O PT e o PCC
Vocês sabem, não é? Eu não sou um rapaz progressista latino-americano. Aos 44, nem rapaz eu sou, mas um jovem senhor conservador, desses que Marilena Chaui veria prontos para um campo de reeducação. Assim, eu seria devolvido à minha verdadeira consciência, já que, dentre outras coisas, não consigo enxergar os vínculos naturais que existem entre […]
Embora o mundo não canse de me surpreender, não imagino algum petista telefonando ou mandando bilhetinho para algum vassalo de Marcola determinando: “É hoje”. Acho que não. O que sei, e isso eu posso provar, é que, horas antes de o PCC dar início à nova onda de ataques, Aloizio Mercadante e Márcio Thomaz Bastos, juntos, apresentavam um “programa de segurança pública” e criticavam, às claras, o governo de São Paulo. O que sei é que, em meio aos ataques, o candidato do PT ao governo concedia entrevista à CBN e descia o sarrafo nas autoridades do Estado, mas criticava muito pouco, quase nada, os bandidos. O que sei é que Bastos, até agora, não deu o dinheiro que deveria ter dado a São Paulo; que seu Ministério cortou quase 90% dos fundos para o Estado ligados à segurança; que, desde o primeiro ataque, o governo federal aponta o que seria a “responsabilidade” do PSDB na crise. Ora, quem foi que começou a politizar essa questão?
O que eu sei é que o comando do PCC detesta o PSDB, o que Marcola deixou claro em conversa com parlamentares da CPI do Tráfico de Armas; que o Ministério Público pediu a prisão de um figurão do PT, acusando-o de vinculação com o partido do crime; que as sucessivas ondas de ataques, com efeito, têm como principais prejudicados os candidatos tucanos. Isso tudo eu sei. E isso tudo não prova criminalmente nada. O fato de eu me beneficiar com o eventual contratempo de um adversário ou inimigo meu não me torna responsável por tal contratempo. Isso é certo.
Mas, então, é preciso que os petistas parem de, na prática, transformar os atos do PCC em mera conseqüência do que seria a incompetência dos adversários. Não é aceitável que um partido legal, como é o PT — ao menos a maioria dele —, passe a maior parte do tempo atacando as autoridades e deixe de lado o fundamental: o ataque aos criminosos. Também não é decente mentir, como se faz abertamente, sobre as estatísticas que retratam o crime. Todas elas são favoráveis ao governo de São Paulo, conforme já noticiei aqui.
Caso da Espanha
O caso da Espanha é exemplar. A Al Qaeda elegeu o governo dito socialista do país com o atentado praticado em Madri. A esquerda mundial inventou a mentira grosseira de que foi a tentativa de Aznar de incriminar o ETA que fez reverter a vantagem dos conservadores. Mentira! Foi o medo.
E é claro que os socialistas não tinham “vínculos” com a Al Qaeda. Mas é claro que a Al Qaeda conhecia a agenda de Zapatero e conhecia a agenda de Aznar. Assim como Marcola conhece a agenda do PT e conhece a agenda do PSDB.
Concluo afirmando que a) foi o PT quem primeiro politizou a crise; a iniciativa original se deveu a Aloizio Mercadante, desesperado com os baixos índices nas pesquisas; 2) o PT deveria atuar para evitar que o seu discurso eleitoral coincida com ações do PCC. Para que o partido do crime não se torne a sua Al Qaeda da hora. Se há algum interesse em fazê-lo, a hora é agora.