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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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O PT e o PCC

Vocês sabem, não é? Eu não sou um rapaz progressista latino-americano. Aos 44, nem rapaz eu sou, mas um jovem senhor conservador, desses que Marilena Chaui veria prontos para um campo de reeducação. Assim, eu seria devolvido à minha verdadeira consciência, já que, dentre outras coisas, não consigo enxergar os vínculos naturais que existem entre […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 23h21 - Publicado em 9 ago 2006, 20h07
Vocês sabem, não é? Eu não sou um rapaz progressista latino-americano. Aos 44, nem rapaz eu sou, mas um jovem senhor conservador, desses que Marilena Chaui veria prontos para um campo de reeducação. Assim, eu seria devolvido à minha verdadeira consciência, já que, dentre outras coisas, não consigo enxergar os vínculos naturais que existem entre esquerda e cultura, por exemplo (ver notas abaixo). Ao contrário: vejo os sinais óbvios da barbárie sempre que uma coisa se enlaça à outra.
Eu, como um mau progressista, seria esmagado por William Bonner e Fátima Bernardes no Jornal Nacional. Eles me fariam perguntas sobre o bem da humanidade, o justo e o belo, e eu seria reprovado. Defendo o fim do Hezbollah. uma zona de segurança no Líbano; a invasão do Iraque, o bombardeio às instalações nucleares do Irã; a suspensão da medida que vai soltar 11 mil presos no Dia dos Pais; a expulsão, na lei ou na lei (o que pode significar “na marra”), de invasores de terras. E também não pego no braço de meus interlocutores, chamando-os de “meus queridos”, “minhas queridas”, “meus amores”. Então vejam só: “Louvado seja Deus, que não sou bom!”.
Eu sou um mau progressista. Mas a maioria dos meus coleguinhas da mídia tem em meu lugaros amores pelas vítimas de plantão que eu não consigo ter. Hoje, o candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, José Serra, foi indagado sobre as opiniões de Saulo de Castro, secretário de Segurança de São Paulo, segundo quem os ataques do PCC têm origem política. É o que eu também acho. Consta que ele teria acusado o PT. Não vi o programa. Eu não sou um repórter investigativo, como vocês sabem. Interesso-me menos por provas materiais do que por provas intelectuais.

Embora o mundo não canse de me surpreender, não imagino algum petista telefonando ou mandando bilhetinho para algum vassalo de Marcola determinando: “É hoje”. Acho que não. O que sei, e isso eu posso provar, é que, horas antes de o PCC dar início à nova onda de ataques, Aloizio Mercadante e Márcio Thomaz Bastos, juntos, apresentavam um “programa de segurança pública” e criticavam, às claras, o governo de São Paulo. O que sei é que, em meio aos ataques, o candidato do PT ao governo concedia entrevista à CBN e descia o sarrafo nas autoridades do Estado, mas criticava muito pouco, quase nada, os bandidos. O que sei é que Bastos, até agora, não deu o dinheiro que deveria ter dado a São Paulo; que seu Ministério cortou quase 90% dos fundos para o Estado ligados à segurança; que, desde o primeiro ataque, o governo federal aponta o que seria a “responsabilidade” do PSDB na crise. Ora, quem foi que começou a politizar essa questão?

O que eu sei é que o comando do PCC detesta o PSDB, o que Marcola deixou claro em conversa com parlamentares da CPI do Tráfico de Armas; que o Ministério Público pediu a prisão de um figurão do PT, acusando-o de vinculação com o partido do crime; que as sucessivas ondas de ataques, com efeito, têm como principais prejudicados os candidatos tucanos. Isso tudo eu sei. E isso tudo não prova criminalmente nada. O fato de eu me beneficiar com o eventual contratempo de um adversário ou inimigo meu não me torna responsável por tal contratempo. Isso é certo.

Mas, então, é preciso que os petistas parem de, na prática, transformar os atos do PCC em mera conseqüência do que seria a incompetência dos adversários. Não é aceitável que um partido legal, como é o PT — ao menos a maioria dele —, passe a maior parte do tempo atacando as autoridades e deixe de lado o fundamental: o ataque aos criminosos. Também não é decente mentir, como se faz abertamente, sobre as estatísticas que retratam o crime. Todas elas são favoráveis ao governo de São Paulo, conforme já noticiei aqui.

Caso da Espanha
O caso da Espanha é exemplar. A Al Qaeda elegeu o governo dito socialista do país com o atentado praticado em Madri. A esquerda mundial inventou a mentira grosseira de que foi a tentativa de Aznar de incriminar o ETA que fez reverter a vantagem dos conservadores. Mentira! Foi o medo.

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Nem entro no mérito da qualidade do governo de Zapatero. Estou apenas reiterando o que disse então: o ainda candidato a primeiro-ministro, mesmo depois do ataque dos terroristas, manteve a sua proposta de retirar as tropas do Iraque, cedendo à exigência de Osama Bin Laden. Faz sentido: Zapatero deve sua eleição ao facínora.

E é claro que os socialistas não tinham “vínculos” com a Al Qaeda. Mas é claro que a Al Qaeda conhecia a agenda de Zapatero e conhecia a agenda de Aznar. Assim como Marcola conhece a agenda do PT e conhece a agenda do PSDB.

Concluo afirmando que a) foi o PT quem primeiro politizou a crise; a iniciativa original se deveu a Aloizio Mercadante, desesperado com os baixos índices nas pesquisas; 2) o PT deveria atuar para evitar que o seu discurso eleitoral coincida com ações do PCC. Para que o partido do crime não se torne a sua Al Qaeda da hora. Se há algum interesse em fazê-lo, a hora é agora.

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