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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Haddad, pressionado por manifestantes que cercam a Prefeitura, dá piscadelas para a redução da tarifa. E eu lhes proponho uma pergunta fundamental

O Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), criou um tal “Conselho da Cidade”. Os seus conselheiros se aliaram ao Movimento Passe Livre e também querem que o prefeito revogue o aumento das passagens. Ele se reuniu nesta terça com representantes dos que se auto-outorgaram a condição de representantes do povo, e esses Marats da […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h59 - Publicado em 18 jun 2013, 19h25

O Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), criou um tal “Conselho da Cidade”. Os seus conselheiros se aliaram ao Movimento Passe Livre e também querem que o prefeito revogue o aumento das passagens. Ele se reuniu nesta terça com representantes dos que se auto-outorgaram a condição de representantes do povo, e esses Marats da catraca lhe disseram que não há negociação possível. Repetiram o mantra: ou a Prefeitura faz o que eles querem, ou São Paulo continua parada. E ponto final. Como lembra a professora Janaína Paschoal (ver artigo abaixo), essa geração de bravos só sabe ouvir “sim”. O prefeito piscou. No seu estilo cute-cute, firme, mas sem perder jamais a ternura, pediu socorro: “Se as pessoas me ajudarem a tomar uma decisão nessa direção [redução da tarifa], eu vou me subordinar à vontade das pessoas porque eu sou prefeito da cidade”.

Não entendi nada. Não sei quem são “as pessoas” às quais o prefeito se “subordina”. Aqui e ali, já se ouve um clichê tipicamente petista, ao qual o partido sempre apela: demonizar a dona Zelite — no caso, as pessoas que têm carro. Jilmar Tatto, secretário dos Transportes, diz que eles têm de subsidiar o transporte de quem não tem. O próprio prefeito fala que é preciso pensar com ousadia e lembra que sobretaxar automóveis — não fica claro de que imposto está falando — “dialoga com a questão ambiental”.

Um de seus conselheiros sugeriu aumento do IPTU. Uma outra esquisita propôs que se use o dinheiro das balas de borracha e do gás lacrimogêneo. Bem, meus caros, esse é o conselho que ele criou e os conselheiros que ele escolheu. Pessoas nessa função ajudam o governante a tomar decisões, certo?

Haddad, no entanto, tem um problema, e ele sabe disso. O Movimento Passe Livre, que caiu nas graças da imprensa e é aplaudido por tomar as ruas das cidades desde que não bata em ninguém nem quebre nada (o direito de ir e vir foi revogado), não pedem a simples suspensão do aumento. Para começo de conversa, os pensadores não querem mais aumento, nem agora nem nunca mais. É só a primeira fase da reivindicação. O objetivo é outro: zerar a tarifa; transporte gratuito para todos. Seria uma experiência inédita no mundo numa grande cidade. Se a gente tem jabuticaba e pororoca, por que não transporte gratuito?

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Haddad não sabe o que fazer, mas está em busca de fontes de financiamento. Jogando combustível nas fogueiras que o Passe Livre faz por aí, lembrou que, em alguns países — quais? — os empresários (???) respondem por 30% do custo do transporte; no Brasil, por apenas 10%. Não ficou claro do que falava, mas sempre parece ser uma boa ideia sugerir que empresários paguem mais por qualquer coisa, pouco importando que racionalidade econômica isso tenha. Sempre que empresas pagam mais por qualquer coisa, os preços das mercadorias que produzem ou dos serviços que oferecem viram a natural fonte de arrecadação do desembolso extra.

É evidente que essas hesitações e conversas frouxas alimentam o movimento. É inegável que a irracionalidade venceu o bom senso nessa questão. Torço, e vocês não sabem quanto!, para estar errado, mas, infelizmente, acho que não estou, não! O Movimento Passe Livre — e o que quer que ele represente — já venceu. Fica, assim, consagrado o “direito” de ir às ruas, de parar as cidades, de exigir do Poder Público isso e aquilo sem qualquer espaço para a negociação. A troca é esta: a Prefeitura revoga o aumento, e a gente respeita a Constituição. Então tá.

Neste momento, manifestantes que se concentravam na Praça da Sé se dirigem para a Prefeitura. Haddad se elegeu com o apoio do Movimento Passe Livre. Ouço daqui o buzinaço. A se dar crédito a setores da imprensa, no entanto, também esses que buzinam apoiam a reivindicação e os métodos de seus promotores. Certo!

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Tolice influente
Uma das tolices influentes que tomaram conta da imprensa é a tese de que se trata de um movimento espontâneo, sem comando, sem líderes, expressão do que seria a verdadeira democracia. Pra começo de conversa, fosse assim, poderíamos estar falando de qualquer coisa — até de volta ao estado da natureza — menos de democracia, que não existe sem a ideia da representação.

Não me encanta nem me seduz o fato de que partidos de extrema esquerda estejam sendo hostilizados. E daí? Nem tudo o que não é PSTU, PCO ou PSOL é bom ou desejável. De resto, há uma rejeição mais geral a partidos, a qualquer um; a instituições, a qualquer uma; às leis, a qualquer uma.

Aquele ninhal de “intelectuais” que dá plantão na GloboNews acha isso uma coisa realmente encantadora, nova, progressista, virtuosa… Deixo aqui para vocês uma reflexão — e voltarei ao tema na madrugada: numa sociedade em que os canais de interlocução não sejam mais, então, os partidos, as instituições e os Poderes Constituídos e em que tudo passa a ser permitido — desde que seja sem violência, claro! —, quem governa?

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Os que se encantam com esse tipo de coisa, vendo nisso uma sociedade mais democrática, mais livre e mais igualitária ou não aprenderam nada com a história ou, tendo aprendido, defendem um regime de governo que não é a democracia.

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