presidente da Câmara. Até agora, é quem faz a introdução, digamos, mais elevada. Exaltou o Supremo, já citou frases de Celso de Mello, Luiz Fux e Gilmar Mendes. Também exaltou, à diferença dos advogados de ontem, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Deixou claro, na introdução, que o processo, em sentido ‘”teleológico”, não pode ser compreendido pelos simples — em ultima análise, nós.
Toron citou um trecho do Manifesto Antropófago — ou “Manifesto Antropofágico” —, do poeta Oswald de Andrade, sobre o direito, a saber:
“Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. (…) Comi-o”
A frase está completamente descolada do contexto. Posso tratar do assunto numa outra hora. Observo que Toron, ali onde há os parênteses, omitiu um trecho da citação. Completa, ela fica assim (com a parte omitida em negrito):
“Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comi-o”
Atenção, doutor Toron, o nome próprio “Galli Matias” é um óbvio trocadilho com a palavra “galimatias”, que quer dizer justamente “discurso verborrágico, esquisito, hermético, ininteligível”. Enrolação.
Ou seja: Oswald fazia uma crítica à verborragia do direito, a mesma que ele atacava na literatura, diga-se. Ele próprio ingressou na Faculdade de Direito da USP em 1909 e só se formou em 1919.