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O “deus” de Edir Macedo perdoa corruptos, mas não perdoa os fetos

Há uma entrevista na Folha com Edir Macedo, o auto-instituído “bispo” da Igreja Universal do Reino de Deus, de que é dono. Quem assina o texto é Daniel Castro, e quem responde pode ser a “legião”, já que foi feita por e-mail e intermediada pela cúpula, digamos assim, religiosa da seita. Há alguns dias, postei […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h18 - Publicado em 13 out 2007, 15h20
Há uma entrevista na Folha com Edir Macedo, o auto-instituído “bispo” da Igreja Universal do Reino de Deus, de que é dono. Quem assina o texto é Daniel Castro, e quem responde pode ser a “legião”, já que foi feita por e-mail e intermediada pela cúpula, digamos assim, religiosa da seita. Há alguns dias, postei aqui um texto dizendo que o petismo é a Universal da política, e a Universal, o petismo da religião. Quem me dá razão é Macedo. Leiam uma pergunta e uma resposta:

FOLHA – Alguns políticos então da base da Igreja Universal, como o bispo Rodrigues, foram atingidos em cheio pelos escândalos do primeiro mandato de Lula. A corrupção não é um pecado imperdoável?
MACEDO –
Jesus ensina que o único pecado imperdoável é a blasfêmia contra o Espírito Santo. Para os demais, há perdão se houver arrependimento.

É a “igreja” de que o PT precisa. Se Deus censura a safadeza, os petistas podem ficar tranqüilos: o “deus” de Macedo perdoa. A sua “teologia” é bastante elástica pra isso. Tão elástica, que ele encontra uma justificativa teológica para o aborto. Se havia desconfianças sobre a filiação da tal Universal ao cristianismo, não há mais. Leiam:

“Sou favorável à descriminalização do aborto por muitas razões. Porém, aí vão algumas das mais importantes:
1) Muitas mulheres têm perdido a vida em clínicas de fundo de quintal. Se o aborto fosse legalizado, elas não correriam risco de morte;
2) O que é menos doloroso: aborto ou ter crianças vivendo como camundongos nos lixões de nossas cidades, sem infância, sem saúde, sem escola, sem alimentação e sem qualquer perspectiva de um futuro melhor? E o que dizer das comissionadas pelos traficantes de drogas?
3) A quem interessa uma multidão de crianças sem pais, sem amor e sem ninguém?
4) O que os que são contra o aborto têm feito pelas crianças abandonadas?
5) Por que a resistência ao planejamento familiar? Acredito, sim, que o aborto diminuiria em muito a violência no Brasil, haja vista não haver uma política séria voltada para a criançada.”

Trata-se de uma formidável coleção de asneiras, talvez ditadas pelo diabo. Se Macedo acredita até mesmo na remissão do corrupto, por que não na das crianças que vivem nos lixões? Se opta pelo aborto como saída menos dolorosa, por que não por outras práticas igualmente homicidas que trariam mais controle social? A Igreja Católica é contra o aborto e conta com milhares de entidades espalhadas mundo afora para cuidar de crianças abandonadas. E o que Macedo tem feito? Se o aborto diminuiria em muito a violência no Brasil, há de se supor que diminuiria também em muito o número de seus fiéis, não é mesmo?, já que é evidente que boa parte da força de sua “igreja” se concentra entre os miseráveis. Existe também lixão religioso no mundo.

Santo Edir Macedo! Seu “deus” perdoa corruptos, mas não perdoa os fetos!

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A sua citação do Eclesiastes para “santificar” o aborto é das coisas mais estúpidas que já li. Procurem vocês mesmos o trecho a que ele alude. É fácil. É evidente que o “aborto” é citado ali em sentido figurado, como extremo da fealdade humana. Diz-se preferível o aborto ao homem sem fé. É MENTIRA QUE SE TRATE DE UMA DEFESA DO ABORTO, ESTE QUE CONHECEMOS. Ao contrário: não há como justificar, segundo o Novo ou o Velho Testamentos, a prática.

Mas essa é a tática de sempre desse tipo de neopentecostalismo: trata-se de uma mistura de falso fundamentalismo com interpretação rasteira. Pegam-se palavras que estão da Bíblia, desprezam-se contexto e simbologia, e se lhes dá o sentido que interessar. Pode-se usar a Bíblia pra justificar qualquer coisa quando você é um rematado picareta: até o assassinato. Há passagens que permitem, então, uma “bíblia abortista”, uma “bíblia gay”, uma “bíblia racista”, uma “bíblia de trapaceiros”.
– Que tal usar Jacó para legitimar o engodo, a tramóia, o passa-moleque no irmão ou o roubo de gado?
– Que tal usar Ló para defender o incesto?
– E que tal justificar o homossexualismo com Samuel 18, 1-4: “Ora, acabando Davi de falar com Saul, a alma de Jônatas ligou-se com a alma de Davi; e Jônatas o amou como à sua própria alma. E desde aquele dia Saul o reteve, não lhe permitindo voltar para a casa de seu pai. Então Jônatas fez um pacto com Davi, porque o amava como à sua própria vida. E Jônatas se despojou da capa que vestia, e a deu a Davi, como também a sua armadura, e até mesmo a sua espada, o seu arco e o seu cinto.”

Macedo deve estar entre aqueles que julgam que Salomão estava tentando mesmo ser justo, e não astuto, quando propôs dividir a criança ao meio…

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Justificar o aborto com o Eclesiastes é, de todas as bobagens que este empresário já disse, a mais formidável. E dá conta de sua absoluta falta de limites. Segundo Macedo, “alguns mortais têm pensado que estão acima do bem e do mal. Mas, depois de mortos, o máximo que lhes resta é uma placa na praça onde os cães fazem xixi.”

Tá combinado. Já convoquei Lolita e Pipoca, as minhas cadelas, para a tarefa tão logo Edir Macedo ganhe a sua placa.

Assinante lê íntegra da entrevista aqui

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