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Reinaldo Azevedo

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Os cardeais se reúnem. E este é o meu candidato a papa!

Os cardeais realizam nesta segunda a primeira reunião com vistas ao conclave que vai escolher o novo papa da Igreja Católica. Em 2005 — basta recuperar o noticiário do período, disponível na Internet —, estava de tal sorte firmada a convicção, fora dos muros do Vaticano, de que um “progressista” deveria suceder João Paulo II […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h45 - Publicado em 4 mar 2013, 07h57

Os cardeais realizam nesta segunda a primeira reunião com vistas ao conclave que vai escolher o novo papa da Igreja Católica. Em 2005 — basta recuperar o noticiário do período, disponível na Internet —, estava de tal sorte firmada a convicção, fora dos muros do Vaticano, de que um “progressista” deveria suceder João Paulo II que fiz uma aposta de primeira: será Joseph Ratzinger, odiado, então, por 10 entre 10 supostos defensores de reformas na Igreja Católica. Escrevo “supostos defensores” porque sempre me espanta a sem-cerimônia com que os “modernos” criam uma agenda para a Igreja e se indignam com o fato de ela a rejeitar. Quando nos inteiramos da pauta, percebemos, então, que essas pessoas não querem uma Igreja afinada com os desafios do mundo contemporâneo, mas uma outra, que negue seus próprios fundamentos. É espantoso que isto deva ser lembrado, mas vamos lá: estamos falando de uma religião, à qual as pessoas aderem espontaneamente. A Igreja Católica não é resultado da vontade democrática de seus fiéis — menos ainda daqueles que a rejeitam como “Corpo Místico de Cristo”. Quando uma pessoa se torna católica ou decide se manter católica, adere a um conjunto de valores aos quais, de resto, pode renunciar a qualquer tempo. Mas volto ao ponto: desta vez, o cenário me parece menos claro do que há oito anos. Falarei aqui do que acho que está mais perto de acontecer e do que eu gostaria que acontecesse.

É uma ilusão achar que Bento XVI está recluso, alheio aos assuntos da Igreja. Se fosse para não interferir na sucessão, ele teria aguardado, ainda que angustiado, a morte. Mas renunciou ao pontificado justamente para poder atuar por intermédio de cardeais que lhe são fiéis. Assim, parece-me que desponta com força a possibilidade de que o ungido venha a ser mesmo Angelo Scola, arcebispo de Milão. É o preferido do agora papa emérito e, de longe, o que reúne mais recursos intelectuais para a tarefa. Dele se diz que soma o rigor teológico de Bento XVI com o carisma de João Paulo II. Há certa demanda para que o Trono de Pedro volte a ser ocupado por um italiano.

Scola é próximo do movimento “Comunhão e Libertação”, que reúne religiosos e leigos. Alguns políticos ligados ao grupo andaram se envolvendo em escândalos na Itália, embora não se tenha evidenciado qualquer relação do movimento com os malfeitos. Mas bastou para criar teorias conspiratórias as mais disparatadas sobre uma espécie de “Igreja secreta” que existiria no subterrâneos do Vaticano. Já se disse, e se diz ainda, o mesmo do Opus Dei. A máquina de difamação tocada pelos ditos “progressistas” é sempre muito eficiente.

Se Scola for o escolhido, tem tudo para fazer um grande pontificado. Foi o criador da Fundação Oasis, cujo objetivo inicial era acompanhar a realidade das minorias cristãs nos países muçulmanos. O trabalho evoluiu para uma espécie de diálogo entre o Catolicismo e o Islã. Esse esforço de Scola empresta um lustro modernizante ao perfil de um cardeal considerado “conservador” — por “conservador” deve-se entender alguém com clareza para defender os valores católicos.

Sim, parece-me que Scola é o favorito, acho que a Igreja estaria em boníssimas mãos, mas ele não é o “meu” candidato.

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Dom Odilo Scherer
A exemplo de todos os católicos do Brasil, ficaria muito satisfeito se dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, fosse o escolhido. É um homem inteligente, capaz, sério e determinado. Tem a seu favor a juventude — apenas 63 anos, contra os 71 de Scola (João Paulo II foi eleito com 58) e o fato de ser um cardeal do país com o maior número de católicos no mundo — mais ou menos 140 milhões. Geografia, em matéria de Igreja Católica, não é necessariamente destino, mas é evidente que esse é um fator a ser considerado.

Um papa vindo do “Novo Mundo” e do continente que reúne hoje mais de 40% dos católicos pode significar um sopro de renovação numa Igreja que foi, sim, seriamente abalada por escândalos, protagonizados — refiro-me, no caso, aos financeiros — por uma estrutura encastelada no Vaticano e que tem de ser desalojada. No caso de dom Odilo, essa “renovação” poderia se dar sem prejuízo do rigor teológico. Já demonstrou, à frente da Arquidiocese de São Paulo, que não tem receio de enfrentar as questões propostas pelo mundo contemporâneo — sem, no entanto, abrir mão dos fundamentos da Igreja.

Os católicos do mundo inteiro estariam sob um comando seguro. Sua eventual escolha significaria, ainda, um alento para milhões de católicos no Brasil, que veem, com alguma frequência, a sua igreja trilhar caminhos bastante tortos. Tenho enorme respeito por dom Odilo e ficarei muito feliz se for ele o escolhido.

Peter Turkson
Se cardeal fosse, meu voto, no entanto, iria para o ganês Peter Turkson, o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Não, senhores! Não estou em busca de um “papa negro”, que isso interessa mais ao marketing do que à Verdade. Mas acredito que seria, sim, uma grande notícia para o catolicismo. Santo Agostinho (354-430), um dos maiores teólogos da Igreja, nasceu em Tagaste (hoje Souk-Ahras) e se celebrizou como bispo de Hipona (atual Annaba) — viveu apenas cinco anos na Itália. As duas cidades ficam na Argélia. Há documentos do ano 180 que indicam a presença já então antiga do cristianismo no norte do continente. O primeiro bispo a falar de uma Igreja comandada por uma colegialidade (esta mesma que vai se reunir para escolher o novo papa) — respeitando-se a autoridade do papa — foi Cipriano, depois mártir e santo, quando bispo de Cartago (região que hoje pertence à Tunísia). O Norte da África assistiu ao florescimento de uma intensa vida cristã até o século VI. Tanto é assim que a Igreja já teve três papas africanos — nunca um negro: Vítor I (189 a 199), Melquíades (311 a 314) e Gelásio I (492 a 496).

Agostinho e Cipriano também não eram negros. A cor da pele de Turkson não me interessa. Não estou entre aqueles que cultivam racismo às avessas. Eu estou interessado, como católico — sim, sou católico! —, numa escolha que possa fortalecer a Igreja. Ocorre de Turkson ser negro — fosse branco, reunindo as mesmas características que me são relevantes, estaria igualmente torcendo por ele.

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Em primeiro lugar, pesquisem a respeito, ele reúne, sim, condições intelectuais para ser o Sumo Pontífice. Tem uma sólida formação teológica e trânsito na Cúria Romana. Mas há muito mais do que isso. Eu o quero papa não apenas porque a África é o continente em que o catolicismo mais se expande hoje em dia, mas também por isso. Gostaria de vê-lo papa porque é naquele continente que os católicos — e os cristãos de modo geral — enfrentam hoje os maiores desafios. Milhares de pessoas são assassinadas todos os anos, especialmente em confrontos com milícias islâmicas, porque se converteram ao cristianismo. Só em Darfur, no Sudão, mais de 400 mil foram esmagados nos últimos anos. Diante do silêncio mais ou menos cúmplice do mundo.

Turkson, cuja mãe é metodista, está ligado ao trabalho social da Igreja, o que é bom, e é firme em matéria de doutrina. O catolicismo enfrenta na África desafios muito parecidos com os dos cristãos dos primeiros dias. Querem um exemplo? Se o aborto, no chamado “mundo moderno”, integra a pauta dos supostos “direitos na mulher”, na maioria dos países africanos, proteger a grávida da interrupção forçada da gravidez (contra a sua vontade) significa, muitas vezes, salvar-lhe a vida. Se estamos acostumados a reivindicações que cobram que a Igreja reconheça formas diferenciadas de família — que não aquela constituída por mulher, homem e filhos —, no continente africano, a expansão da organização familiar cristã impede que milhões de crianças e mulheres sejam relegadas ao abandono. A visão de mundo considerada, em suma, “reacionária” por grupos militantes das democracias ocidentais é, muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte na África negra. Turkson conhece, como ninguém, os males do demônio do relativismo.

Com esse perfil, é claro que ele já entrou no radar das máquinas de desqualificação. É considerado pouco aberto aos muçulmanos — ainda voltarei a esse aspecto — e já foi acusado de ter associado os casos de pedofilia da Igreja à homossexualidade. Bem, mais do que ninguém, ele conhece a forma como se dá a expansão do Islã na África negra: na base de milícias armadas e de ações terroristas. É seu dever denunciá-las.

Acho que Peter Turkson pode, em certa medida, fazer pelas populações da África o que João Paulo II fez pelos povos que viviam sob o jugo comunista: ao fortalecer a mensagem cristã, levar um sopro de esperança a milhões de homens e mulheres submetidos a ditaduras sanguinárias e a milícias homicidas. Não são poucos, entre nós, os que decretam a obsolescência e desnecessidade da Igreja num mundo cujos valores essenciais foram preservados e cultivados pela… Igreja!!! Milhões de pessoas, no entanto, mundo afora, pagam com a própria vida o preço da conversão àqueles valores que nos fizeram livres até mesmo para não crer.

Texto publicado originalmente às 5h59
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