Muitas almas sensíveis ficaram zangadas por que indaguei qual a diferença entre um contador, uma costureira, uma quituteira e um artista. Por que o preconceito? Eu estou entre aqueles que acreditam que o mundo precisa de Shakespeare e de usinas hidrelétricas, por exemplo. Se quero entender a alma humana, as usinas têm pouco a me ensinar; se preciso de luz — a física mesmo, não a metáfora —, o bardo pode pouco, a menos que eu bote fogo nos seus livros, o que eu não faria porque não sou um daqueles professores de extrema esquerda que tomam a praça de vez em quando… Cada uma dessas profissões tem a sua função social.
Se alguém tem fome, aquela do corpo, chame a quituteira. E há, admito, quem sacie a fome do espírito com Maria Bethânia. Eu sou contra a estatização das quituteiras e das Bethânias, sem juízo de valor. Pouco importa se músicas e quitutes são bons ou ruins, uma coisa é certa: o estado não tem de arcar com o custo de produção nem de uma coisa nem de outra.
Os cantores e cineastas deveriam ter vergonha de reivindicar uma exceção moral!