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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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O Jornal Nacional e a doxa

“Você vive puxando o saco da Rede Globo e agora critica a cobertura que ela está fazendo da questão da violência só porque, nesse caso, ela não é tão fascista quanto você? Vê se se enxerga, Reinaldo Azevedo. Cuidado que os Marinho não vão te dar emprego quando a Veja te mandar embora.” O simpático […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h41 - Publicado em 14 fev 2007, 03h27
“Você vive puxando o saco da Rede Globo e agora critica a cobertura que ela está fazendo da questão da violência só porque, nesse caso, ela não é tão fascista quanto você? Vê se se enxerga, Reinaldo Azevedo. Cuidado que os Marinho não vão te dar emprego quando a Veja te mandar embora.”

O simpático comentário que vai acima é de um petralha. É uma pena que o que vem depois seja de uma grosseria impublicável, ou vocês leriam a coisa toda. Acho que vale, sim, um comentário. Critiquei a cobertura que o Jornal Nacional fez do tema na segunda e, de novo, não gostei da abordagem desta terça. Acho que está havendo uma preocupação excessiva em não, como vou dizer?, mobilizar as pessoas e estimular, sei lá, a irracionalidade.
Anteontem, ficou claro, a tese combatida era a da maioridade penal, com a exibição das condições precárias em que vivem os menores infratores. Nesta terça, os criminosos adultos foram objeto de reportagens. Mais uma vez, ficou evidente que a sociedade brasileira não lhes dispensa o tratamento que está previsto na lei. E isso tudo, com efeito, é lamentável. Como é lamentável que os cidadãos que vivem fora dos presídios também não tenham respeitados boa parte de seus direitos constitucionais e legais.
Uma sociedade que não dispensa a seus presos todos os direitos e prerrogativas não trata de forma muito diferente os que estão do lado de cá das grades: aqueles têm direito ao trabalho nas cadeias. E não têm. Estes têm direito a uma educação de qualidade. E não têm. Aqueles têm direito a pelo menos seis metros quadrados. E não têm. Os que estão do lado de fora têm direito a uma saúde digna. E não têm. Aqueles têm direito a políticas de reintegração. E não têm. Estes têm direito a segurança. E não têm.
Não, não estou me conformando, não. Acho que é o caso de investirmos em políticas públicas para ir resolvendo todas essas questões, mas a carência de direitos, a distância entre o que prevê a lei e o que é efetivamente realizado, nada disso é um sofrimento exclusivo do preso ou do menor infrator. Os que seguem as leis e pagam seus impostos também lutam com enormes dificuldades.
Acho que o Jornal Nacional e boa parte da imprensa caem vítimas, nessa hora, de uma armadilha intelectual que consiste em culpar toda a sociedade pelas agruras por que passam os presos, esquecendo-se de que a carência é a condição permanente da larga maioria dos brasileiros. Carência também de direitos, que, embora previstos em lei, dificilmente encontram uma tradução prática. E nem por isso tomam na porrada o que lhes faz falta.
Por que esse viés? Bem, aí voltamos a uma velha questão. Acho que as redações dos grandes veículos contam com uma espécie de “resistência” ou petista ou filo-esquerdista. Pode não ser um esquerdismo ativo, organizado, mas nem por isso é menos influente. O problema está menos numa convicção consciente, firmada, racional, do que no que tenho chamado de uma “doxa”. Há a crença, inabalável, de que o crime é uma das manifestações da miséria, da pobreza, o que, desde logo, expropriaria esses “pobres” de vontade própria, tornando-os todos vítimas. A demissão de um repórter da Globo, recentemente, evidenciou um óbvio clima de patrulha. Não, não era a direção da emissora patrulhando os repórteres. Era uma parte do reportariado se comportando como policial de consciências. E em nome de uma agenda política: petista. À época, apontei isso aqui.
Sim, caro petralha, já defendi a Globo — o que seria dela, pobrezinha, sem a minha defesa, não é mesmo? — de alguns ataques botocudos. E o farei de novo se achar necessário. E isso não me impede de considerar que, em dois dias consecutivos, a doxa ditou a pauta do Jornal Nacional.

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