Parece que Patriota ainda não era ruim o bastante para que Dilma o considerasse bom. Ou: Tudo indica que Evo deu mais uma rasteira no Brasil. Está virando um hábito
Antonio Patriota não era ruim o bastante para o Brasil. Por isso a presidente Dilma Rousseff o demitiu (ver post na home). Assim, podemos apostar, dada a lógica do processo, que é grande o risco de que Luiz Figueiredo faça uma política ainda pior. A presidente tem razão de estar irritada com o episódio, a […]
Antonio Patriota não era ruim o bastante para o Brasil. Por isso a presidente Dilma Rousseff o demitiu (ver post na home). Assim, podemos apostar, dada a lógica do processo, que é grande o risco de que Luiz Figueiredo faça uma política ainda pior. A presidente tem razão de estar irritada com o episódio, a ser verdade que foi avisada da operação só depois que o senador boliviano Roger Pinto Molina estava no Brasil, mas os motivos da demissão, vazados por seus áulicos, dão conta da política externa que tem em mente. À diferença do que se pensava inicialmente, quando freou um pouquinho o entusiasmo com Irã, Dilma consegue ser tão canhestra quanto seu antecessor. Afinal, o que ela queria?
O governo já tinha concedido asilo diplomático a Molina. O homem estava confinado na embaixada havia 15 meses. Evo Morales, o índio de araque que governa a Bolívia, negava-se, no entanto, a lhe conceder o salvo-conduto. Se é verdade, como parece, que o diplomata Eduardo Saboia agiu por conta própria, sem a anuência de Patriota (e também parece que é), a única incompetência do chanceler demitido, nesse caso, é não ter conseguido, ao longo desse tempo, demover os bolivianos. Mas também é compreensível. Evo joga para a sua torcida. Não fazer concessões aos adversários políticos, demonizando a oposição, é parte do seu show.
Querem saber? Tudo indica que o Brasil acabou vítima de uma embromação boliviana. Não sei, não! Mas é possível que o índio de araque tenha passado uma rasteira no Brasil. Ora, ora… Se o governo boliviano sabia que um adversário seu estava refugiado na embaixada e se lhe recusava o salvo-conduto, o normal, convenham, é que essa embaixada estivesse sendo monitorada a uma prudente distância: o bastante para não parecer hostil com o Brasil, mas o suficiente para que se percebesse alguma movimentação estranha.
Parece bastante plausível que o governo boliviano quisesse se livrar do pepino, mas sem dar a entender que cedeu — e jogando, adicionalmente, a responsabilidade nas costas do Brasil. O Brasil virou o cobre de plantão do governo boliviano — somos vistos por lá como imperialistas, entendem? Mais dia menos dia, o senador tentaria deixar o prédio. E foi o que fez. É grande a chance de que o governo boliviano soubesse da fuga. Preferiu, no entanto, resolver a questão. Os protestos e exigências de esclarecimento — bem como o pedido de extradição — fazem parte do espetáculo. Quem sabe Evo não arranca mais alguns trocos do Brasil, não é?
Consta que Dilma também teria achado excessivamente cordata a reação de Patriota à retenção do brasileiro David Miranda no Reino Unido. Teria cobrado a seu então ministro das Relações Exteriores, de quem nunca gostou muito, uma resposta mais dura. Qual? O que Dilma pretendia fazer? Invadir aquele país? Por ar, seria difícil. Por mar, pior ainda. Os ingleses são bons marinheiros, não é? Como já disse Castro Alves, “a Inglaterra é um navio que Deus na Mancha ancorou”. A verdade é bem outra.
A reação primeira de Patriota foi é exagerada. Como se sabe, Miranda circulava com documentos oficiais que haviam sido roubados do governo americano por Edward Snowden. Nada menos do que isso! O que Dilma esperava? Alguns dias depois da nota de protesto do governo brasileiro, a Scotland Yard anunciou que se tratava de informações graves, que poderiam pôr em risco a vida de pessoas.
Não sei, não! Pelo visto, Evo Morales passou mais uma rasteira no governo brasileiro; a crise, em vez de estourar na Bolívia, veio parar aqui. E deixa claro que Dilma Rousseff acha que a política externa brasileira ainda tem de piorar muito para que ela a considere boa o bastante.
Texto publicado originalmente às 5h25
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