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Mais uma contradança com meu amigo Caio Blinder — “mexeu com ele, mexeu comigo”

Meu amigo Caio Blinder — “Mexeu com ele, mexeu comigo” — envia um comentário ao post que fiz, em que comento um texto seu. Ele escreve o que segue em vermelho. Respondo em azul. Amigo Reinaldo, um prazer ter um texto seu criticando o meu. Sou cívico, como mostra o vibrante debate entre meus leitores. […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 07h01 - Publicado em 21 jan 2013, 21h13

Meu amigo Caio Blinder — “Mexeu com ele, mexeu comigo” — envia um comentário ao post que fiz, em que comento um texto seu. Ele escreve o que segue em vermelho. Respondo em azul.

Amigo Reinaldo, um prazer ter um texto seu criticando o meu. Sou cívico, como mostra o vibrante debate entre meus leitores.
Alguns pontos rápidos:
1) os republicanos estão, sim, perdendo, capital político. Perderam cinco das últimas eleições presidenciais no voto popular. E caso continuem no atual rumo, será o abismo eleitoral. A gente reconversa sobre isto em 2016, hehehe.
Perder no voto popular, dada a forma como se dá eleição americana, não quer dizer grande coisa, e você sabe disso. Nos EUA, não há grandes lavadas nesse quesito, ainda que um candidato consiga esmagar o outro no colégio, a exemplo do Reagan da reeleição.

De resto, querido Caio, vamos botar as coisas no seu devido lugar: pensando o que penso, eu poderia estar mais chateado do que você se essa perda dos republicanos fosse real — acho que não é. Por mais que eu admire meu amigo Caio Blinder (e admiro demais!), não o imagino dando dicas para que os republicanos se recuperem, hehe… Acho que, se eles fizessem o que Caio acha que deveriam fazer, ficariam bem parecidos com os democratas. Como democratas já os há, amigo Caio, o eleitorado certamente preferiria o original à cópia.

Cotejo a atuação dos republicanos nos EUA com a dos tucanos no Brasil. Quem está mais perto do poder? Com todos os “erros” que a metafísica influente democrata viu nos republicanos, o fato é que eles conseguiram ter um candidato competitivo contra o homem, o mito, o símbolo, a legenda. A oposição, no Brasil, tudo o mais constante, não conseguirá competir com Dilma Rousseff, cavalgando o Pégaso do crescimento de 1%. Uma coisa é questionar a pauta republicana; outra, distinta, e é este é cuidado que se tem de tomar, é questionar o direito de haver uma oposição.

2) falar em branco, negro, latino, judeu, católico, roxo, marciano no jogo político americano é parte do jogo, não se trata de ação afirmativa, mas do papel dos blocos raciais e étnicos em uma corrida eleitoral e no perfil dos partidos. E é isso mesmo: os alertas sobre o partido se tornar um enclave de brancos sulistas e rancorosos parte inclusive de republicanos (obviamente sem usar o termo rancoroso). O alerta é marcante entre eventuais candidatos presidenciais.
Sim, é parte do jogo, e eu seria a última pessoa a reclamar disso porque gosto de clareza no jogo político. Mas me parece desonesto intelectualmente — e não estou dizendo que Caio faça isto; sustento que há uma metafisica influente que o faz — que se exijam provas negativas dos republicanos: “Provem que vocês não estão fazendo o que fazem só porque Obama é preto”. Eis a prova impossível, não é mesmo, Caio?, já que o presidente não pode deixar de ser preto — na verdade, mestiço — por algum tempo enquanto se verificam a moral profunda e a pureza das ideias republicanas.

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O sistema não delegou ao Congresso a última palavra sobre o Orçamento prevendo que a questão pudesse ganhar uma coloração racial, Caio. O que veio depois não pode ser causa do que veio antes.

3) Curioso seu espanto com a expressão “jeca”, era típica do seu querido Paulo Francis, ao se referir ao casal Clinton, de Arkansas, das bandas de Okhaloma.
Sim, Caio, o meu querido Paulo Francis. Seu também, certo?

E, de fato, acho um atraso que setores de um dos dois grandes partidos ainda estejam discutindo teoria da evolução, aquecimento global (que não vejo desmentido no seu artigo) e variadas teorias conspiratórias (desde o nascimento queniano de Obama ao fascismo-comunismo de organizações multilaterais)
Abração, amigo Reinaldo, e beije minha querida São Paulo por mim, Caio
Eu não tenho competência técnica para desmentir o aquecimento global. Comecei a me interessar pelo assunto quando percebi que as previsões repetiam o Apocalipse de São João. Há gente muito mais competente do que eu que demonstrou a falência dos modelos teóricos, o que levou o “pensador de Gaia”, James Lovelock, a fazer o seu “erramos”.

Caio sabe que não entendo nada de aquecimento global, mas também sabe que Richard Lindzen entende muito. É professor de Meteorologia do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e já publicou mais de 200 livros e artigos científicos. Foi o líder do capítulo científico do Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC, de 2001. Resumiu tudo numa frase que me parece emblema destes tempos: “Al Gore acredita no aquecimento global porque as pessoas acreditam, e as pessoas acreditam porque Al Gore acredita”. Já escrevi alguns posts sobre ele. Aqui, há uma longa aula em que caracteriza devidamente a histeria. Lindzen não é de Oklahoma. Nasceu em Webster, em Massachusetts. Não sei se é republicano ou se era eleitor de Mitt Romney. Sua ciência não parece partidária.

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Há republicanos que debatem a origem queniana de Obama e outros que defendem o ensino do criacionismo? Há, sim. De saída, não dá para confundir isso com críticos sensatos das teorias do aquecimento global. Mas noto que não faltam esquisitices e particularismos também aos democratas, não é? A questão é saber se ficamos no mérito ou na caricatura.

Eu acho que o regime democrático está mais seguro com republicanos vigiando democratas (e vice-versa quando for o caso) e fazendo valer a sua maioria na Câmara para negociar, sem espaços para cooptação — ainda bem que não há Calheiros e Alves por lá. O fato de haver republicanos que defendem que se substitua Darwin por Adão e Eva — há democratas que acreditam nas virtudes criativas da maconha, e nem por isso são caracterizados como um bando de maconheiros — não muda as prerrogativas do Congresso.

O que eu estou sustentando é que, numa sociedade aberta, com a qual alguns obamistas parecem não se conformar (não é o caso de Caio), os antagonistas se entendem na defesa do regime. E só se pode ser um democrata realmente convicto porque há republicanos convictos.  O que repudio, meu amigo Caio, é que se tenha começado a considerar um defeito o que é uma virtude da política americana. Vício é o PMDB. Vício é uma oposição incapaz de dizer se é bola ou bule.

Tomo sempre cuidado para que não fique parecendo que os americanos têm o que aprender com Brasil em matéria de conciliação política. O Brasil só vai sair da lama quando aprender um pouquinho com os americanos o valor da convicção. Ou, daqui a pouco, vamos começar a achar que José Sarney e Renan Calheiros são, de fato, importantes para o Brasil.

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E eles não são. Qualquer “jeca” de Oklahoma defendendo o criacionismo faz menos mal à política americana do que Sarney defendendo Darwin…

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