Os intelectuais e os cadáveres
Escrevi sobre a Revolução Islâmica do Irã e lembro do meu interesse, então, pelo assunto. Tinha 17 anos… Comuninha até os ossos, defendia com entusiasmo a queda do xá Reza Pahlev… Deus me guarde! A tanto nos instruíam nossos “iluministas” da extrema esquerda, entendem? Aliás, os comunas iranianos também apoiavam o movimento, assim como os […]
Escrevi sobre a Revolução Islâmica do Irã e lembro do meu interesse, então, pelo assunto. Tinha 17 anos… Comuninha até os ossos, defendia com entusiasmo a queda do xá Reza Pahlev… Deus me guarde! A tanto nos instruíam nossos “iluministas” da extrema esquerda, entendem? Aliás, os comunas iranianos também apoiavam o movimento, assim como os liberais. Parte dos esquerdistas fugiu do país; os que ficaram foram mortos. O mesmo aconteceu com os liberais. O primeiro presidente leigo da revolução, o moderado Abolhassan Bani-sadr, ficou menos de dois anos no poder e teve de deixar o país, em setembro de 1980. Vive exilado em algum canto de Paris ainda hoje, jurado de morte. É, colegas… Se as revoluções laicas já engolem os seus filhos, imaginem as religiosas…
Lá vou eu com um pouco mais de memória. Lembro-me que chegou até nós um texto, traduzido por alguém do grupo, de autoria de Michel Foucault falando maravilhas da revolução iraniana. Vocês sabem como são os intelectuais franceses, com as exceções de sempre, quando se trata de apoiar facínoras exóticos… A cada cadáver novo, eles criam uma nova metáfora e uma nova teoria… Imaginem, então, quando o “intelectual” em questão era Foucault…
Ah, sim: uma notinha que não desculpa, mas caracteriza um tempo. Eram dias aqueles em que os ditos “militantes” aos menos liam, nem que fosse Foucault…