Lacelotti, a blindagem e Edir Macedo
Reclamei, como sabem, do silêncio da imprensa sobre o caso Júlio Lancelotti. Hoje, é bem verdade, a Folha da uma pequena matéria, reportagem do jornal Agora. Diego Zanchetta informa que “a Polícia Civil vai investigar o contrato da ONG Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, gerenciada pelo padre Júlio Lancelotti, 64, com a Prefeitura […]
Ah, é muito pouco, não é? Não me refiro só à Folha, claro — ela ainda traz alguma coisa. No caso Henry Sobel, a esta altura do campeonato, fotografias do rabino com algumas figuras importantes da República já tinham sido publicadas. Ouviram-se especialistas a respeito. Ele alegou ter roubado as gravatas sob o efeito de remédios. Isso é mesmo possível?, queriam saber, ou ele só está buscando uma justificativa. Sobre Padre Júlio, nada! Silêncio. O homem chegou até a dizer que Jesus foi imprudente, como ele próprio. Para este gigante da Teologia, não faltou fé ao Nazareno, só um pouco de sagacidade. E ninguém lhe disse, nem mesmo a hierarquia católica: “Cale a boca, Júlio! Deixe de falar besteiras!”
Catolicismo do jornalismo? Nem pensar! Eu chutaria que 90% dos coleguinhas são anticatólicos. Eles até podem ter certa simpatia pela “esperteza” de Edir Macedo, mas pensam as piores coisas sobre o papa. Caso você se diga um, bem…, católico, a primeira coisa que lhes ocorre, ainda que se intimidem, é perguntar se você usa camisinha ou não faz sexo. Na cabeça de boa parte da imprensa, o bom catolicismo (o de Júlio…) se resume a proselitismo político, e o mau, a uma dieta sexual. Vale dizer: ou é uma ONG ou é papo de botequim. Júlio está sendo blindado é por conta de sua ideologia, não de sua crença. Até porque, está posto, a sua cristologia é a de um chimpanzé. Fosse um padre “de direita”, o homem já teria virado suco. Já teríamos lido ao menos uns 20 depoimentos de ex-internos da Febem. Cada frase do sacerdote seria submetida a um rigoroso escrutínio ideológico. Como é Lancelotti, ele pode negar a essência do próprio Cristo — cordeiro de Deus e, pois, destinado ao sacrifício, jamais por imprudência —, que não se diz uma vírgula a respeito.
Record
Leitores me perguntam por que tenho cortado comentários que tratam de reportagens da Record sobre o caso — uma delas, parece, de Paulo Henrique Amorim (ou coisa parecida). Porque o que me chegou não é jornalismo, mas proselitismo anticatólico dos mais vagabundos. No dia em que um mau católico me servir de pretexto para dar asas à Igreja Universal do Reino de Deus, comecem a duvidar da minha inteligência.
Não combato Asmodeu recorrendo a satanás. Não apelo ao chifrudo para defender as Santas Escrituras. Não combato o odor fétido da impostura com o enxofre do oportunismo. Até que Edir Macedo não diga de onde tirou o dinheiro para comprar suas emissoras de TV — e, quando ele disser, as concessões terão de ser cassadas —, não darei visibilidade a seu moralismo interesseiro e a sua teologia vagabunda. Como pode um cristão recorrer ao Eclesiastes, como ele fez, para justificar o aborto?
Assim, tirem o cavalo da chuva. Eu sou contra a blindagem de Padre Júlio Lancelotti e de Edir Macedo, faces do mesmo mal.