A petralhada já veio torrar a minha paciência. “E o mensalão de Minas, hein?” Pois é. Costumo dizer que quem vê o mundo segundo princípios não cai em armadilha. A minha opinião sobre o que aconteceu em Minas é a mesma que expressa num texto do dia 19 de setembro de 2007 e no dia 20 de novembro de 2008. O primeiro, como se vê, há dois anos e um mês! Titulo daquele artigo: “O mensalão de Minas – igual, mas diferente”. Seguem trechos. Nada tenho a acrescentar. Ou acrescento, sim, mas no post seguinte. Seguem trechos do que afirmei há 25 meses. O vento pode mudar. Mas eu não mudo.
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A canalha não sai daqui, não é? O que é que vou fazer? Não é falta de chute. (…): “Não vai falar nada do mensalão de Minas?” Publiquei um post a respeito no dia 16 e três no dia 17, incluindo o link do relatório da Polícia Federal. Também publiquei os valores que teriam sido repassados a cada um dos partidos. Vejam lá.
Qual é a notícia desta quarta e que deve estar hoje nos jornais? Nada além do que publiquei aqui na segunda. O procurador-geral da República analisa as provas e deve apresentar, nas próximas semanas, denúncia contra os suspeitos. Eduardo Azeredo, atual senador (PSDB-MG) e candidato à reeleição ao governo em 1998, e Walfrido dos Mares Guia, hoje ministro das Relações Institucionais, devem ser estrelas da denúncia.
Li a acusação da PF (íntegra aqui). A ser como está lá, tudo o que se viu no mensalão do PT – MENOS UMA COISA – se fez também em Minas: caixa dois, falsos empréstimos, uso irregular de dinheiro de estatais, farta distribuição de recursos, empresas de fachada. O que é diferente? Em Minas, o esquema teria sido, de fato, eleitoral – vale dizer: caixa de campanha. E ninguém ficou de fora: PSDB, PFL, PT… Sim, o PT também. O total de recursos repassado aos candidatos a deputado federal do partido, segundo a PF, é superior ao que foi repassado aos do próprio PSDB. Segundo a acusação, Mares Guia, então vice de Azeredo e candidato à Câmara Federal, era o organizador do esquema. Marcos Valério, o seu operador. No caso do mensalão federal, a eleição já tinha acontecido. Ainda que se possa dizer que uma parcela dos recursos foi destinada a pagar dívidas de campanha, há evidências – e isso está na acusação do procurador-geral, acatada pelo Supremo – de que a dinheirama comprava apoio no Congresso.
Sendo verdade o que diz a PF, é grave o que aconteceu em Minas? É. Mas se trata rigorosamente da mesma coisa que fez o PT? Não.
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Vejam só: com efeito, Azeredo está nessa história como Lula está na outra. Embora Lula fosse o principal beneficiário do mensalão federal, ele não sabia de nada. Embora Azeredo fosse o principal beneficiário do esquema mineiro (só não foi porque perdeu), ele também não sabia de nada. Acho, por isso, que ele deve ser poupado? Eu não. Acho é que Lula também tem de ser processado. Entenderam o meu ponto?
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Protegendo?
A “canalha” diz que estou protegendo esse ou aquele. Qualquer um que me acompanha sabe – o Google está aí para provar – que considero Azeredo um dos fatores que colaboraram com a recuperação do prestígio eleitoral de Lula no fim de 2005, quando chegou bem perto de beijar a lona. Defendi a sua renúncia com todas as letras.
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Não! Não vou dizer que o “mensalão começou em Minas”. Porque o “mensalão” foi um esquema montado para comprar o Congresso. Não, não vou dizer que o PT só imitou os tucanos – porque o PT já imitava a si mesmo, dado que foi um dos beneficiários também do esquema mineiro. Mas que se considere: a ser verdade o que sustenta a PF, uma quadrilha também foi montada em Minas. E, se foi, seus responsáveis têm de ser processados e punidos.
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Voltei
Os petralhas têm de saber uma coisa. Eu sempre lembro do que escrevo. E, gostem ou não, tenho princípio. Há mais de um ano [agora mais de dois] era o que eu pensava sobre o caso. É o que continuo a pensar. E continuo a achar que Lula deveria estar naquela lista dos 40 do procurador-geral da República.
Como se vê, é simples quando se é dono da própria opinião. Que se punam os que fizeram lambança. Mas mensalão, de fato, foi o crime do PT.
Já ia me esquecedo. “O que é surto exultório”? É quando um petralha bate palminha de satisfação anunciando para o mundo: “Estão vendo? Não somos os únicos corruptos. Outros também são”. Eles acham que isso os torna pessoas mais decentes. E que se note: no mal chamado “Mensalão de Minas”, os petistas receberam mais dinheiro irregular do que seus adversários. E por que vibra a canalha? Sei lá.